Faz 30 anos que conheci a Jesus Cristo, mas só há 10 atuo como ministro ordenado. Para entrar para o “seleto” grupo dos clérigos da igreja, tive de ir ao seminário teológico onde passei 4 anos estudando.
Quando estava no meio do curso de teologia, achei que aquilo lá não iria ser tão útil quanto eu, inicialmente, imaginava. Foi aí que comecei, paralelamente, o curso de filosofia. A princípio minha cabeça “ferveu” um pouco, pois enquanto o “teólogo” tem sempre respostas para tudo, o “filósofo” persegue implacavelmente as perguntas. Depois de certo tempo, ambos acabaram se harmonizando em mim... Hoje convivem em paz.
Como sempre fui um leitor contumaz das Escrituras, não passei por nenhum tipo de crise, nem num curso nem no outro. Minha fé já estava bastante alicerçada quando parti para aprofundar meus conhecimentos. Sei que muita gente afirma ter “surtado” quando se deparou com certas questões, sobretudo no seminário, mas comigo isso jamais aconteceu. Durante algum tempo pensei que era algum tipo de anormalidade. Depois, descansei...
Eu aprendi muita coisa interessante nestes últimos 5 anos. Li bastante, sobretudo os clássicos de ambas as disciplinas. Mas para você, jovem pastor, ordenado ou não, membro ou não de alguma instituição religiosa, que recebeu sucessão apostólica ou não, que foi ou não ao seminário, mas você, que cuida de gente, abre a sua casa, sacrifica sua agenda, reparte sua vida, esforça-se para servir a outros, tenho 4 coisas a lhe ensinar. Aliás, estas são as 4 coisas mais importantes que eu aprendi até agora no exercício do ministério pastoral.
A primeira é que você precisa aprender a dizer NÃO. E por que digo isto? Porque pastores normalmente são vistos como seres que não possuem suas próprias demandas, ou seja, nós não podemos nos sentir cansados, sobrecarregados, deprimidos, aflitos, desestimulados. O pastor tem sempre que estar sorrindo, ser uma benção, um exemplo de fé, de renúncia, de coragem. A esposa do pastor tem que ser quase uma “virgem santa”, ela tem de agradar a igreja inteirinha, e os filhos do pastor, ai meu Deus, tem de se assemelhar a anjinhos de presépio.
Pois bem, se você aprender a dizer não, você vai mostrar para a igreja que você não irá viver uma farsa, que você não está disposto a “pagar” esse “custo” existencial nem ministerial, que não raro você também enfrenta os mesmos problemas que qualquer um dos membros que lhe procura solicitando ajuda. Sim, se você é alguém normal, e não incorporou ainda o “espírito” do super-pastor, você pode, e deve, em diversas situações, dizer não!
Outra coisa fundamental no seu ministério será você aprender a dizer NÃO QUERO! É muito comum pastores que depende financeiramente da igreja ter de se submeter a tudo que os membros desejam. Desta forma, o pastor torna-se refém da membresia, não tem autonomia nem mesmo para pregar com liberdade e ousadia aquilo que Deus coloca no seu coração.
Isso, convenhamos, é muito triste, pois, com medo de faltar os recursos necessários para manter sua família, os quais podem ser abruptamente cortados pela junta, conselho, presbitério, diocese – isso varia de acordo como o tipo de governo da igreja – o pastor acaba tendo de fazer o que chamo de “pregação cotonete”. Trata-se de um tipo de mensagem que possui grande poder de fazer cócegas nos ouvidos da igreja, mas isso é tudo que ela produz. Se você aprender a dizer NÃO QUERO, ou a igreja vai lhe botar no olho da rua, o que fará com que você viva em paz com sua consciência, ou ela aprenderá a ouvir aquilo que precisa, e não o que deseja.
Em terceiro lugar, quero lhe ensinar algo preciosismo: comece a dizer NÃO POSSO. O ministério pastoral é um dos trabalhos mais desgastantes que existe. Eu sou empresário há 15 anos, estou acostumado com árduas jornadas de trabalho, viagens, reuniões, etc. Mas um pastor não tem vida! Ele tem de visitar, batizar, casar, enterrar, aconselhar, animar, ensinar, pregar, evangelizar, são tantos “....ar”, que não sobra tempo para você ter vida! E não sei se você já percebeu, mas você precisa de uma...
Por isso, querido pastor, aprenda logo a dizer: “infelizmente, eu “NÃO POSSO” fazer isto. Para tal, mantenha uma agenda atualizada, separe tempo para as tarefas do ministério e para as outras coisas também! No meu caso, eu possuo trabalho secular, mulher, filha, necessidade de lazer, de cuidar da saúde, e não poderei fazer essas coisas se tudo o que me pedirem eu me comprometer a realizar.
Finalmente, mas não menos importante, aprenda a dizer “NÃO SEI”! Todo pastor imagina ser um compendio de informações bíblico-teológicas, uma espécie de Google Evangélico. Ele pensa que tem de ter respostas exatas para todas as questões da vida cristã, que precisa saber decorados todos os versículos, as doutrinas, credos, confissões, a história da igreja, a teologia sistemática, a escatologia, e todas as outras “...gias” que existem no ministério.
Meu querido, simplifique as coisas para você e para a sua congregação: diga a maravilhosa e ungida frase: “NÃO SEI”! Com isto você irá poupar as ovelhas de Jesus Cristo de ouvirem respostas bizarras, interpretações mirabolantes, desculpas esfarrapadas, exegeses de 5ª categoria, uma hermenêutica que beira as bordas do inferno. Experimente ser alcançado pela maravilhosa paz que recai sobre o ministro de Deus quando ele diz: “NÃO SEI”! Aleluia!
Existem muitas outras coisas que são úteis ao ministério, mas estas você deve aprender nos livros de teologia. Elas servirão para muito pouca coisa, mas é bom que você as conheça. Contudo, com estas 4 que eu acabei de lhes ensinar, vocês poderão não ser um grande “sucesso” ministerial, mas terão uma vida para viver com Deus e com o rebanho que a Ele pertence e lhes foi confiado. Sim, creio que vocês viverão com a alma pacificada, o coração agradecido e o espírito quebrantado. O que mais vocês desejam?
Carlos Moreira
Carlos Moreira
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