Quanto mais a igreja foi se afastando do “Movimento do Caminho”, registrado em Atos dos Apóstolos, tanto mais foi se transformando em uma organização. A singeleza da fé e a simplicidade da vida foram dando lugar a doutrinas sofisticadas, criadas por uma necessidade apologética a partir do II século, e também a estruturas mais robustas, decorrentes da estatização da igreja por Constantino no IV século, o que desembocou, dentre outras coisas, no complexo compêndio litúrgico e na burocratização clerical.
A igreja medieval se desenvolveu como uma poderosa organização. A figura Papal era uma símile dos Reis da Europa, não só no uso dos símbolos – mitra/coroa, cátedra/trono, anel do bispado/anel real, báculo/cetro – mas também como establishment do empoderamento religioso, a representação de uma potestade terrena e espiritual, uma instância de poder travestida de inerrância e sob a delegação do próprio Deus como Seu representante na Terra.
Na idade moderna, sob o zeitgeist da Revolução Industrial, a Igreja Católica já se apresentava como uma organização muito bem estruturada. Segundo Leon C Megginson, professor de marketing na Universidade de Baton – EUA, a “Representante de Cristo”, por ter de lidar com uma expansão mundial, precisou desenvolver processos administrativos para manter “íntegra” a sua missão. O uso de métodos e diretrizes, associados a uma robusta estrutura organizacional, fez com que a igreja influenciasse, positivamente, a administração e a gestão modernas. Fantástico!
E assim, com um brevíssimo resumo de 20 séculos de história, já é possível perceber de onde vêm termos bastante utilizados no meio religioso, tais como: “ministério de evangelização”, “departamento infantil”, “presidente da denominação”, “líder do louvor” e “tesoureiro”. Sim, há igrejas que mais se parecem com uma empresa varejista! A fé é o negócio, a catedral ou o templo central é a holding, as demais igrejas são as distribuidoras, o produto é Jesus, o mercado é o mundo e os crentes são os profissionais da religião trabalhando ativamente em prol deste grande business! Quem lucra com isso? Ora, Deus! Será? ...
É fácil observar como muitas igrejas se estruturaram para arregimentar e envolver pessoas no negócio da fé. A pirâmide eclesiástica desperta interesses e vaidades e promove, como em qualquer outra organização, lutas pelo poder, políticas perversas, conchavos, inveja, ciúmes, toda sorte de mal. Envolto nestas circunstâncias, numa ambiência altamente competitiva, um crente pode até não se dar bem na sua profissão, pode não ter um título universitário, mas, na igreja, terá a chance de se “destacar”, ser um pastor, um diácono, um professor da escola bíblica ou ainda o supervisor de uma região! Requisitos? Na esmagadora maioria dos casos: tempo de “casa”, “dons do Espírito Santo”, submissão à liderança e a doutrina, “boas” relações e uma ajudinha dos “céus”...
Toda essa engrenagem, regada a programas e atividades dos mais diversos, funciona perfeitamente. É bem verdade que ela desestimula o serviço abnegado, o cuidado com os necessitados, o lavar os pés dos irmãos... É que o marketing religioso vive do fomento da personalidade, cria iconoclastias institucionais, alça indivíduos ao palco da igreja-teatro, onde o culto se torna show da fé e a pregação do Evangelho apenas um programa a mais.
Confesso que, mesmo sem muita esperança de produzir resultados, mas apenas para lembrar, em Jesus, e no Evangelho, o maior é o que serve, a grande fonte de lucro da piedade é o contentamento, juntos, fomos chamados a ser Sacerdotes, e por isso, não há gregos, nem judeus, nem homem, nem mulher, todos, Nele, são um, e convém, a despeito de qualquer outra coisa, que apenas Ele cresça e seja glorificado. E é assim porque o Senhor Jesus se despiu de Sua majestade, esvaziou-se a Si mesmo, assumiu forma de homem e veio servir e morrer em nosso lugar! É simples, não? Mas, se você não entender, posso fazer um Power Point e te enviar. Coisas da modernidade...
Carlos Moreira
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