Casamento, conforme as Escrituras, não se faz nem no cartório, nem na igreja, casamento não é nem civil, nem religioso, não é nem pagão, nem cristão.
Casamento é encontro de propósitos, é consciência apaixonada, é latência do coração enternecido, são olhos que se encontram, bocas que se tocam, abraço apertado, química de sentimentos e mistério insondável.
Casamento é, antes de qualquer coisa, uma união de espírito, homem algum pode celebrar isto, papel nenhum legisla no sagrado da alma de duas pessoas que desejaram se dar por inteiro, uma a outra, sem que nada os sequestre desta entrega despudorada, insana e intensa.
Casamento é abrir mão, é dar prazer, é dar-se de si, do melhor do que se tem, é alegria na alegria alheia, é sofrimento conjunto, é partilha da dor, é lágrima que semeia esperança, e carinho que afaga a pele e faz molhar até as entranhas do ser.
Por favor, não me chame para lhe casar, nem me faça propostas para celebrar suas núpcias com as pompas deste tempo presente, nesta sociedade das aparências, com todos os requintes da festa que acontece do lado de fora, mas que não se projeta para dentro por total falta de entendimento do que se está fazendo.
Não, eu não sou contra a celebração, mas sou contra toda comemoração que aconteça apenas para os holofotes da sociedade, e não parta das dinâmicas que acontecem nos ambientes interiores, onde apenas Deus pode, de fato, fazer soar a música e brotar a alegria.
Ora, eu penso que quando esses pressupostos não se estabelecem como verdade e fé, de tal forma que o que se exteriorize seja apenas a significação do que já acontece no íntimo do ser, o que está sendo feito é apenas uma encenação social.
Portanto, é um enorme equívoco acharmos que algo possa ser sagrado sem proceder do coração, pois sagrado é tudo aquilo que reverencia a Deus no íntimo, e vaza pela vida em expressões de amor e gratidão. Tudo o mais é liturgia oca e sem propósito, é apenas o badalar do címbalo que retine, mas que não produz música para acalentar a alma, nem o prazer desejoso e amante que apaixona os apaixonados.
E assim, eu vos digo, casem-se sem “casamento”, para que seja possível viver junto até o outono dos dias, para que eu não tenha que declarar a confissão litúrgica requintada: “Eu vos declaro marido e mulher até que o casamento os separe”...
Carlos Moreira
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