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12 outubro 2011

O Luto de Eli


A última moda agora é falar em sustentabilidade. Trata-se de um “conceito sistêmico relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana”.

A sustentabilidade, fundamentalmente, visa preservar a biodiversidade e os ecossistemas. A tecnologia deve ser sustentável, o desenvolvimento econômico precisar ser sustentável, as empresas buscam ser sustentáveis, e por aí vai... Uma coisa, entretanto, não tenho ouvido falar nestes dias: famílias sustentáveis.

Como pastor, tenho aconselhado em média 15 pessoas por semana. É uma rotina difícil e desgastante. Diferentemente dos profissionais da saúde, que fazem escuta terapêutica e são treinados para ouvir dramas e não se envolver com eles, pastores sofrem junto com as pessoas, choram com os que choram.

Neste contexto, impressiona-me a quantidade de gente que carrega problemas que foram se complexificando desde a infância. As questões são as mais diversas, porém as mais freqüentes estão relacionadas à auto-imagem, insegurança, baixa auto-estima, auto-sabotagem, além de transtornos ligados à orientação sexual e a afetividade.         

Em um “recorte” de recente artigo da revista “Filosofia e Psicanálise” o psicanalista francês Charles Melman afirmou: “pela primeira vez na história, a instituição familiar está desaparecendo, e as conseqüências são imprevisíveis. Impressiona que antropólogos e sociólogos não se interessem por isso”.

Surge, então, a questão: como está a sua família? Você acha que ela é sustentável? Sua casa é um ambiente saudável ou insalubre? Como estão seus filhos? Eles estão crescendo de forma equilibrada: física, emocional e espiritualmente?

Hoje é dia das crianças, mas, sinceramente, muitas delas não têm o que comemorar. Seus pais são personagens ausentes, transeuntes insensíveis e inafetivos que circulam pelos corredores das casas em que elas habitam. Estão sempre sobrecarregados, suas agendas são intermináveis, não dispõem de tempo para amá-las, orientá-las ou brincar com elas. Estes "afazeres" são delegados as babás, a escola, a igreja e, pasmem, aos programas de TV!  

Por que você honra seus filhos mais do que a mim...?”. 1 Sm. 2:29. Esta afirmação contundente foi feita pelo próprio Deus enquanto arrazoava com o sacerdote Eli pelo fato dele negligenciar a educação dos filhos. Apesar de ser um “homem do sagrado”, Eli fez vista grossa para o que acontecia bem debaixo de seus olhos, pois seus dois filhos, Hofni e Finéias, além de se prostituírem a porta da tenda da congregação, ainda profanavam as ofertas e sacrifícios que eram oferecidos ao Senhor tomando parte deles para consumo próprio.    

A conseqüência de tamanha licenciosidade foi desastrosa: “E isto te será por sinal, a saber: o que acontecerá a teus dois filhos, a Hofni e a Finéias; ambos morrerão no mesmo dia”.

As Escrituras afirmam que “os filhos são herança do Senhor”. Eles são a melhor coisa que um homem ou uma mulher podem ter sobre a Terra. Podem trazer muita alegria, ou nos fazer amargar de tristeza; tudo depende de como estão sendo criados.

De uma coisa, todavia, estou convencido: “nossos” filhos não são nossos, são do Senhor! Ele nos delegou a responsabilidade de cuidar deles de tal forma a sermos referência em tudo em suas vidas. Se não os educarmos e não lhes transmitirmos os valores do Evangelho, Deus certamente cobrará de nós o destino que eles terão debaixo do sol.

O que aconteceu aos filhos de Eli foi trágico. Desgraça ainda maior sucedeu a sua descendência: “eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais ancião algum em tua casa. O homem, porém, a quem eu não desarraigar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e toda a multidão da tua casa morrerá quando chegar à idade varonil”.      

O luto de Eli durou pelo resto de sua vida. Ele fracassou na mais importante tarefa que um ser humano pode ter: edificar a sua própria casa. Hoje, dia das crianças, quem brinca são elas, mas nós, adultos, devemos refletir seriamente sobre como as estamos criando, pois chegará o tempo em que a brincadeira se acabará, o que sobrará será apenas a vida real. Por isso, lembre-se do que citou Pitágoras: “corrija as crianças e não será necessário castigar os homens”.

Carlos Moreira

1 comentários:

Dia das crianças muitas vezes é o dia em que os pais dão aquele presente caro para suprir a ausência deles. Não raro, quanto mais caro, mais vemos o quanto existe de ausência, talvez como uma forma de remorso, aí compram um presente bem caro.

O mesmo ocorre com outras datas, como dia das mães. Os restaurantes lotam, confesso que tenho até pena quando vejo uma mãe, muitas vezes idosa, ficar naquela fila imeeeeeeeeensa do restaurante com os filhos para "comemorar" o dia dela (que só nesse dia ela é lembrada). Acho que muitas mães nem devem gostar desse dia só de pensar no quanto vão ficar em pé na fila para entrar no restaurante...

A questão da sustentabilidade, família...Embora eu seja mulher, seja favorável a ela ter sua independência financeira, sei que muitas crianças têm sido educadas por babás, já que pai e mãe possuem uma rotina de trabalho muito extensa para dar o "melhor" para o filho...

Patrícia

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