Em biologia o crescimento está relacionado ao aumento do tamanho do organismo e o desenvolvimento à capacidade de executar funções. Portanto, pode haver crescimento do organismo sem que haja necessariamente desenvolvimento do mesmo.
Na teoria econômica, crescimento também é diferente de desenvolvimento. Crescer é acumular riqueza, produzir mais e multiplicar o PIB. Desenvolvimento, porém, tem a ver com melhoria dos índices de IDH, com diminuição dos desníveis regionais e com distribuição equitativa de renda.
No que diz respeito ao homem o mesmo acontece, ou seja, todos, de uma forma ou de outra, crescem, mas poucos chegam a se desenvolver. Crescimento no âmbito humano, assim como nos outros organismos vivos e na economia, relaciona-se com aumento de tamanho e com acúmulo de riqueza.
Por exemplo, quando alguém diz que deseja crescer é no aumento das dimensões físicas e no poder aquisitivo que está pensando. Neste sentido, é correto dizer que é exatamente o desejo de crescer, a ambição doentia e a ânsia para possuir status social e riqueza que impedem o desenvolvimento.
Não há nada, nem mesmo nas ações mais altruístas do ser humano, que não revele a sua ânsia por dominar, abranger e acumular. A idéia de lucro e de domínio é tão forte e habita com tanta naturalidade o inconsciente coletivo que nada é considerado importante se estiver desvinculado da idéia de lucro. Êta capitalismo selvagem!
Duas semanas atrás ouvi um ambientalista desesperado em um programa no rádio querendo convencer as pessoas da necessidade imediata de proteger o meio-ambiente e em especial os corais que de acordo com o que ele disse é de suma importância para o bom funcionamento do ecossistema marinho.
Até aí tudo bem, não existe nada de mal, muito pelo contrário, em conclamar as pessoas urgentemente a preservarem o meio-ambiente. O problema é que a única maneira que o referido ambientalista encontrou para convencer as autoridades e a iniciativa privada a preservar a biosfera foi argumentando que espaço natural
preservado gera lucro e dá dinheiro.
Eis aí o grande problema de tudo o que existe no mundo contemporâneo capitalista, da economia à religião: até quando fazemos a coisa certa, fazemos pelo motivo errado. Mas por que será que as coisas são assim? Por que é preciso chamar à atenção para o lucro financeiro proveniente da preservação do meio-ambiente para despertar a consciência ecológica nas pessoas?
A resposta é: porque a nossa matriz cognitiva é defeituosa, o nosso molde de pensamento é imperfeito, a fôrma que multiplica as nossas idéias é mesquinha e equivocada.
O homem já nasce em um meio social cujo pensamento e as intenções estão totalmente corrompidos.
Somos revestidos desde criança com uma espécie de capa que nos envolve em pensamentos e projetos medíocres e impede a visão real das coisas. A sociedade molda-nos desde a mais tenra idade segundo os seus propósitos materialistas, egoístas e emocionalistas muito cedo.
Somos deformados desde a maternidade, passando pela família e terminando o processo de desnaturação no ensino formal. A concepção que nos ensinam quando criança sobre o homem e a finalidade da existência, a criação recebida nos lares e a educação nas escolas e universidades deformam-nos irreversivelmente, transformam-nos em “bebês chorões e egoístas”.
Marginais, estupradores, débeis mentais, psicopatas, anoréxicos, estelionatários, demagogos, líderes religiosos maquiavélicos e políticos corruptos são todos refugo e substrato de um processo constante de produção de seres alienados e perversos pela sociedade. “Somos quem podemos ser...” diz a letra de uma das músicas do grupo Engenheiros do Hawaí.
Tal e qual o fordismo, a sociedade contemporânea produz em série, mas não automóveis, e sim lixo humano. Basta observar os interesses e projetos das pessoas que nos rodeiam para constatar que na melhor das hipóteses elas são superficiais e limitadas pelos interesses banais do sistema instituído. Somos frutos da Matrix!
Há, porém, outro caminho que rompe com esse conjunto de coisas, que liberta o pensamento e as ações tornando-nos seres humanos na plena acepção da palavra. Esse caminho, entretanto, por não ser ordinário parece estranho a maior parte das pessoas.
Como começar a andar por ele? Respondo: não fazendo. Eis o primeiro passo para mudar: não fazer aquilo que todos fazem e que nós mesmos temos feito. Ou melhor, não é necessário apenas não fazer e sim não fazer pelos mesmos motivos que os outros fazem. A mudança começa em uma nova motivação.
O caminho verdadeiro é algo inabitual, é uma estrada ao lado da estrada, é um caminho dentro do caminho. Não é um atalho, é bom que se diga; é um caminho, mas um caminho escondido, oculto a maioria dos olhos exatamente porque é óbvio.
André Pessoa via Século XXI
0 comentários:
Postar um comentário