Perder uma semi-final de Copa do Mundo, com um time em condições de disputar a final, não é uma coisa boa. A Holanda encantou a todos na primeira fase, sobretudo na goleada contra a Espanha, mas decepcionou na fase do mata-mata, indo para os pênaltis nos dois últimos jogos. Está fora da final.
Imagino ser frustrante para a Holanda chegar sempre muito perto e perder. Eles foram finalistas 3 vezes e nunca conseguiram um título. Com a “tragédia” do Brasil, eu estava torcendo pela “Laranja”, pois acho justo que eles entrem no seleto clube dos Campeões Mundiais, mas, infelizmente, não deu. A Argentina ganhou nos pênaltis e vai para o Maracanã.
O mais triste desta história, contudo, não foi a perda do jogo, mas a perda dos significados do jogo. O técnico Van Gaal, que se destacou durante toda a competição, não só pela boa equipe que formou, mas também por declarações polêmicas, fechou ontem com “chave de ouro” sua participação na semi-final afirmando, sobre a disputa do 3º lugar com o Brasil, o seguinte: “Esse jogo nunca deveria ser disputado, já disse isso há 15 anos. Mas não há o que fazer, teremos que jogar".
Na verdade, a fala de Van Gaal carrega o inconsciente coletivo desta geração, onde apenas vencer importa, onde só há reconhecimento para os “campeões”, para os que atingem o lugar mais alto do pódio. Participar, competir, celebrar a alegria entre as nações, confraternizar os povos, nada disso interessa nem a Van Gaal, nem a FIFA, nem as Seleções, os jogadores, ou a grande maioria dos torcedores.
Não me deixa mentir a seleção de Gana, que recusou-se a jogar se não recebesse em dinheiro o prêmio pelas partidas disputadas e pela classificação. A mensagem foi enviada ao mundo inteiro: Gana só joga com Grana! Apego a camisa, amor a bandeira, ética desportiva, consciência profissional, nada disso. O negócio é faturar, é ser exposto para a mídia, é alavancar contratos milionários, tudo gira em torno do sucesso e do dinheiro.
Eu fico triste pelo que vejo e mais decepcionado ainda porque sei que o problema não é a Copa do Mundo, com seus bastidores sujos e sórdidos, mas aquilo que o homem contemporâneo carrega como verdade no ser, como valores e princípios para a vida. Esse é um tempo de muitos carismas e pouco caráter, de aparências reluzentes e consciências pálidas e apáticas.
Sábado, vou torcer pelo Brasil. Sim, o 3º. lugar será um prêmio e um consolo para a torcida que ama o futebol e entende sobre competição. Se não der para passar pela Holanda, que venha o 4º. lugar, com dignidade e honradez. Quanto a Van Gaal, seja qual for o resultado da partida, ele já perdeu. Sim, perdeu dentro e fora do campo, no futebol e na ética, perdeu no jogo da copa e perdeu no jogo da vida.
Carlos Moreira
Recife, 10 de julho de 2014
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