Na última semana, em entrevista ao programa global do jornalista Pedro Bial, a holandesa Zahira Lieneke, uma das mulheres presentes, denunciou o médium João Teixieira de Faria – o João de Deus – por abuso sexual.
João de Deus atua há mais de 40 anos fazendo cirurgias e outras ações de curas espirituais no município de Abadiânia, interior de Goiás. A Casa Dom Inácio de Loyola, onde os procedimentos são realizados, tornou-se mundialmente conhecida e recebe cerca de 10 mil pessoas por mês para tratamento.
Ontem, no programa Fantástico, outro grupo de mulheres veio a público para declarar que foram vítimas de abusos e estupros, supostamente cometidos pelo paranormal, entre os quais, um relato de quem foi abusada na adolescência. A situação tomou tal proporção que o Ministério Público, que apura o caso, já conta com mais de 200 pessoas que querem depor contra João de Deus.
Eu não sei se João é culpado, a polícia e a justiça devem decidir isso, mas se ele for condenado, eu posso afirmar, com convicção, que nele operou-se o mesmo princípio que opera em Lúcifer: a “Síndrome de Deus”.
As Escrituras não negam a existência da paranormalidade, há casos, tanto no Velho Testamento quanto no Novo, onde encontramos a liberação de poder sobrenatural através de magos, místicos, feiticeiros e paranormais, os quais operaram coisas extraordinárias, inclusive curas.
Portanto, sim, é dom de Deus, uma vez que, conforme Tiago: “Toda dádiva e todo dom perfeito vem do alto, do Pai das Luzes...”. Tg. 1:7. Paulo, complementando esse conceito, nos informa que “Os dons de Deus são irrevogáveis”, conforme Romanos 11:29, ou seja, o dom está na pessoa, mas pode ser usado, tanto para o bem, quanto para o mal, tudo é uma questão de consciência.
Assim, João, se culpado, é uma vítima de sua própria soberba, de um egocentrismo despudorado, pois, sendo usado por Deus, achou que em si mesmo pudesse haver tal poder sobrenatural, como se ele fosse a fonte primária dessas realizações. Ainda que recitasse, conforme relatos, que nada daquilo era feito por ele, no fundo, seu coração já havia se corrompido, era apenas um mantra psicológico, mas sem qualquer reverberação para a vida.
A verdade é que homem algum suporta existir no lugar de Deus, a glória de Deus é veneno para nós, mortais, o poder de Deus, mal utilizado, desconstrói nossas estruturas psíquicas e nos leva ao surto diabólico que produz o desejo de ser como ele é. Aí o indivíduo não teme mais nada, nem ninguém, está acima do bem e do mal, pode realizar qualquer coisa, transformar pedra em pão e subir no pináculo do templo, ele cura, ele salva, ele liberta, pois ele é Deus!
O capítulo 28 do Livro do Profeta Ezequiel nos revela essa fenomenologia associada ao rei de Tiro. Na metade do texto, todavia, faz um paralelismo com o próprio Satanás, mostrando-nos que o princípio que operava em um, é o mesmo que operava no outro. O resultado final, inexoravelmente, é a destruição do ser, a corrupção da alma e a desapropriação do coração, homens, mesmo sem perceber, podem transformar-se em diabos.
João, se culpado, esqueceu-se que, para quem é de Deus, não basta apenas fazer o bem, tem de faze-lo da forma certa, movido pelo amor, mas sem esquecer-se de cerca-se, por todos os lados, pela ética, pela verdade e pela justiça.
Esperemos, todavia, a comprovação dos fatos, aqui não há um juízo temerário, apenas a revelação da fenomenologia que já foi constatada em situações semelhantes (só neste ano, Maury Rodrigues da Cruz e Sri Prem Baba).
Desta forma, se culpado, “João sem Deus”, mais do que nunca, precisará da misericórdia de Deus, pois, na medida em curou milhares, adoeceu e feriu a outros tantos. O perdão do Pai, certamente, não lhe faltará, mas o castigo e a justiça dos homens, todavia, não lhe serão negados
Carlos Moreira
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