A religião precisa do método para se sustentar. Sim, sem regras, sem obrigações, sem liturgias ordenadas, o religioso entra em pânico, sente-se sem chão, vê-se nu e em pecado.
Ora, nós sabemos o quanto o Evangelho de Jesus chocou os Fariseus justamente por isso, pois as leis judaicas, em número de 613, acrescidas das tradições dos anciãos, que podiam até dobrar esse número, se constituíam o manual de conduta daquela gente, o método que disciplinava e ordenava a vida do fiel.
Aí veio Jesus, falando de liberdade e de consciência, e reduziu mais de 1.000 preceitos legislativos em apenas dois: amar a Deus e ao próximo. Foi fatal! A crentaiada entrou em pânico! Para eles, viver de forma tão simples e leve revelava-se absurdo, era preciso submeter à existência aos rigores assépticos, as lavagens litúrgicas, aos sacrifícios purgatórios, as orações repetitivas, aos jejuns despropositados e as ofertas, em forma de dízimos, desprovidas de compaixão.
Na verdade, o Galileu bagunçou o quengo da moçada, propôs o Caminho da Consciência do Evangelho, onde não há lugar sagrado, nem dia sagrado, nem sacrifício sagrado, nem homem do sagrado, e com isso pôs fim, de uma feita só, no templo, no sábado, na intermediação dos sacerdotes e na oferta de cordeiros e pombas.
O Evangelho é um convite a quebrar as regras da religião para nos levar a liberdade de ser em Deus, ele nos tira do fordismo metódico e industrializado da igreja, para nos propor a Lei do Espírito e da Vida, que nos faz seguir pacificados e perdoados, sem pesos e sem demandas.
É simples assim, mas o Cristianismo não suportou nada disso, colocou de volta no velho odre da religião o vinagre do judaísmo repaginado com uma pitada de platonismo e a lógica do sistema grego de Aristóteles.
A partir daí, construiu templos, para congregar os "santos", ordenou Papas e Padres, para ministrar sacramentos, santificou o domingo, para o "culto" a Deus e reconstruiu as pesadas liturgias "sagradas", para metodizar a fé, pôs “ordem” na “desordem” proposta por Jesus.
Quando olho para tudo isso, dá certa tristeza, vê no que foi reduzida a fé de muitos, perceber o quanto a religião escraviza o indivíduo com ordenanças sem fim... Mas fazer o quê? Para quem o “Está Consumado!” não basta, o que sobra é viver com o “Estou Sufocado!”. Agora durma com um barulho desse...
Carlos Moreira
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