Eu
acho curioso quando pessoas ligadas à religião tentam patentear Deus. Sim, eles
querem um deus domesticado, alguém que siga conceitos teológicos pasteurizados,
costumes dietéticos, um deus que se submeta a convenções, que siga liturgias,
que cumpra agendas, que consiga ser explicado, ainda que não possa ser
compreendido.
Olhando
esta geração, e conhecendo a história do cristianismo, penso que chegamos à
última fronteira, não posso conceber algo pior. A igreja contemporânea tornou a
idade das trevas medievais um parque de diversões. O que se faz hoje, em nome
de Deus, reduziu a inquisição e as cruzadas a histórias de jardim da
infância.
No
Brasil, o fenômeno religioso-cristão é passível de estudo. Ainda que templos e
catedrais estejam lotados, as manifestações de fé são cada vez mais
patológicas. A quantidade de gente adoecida por causa de crenças perversas e
infundadas é alarmante. A religião tem esse poder: quando não sara a
consciência, adoece todo o resto. Se Marx fosse vivo, diria que esse tipo de
prática é o “Rivotril do povo”.
O
cristianismo brasileiro é, na verdade, uma hidra com muitas cabeças. A igreja
de Roma tenta sobreviver à secularização, busca de todas as formas preservar
heranças moribundas das práticas ibéricas que submergiram no Velho Continente.
A igreja Protestante, por outro lado, é a expressão da perversão, resultado da
alquimia que simbiotizou doutrinas judaizantes, positivismo filosófico, costumes
das religiões Afro e o pentecostalismo americano do início do século XX.
Exceções? Sim, existem, mas pouquíssimas!
Diante
deste cenário, resta-nos perguntar: o que nós podemos fazer? Bem, penso eu,
nada. Não creio que ação de homem algum, ou de instituição, doutrina,
ideologia, métodos ou qualquer outra coisa seja capaz de alterar a situação. A
solução não está no que se pode fazer, a partir da Terra, mas do que já está
sendo feito, a partir dos Céus! Sim, Deus está se movendo há tempos, nós é que,
talvez, ainda não tenhamos discernido.
Um
bom observador, contudo, vai perceber que estamos diante de algo muito próximo
ao que aconteceu nos dias de Jesus. Naquele tempo, a religião de Israel adoecera de morte. As práticas eram lesivas, o sacerdócio havia se transformado em
exercício político, a interpretação da Lei era tendenciosa, o Sinédrio estava
corrompido, a fé havia se dessignifcado. A corrupção era tal que o lugar da
adoração transformou-se em centro de comércio, impulsionava a Nação. Nada do
que se fazia ali tinha significados para Deus, até o perdão tornara-se negócio,
era vendido e comprado por preço. Tudo tão semelhantes aos nossos dias...
Mas Deus tinha seus próprios planos. Ele irrompeu as tradições, desprezou geografias pseudo-sagradas, ignorou hierarquias, sublevou interesses e enviou João, o batista, para o deserto. Lá, ele pregava o arrependimento e conclamava o povo a mudança de vida, afirmava que o Reino de Deus estava próximo, Reino de consciência e fé, não de aparência e opulência.
Mas Deus tinha seus próprios planos. Ele irrompeu as tradições, desprezou geografias pseudo-sagradas, ignorou hierarquias, sublevou interesses e enviou João, o batista, para o deserto. Lá, ele pregava o arrependimento e conclamava o povo a mudança de vida, afirmava que o Reino de Deus estava próximo, Reino de consciência e fé, não de aparência e opulência.
Na
verdade, o Senhor sabia que Anás e Caifás não se converteriam, que Herodes não
se renderia a Graça, nem tão pouco o Sinédrio se sensibilizaria ao Evangelho. Por
isso João foi enviado ao deserto, sem Templo, sem utensílios sagrados, sem os
rolos da Torá, sem lugar para sacrifícios, sem liturgias, sem levitas, sem nada
que não fosse o Espírito Santo, a Voz do que clamava no deserto! Nós sempre
imaginamos que a solução para tudo está do “lado de dentro” da igreja, mas
Deus, não raro, começa agindo no deserto, do “lado de fora”!
Dali
por diante, quebrados os paradigmas, o Galileu foi “destruindo” o que encontrou
pela frente, mitos foram caindo, um por um. Ele afirmava as multidões:
“Ouvistes o que foi dito aos antigos...” e expunha os preceitos caducos da Lei.
Em seguida, todavia, afirmava com autoridade: “Eu, porém, vos digo...”, e dava
novo significado a tudo. Com leveza, o Evangelho foi sendo fecundado no coração
das pessoas e os simples de coração puderam entendê-lo.
A
igreja cristã brasileira pensa ser proprietária da fé em Jesus. Católicos e
Protestantes se arvoram como legitimadores do Evangelho. Trancafiados em suas “gaiolas”,
imaginam que o Senhor juntou-se a eles. Engano. Deus é claustrofóbico! Saiu da
“arapuca” faz tempo. Aqueles que ainda enxergam e são honestos sabem que o
“sistema” está condenado! Sim, há muita gente boa na Instituição-Igreja, gente
de Deus, mas a luta deles é inglória, não há como salvar aquilo que já nasceu
condenado. A igreja de Jesus triunfará! A dos homens, não...
É
tempo de perceber o que o está acontecendo! Milhares começam a surgir, de todos
os lugares, filhos da Esperança e da Graça, e esses não estão vinculados a
nada, são apenas pessoinhas do bem, gente de coração singelo e boa consciência,
sem tradições, sem liturgias, credos ou dogmas. Eles vão por aí, estão em
pequenos grupos, em ajuntamentos informais, comunidades livres, partem o pão,
falam com Salmos, sensibilizam-se com as dores das pessoas, comprometem-se com
ações que promovam a dignidade humana e a preservação do Planeta.
O
que posso lhe dizer, depois destes mais de 30 anos caminhando com Jesus, é que
“O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem
para onde vai”. Há, novamente, muitas vozes que clamam no “deserto” e elas
estão anunciando o arrependimento e a Salvação. Algo está se movendo, cada vez
mais veloz, o Vento está soprando, livre e leve, portanto, discirna para onde
está indo e siga junto com ele.
©
2015 Carlos Moreira
Outros
textos podem ser lidos em http://anovacristandade.blogspot.com
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