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22 agosto 2011

Cenários


Quando nós não percebemos para quê existimos e porque estamos em um lugar e não em outro, não enxergamos um palmo a nossa frente. Ver é mais do que enxergar!


Se nos tornamos conscientes do caminho que devemos percorrer saberemos também que tudo na estrada não passa de cenário. Não se deve perder tempo com os cenários e sim com a história que neles se desenrola.


Agora mesmo muitos estão olhando maravilhados para a grande cidade cenográfica que é o mundo a nossa volta. Nem desconfiam que nada é o que parece ser; os materiais dos quais as coisas são feitas não são exatamente o que julgamos ser.


Os viajantes se perdem porque atentam para a paisagem esplendorosa e não para os papéis que devem desempenhar. Quem olha deslumbrado para o azul do céu acima de sua cabeça acaba caindo no despenhadeiro logo abaixo dos seus pés!


Contudo, os cenários também têm importância para aqueles que participam da cena. Eles também servem para nos lembrar quem somos; eles trazem de volta à nossa mente a lembrança do nosso papel.


A árvore balançando, o corpo estendido na beira da estrada, a palavra dita irrefletidamente; tudo nos lembra de nós mesmos e nos faz voltar ao caminho. Não se deve parar para apreciar demoradamente a paisagem, mas é imprescindível olhá-la e seguir em frente.


O mundo tem duas grandes funções: nos iludir e nos alertar. Ilude-nos quando canta como fizeram as sereias tentando atrair Ulisses que precisou amarrar-se no mastro do navio, e nos alerta quando nos sorrir com os dentes brancos que são característicos do diabo.


Agora mesmo eu estou em um lugar fútil, barulhento e cheio de vidas vazias. Eu deveria lamentar por estar aqui, mas não posso, pois se trata apenas de um cenário. Um desprezível cenário!


Todos os dias pessoas com gestos desconexos e andando de um lado para o outro inconvenientemente são levadas para longe das cenas. Elas estão perdidas, daí destoarem do enredo, não se coadunarem com a cena.


Isso me faz lembrar que a morte nada mais é do que o contra-regra que toma pelas mãos e leva para longe aqueles que não compreendem os seus papéis, ou que concluíram a última fala que lhes cabia. A morte é sempre a experiência derradeira no palco da vida!


Os cenários mudam, mas o nosso caminho é sempre o mesmo. Mudam sim as veredas, as estradas, mas não o destino. Chegaremos onde nos está proposto chegar, apenas lá e nunca em outro lugar. Enquanto isso, caminharemos por entre muitos cenários.

André Pessoa via Século XXI

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