“Muitas
pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos
quarenta”. Albert Camus.
A
imortalidade e a eterna juventude são sonhos míticos da espécie humana. A
procura da fonte da juventude é assunto desde os mais antigos escritos. Por
outro lado, o fenômeno da velhice, estudado e constatado de forma
sócio-histórica e psicológica, está presente em todas as épocas e lugares,
fazendo parte da evolução das civilizações.
A
velhice, já está mais do que provado, possui associada a si o componente
preconceituoso e estereotipado de uma fase do desenvolvimento humano marcada
por acontecimentos negativos e fatos indesejados. A verdade é que ninguém quer
envelhecer. Mas, felizmente, ou infelizmente, envelhecer não é uma opção, mas
um destino. Como escreveu Goethe: "A idade apodera-se de nós de
surpresa".
Tenho
ficado impressiona ao ver o que muitos tem feito para evitar a velhice. Algumas
destas coisas, inclusive, beiram o absurdo. Estamos na era da imagem. Ela está
na TV, no computador, no celular, no cartaz, na revista, no letreiro... Em todo
canto, para onde nos viramos, tem uma imagem. Você já ouviu a expressão “sair
bem na foto”? É a tônica dos nossos dias. Não importa quem você é, o que você
faz ou como você vive, o importante mesmo é “aparecer bem na foto”. O resto
disfarça-se, pois é melhor parecer ser, do que ser de verdade.
Mas
o tempo é inexorável, ou como disse Ovídeo, é o “devorador das coisas”.
De que então ele nos serve? Qual o seu propósito na existência? Terá ele apenas
esse mórbido prazer de nos mostrar que já não somos mais o que um dia fomos?
Talvez... O tempo faz destas coisas, pois “o que o ele trás de experiências
não vale o que leva de ilusões”. Jules Petit-Sen.
Pois
bem, tratando desta questão, acabo me lembrando de dois textos das Escrituras
que me servem muito bem como exemplo. O primeiro é Atos 7:58, que diz: “E,
lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes
aos pés de um jovem chamado Saulo”; e o segundo é Filemom
1:9: “prefiro, todavia, solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até prisioneiro de Cristo Jesus”. Entre o “jovem Saulo”
e o “velho Paulo”, uma história de vida surpreendente e, em cada pedacinho
dela, a força irresistível e inexorável do tempo.
Paulo sempre me fascinou. O “jovem Saulo” me assusta, mas o “velho
Paulo” me inspira. Entre um e outro a maravilhosa obra que o Espírito Santo
realiza na existência daqueles que desejam se parecer com Jesus, cumprindo assim o
propósito de Deus em suas vidas.
Saulo
de Tarso era um jovem judeu, fariseu, zeloso e guardador dos mandamentos. Homem
letrado, culto e poliglota, foi aluno de um dos maiores filósofos do seu tempo,
o extraordinário Gamaliel, doutor da Lei e membro Sinédrio. Por ter nascido em
Tarso, ganhou o direito de ser um cidadão Romano, o que no mundo antigo era
algo importantíssimo.
Saulo era notável! Sem dúvida alguma, foi o homem mais influente do primeiro século depois de Jesus Cristo. Inteligente, impetuoso e estrategista, via no Evangelho uma grande ameaça a religião judaica e, por conta disso, encampou como desafio pessoal perseguir os cristãos com o objetivo de encarcerá-los. Ao depois, quando do julgamento, retornava para dar o seu parecer. Foi desta forma que se tornou peça fundamental na morte do diácono Estevão, o primeiro mártir do cristianismo.
Mas
Deus tinha outros planos para este homem... E assim, numa viagem a cidade de
Damasco, ele vê uma luz brilhante vinda do céu e ouve uma voz que lhe diz: “Saulo,
por que me persegues?”. Cego, desnorteado, sem compreender o que lhe
acontecera, foi orientado a ir até a casa de um discípulo chamado Ananias, onde
foi batizado e recuperou a visão. Daí em diante, Saulo sai de cena e dá lugar a
Paulo, o homem que “transtornou o mundo” de seu tempo com a pregação do
Evangelho e a abertura de Igrejas. O apóstolo dos gentios, como era chamado,
escreveu mais da metade do Novo Testamento e tornou-se o grande sistematizador
das doutrinas de Cristo nos primeiros anos da era cristã.
Ser
Saulo era uma coisa; ser Paulo era outra. Mas o apóstolo só descobriu isto
caminhando no Caminho. Apesar de sua conversão, ele não era um homem fácil,
pois possuía como grande adversário seu próprio temperamento. Essa
característica pessoal lhe custou diversos desentendimentos e a perda de muitos
companheiros e amigos, além, é claro, da conquista de poderosos inimigos.
Na
ficha corrida de Paulo estão acontecimentos dos mais diversos. Ele se
desentendeu com Barnabé por causa de João Marcos, discutiu com Pedro e Tiago,
amaldiçoou Alexandre o latoeiro e lançou sobre Elimas, o mágico, uma cegueira
temporária. Ao final da vida, parece que apenas Lucas o suportava, pois afirmou
certa vez: “todos me abandonaram”. Na Igreja de Corinto, por causa
da impureza, sugeriu que se entregasse a alma dos que tais coisas praticavam a
Satanás e enfrentou em toda a Ásia a fúria dos judaizantes. Esteve em perigo de
morte várias vezes; foi 2 vezes açoitado, fustigado com vara, apedrejado, 3
vezes vítima de naufrágios, além de ter andado em fome, nudez e solidão. Tantas
foram as suas agruras que na carta aos Gálatas disse “ninguém mais me
moleste, pois já trago no meu próprio corpo as marcas de Cristo”.
Mas
como diz o ditado, “numa maratona o importante não é como você começa, e sim
como você termina”. Paulo, o velho, termina os seus dias de forma bem
diferente de Saulo, o jovem. Lembrei de Eclesiastes: “melhor é o fim das
coisas do que o seu princípio”. No fim de sua vida, Paulo era um homem
manso, humilde, quebrantado, totalmente transformado pelo Espírito de Deus.
Dizia “tanto sei ser humilhado como também ser honrado... tenho experiência
de fartura e de fome, de abundância e de escassez. Sua morte trágica –
decapitado pelo imperador Nero em Roma – não determina o fim de seus dias, mas
apenas o extraordinário início de sua verdadeira vida, de sua existência na
eternidade, o encontro com o propósito eterno para o qual ele foi criado.
Saulo,
o jovem, Paulo o velho. Entre estas duas personagens, vividas pelo mesmo homem,
o tempo. Os anos se passaram e acabaram por produzir nele uma transformação
maravilhosa. Paulo aproveitou a dádiva de envelhecer permitindo que Deus
esculpisse nele um caráter inquebrantável, pois sua vida foi moldada como o
oleiro molda o vaso.
Que
bom seria se a velhice de todos os homens pudesse produzir o que produziu em
Paulo: sabedoria, quietude, generosidade, pacificação interior, graça, poder de
Deus, unção do alto. Como tudo na vida tem seu tempo próprio, há também o tempo
de envelhecer. Por isso, digo sem temor: “estou envelhecendo enquanto ainda
há tempo!”. É que nos nossos dias a grande maioria das pessoas fica velha e
não amadurece, tornam-se idosos infantis.
Affonso
Romano diz que a “gente tem a leviandade de achar que os velhos nasceram
velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento”. Simone de
Beauvoir, em seu livro clássico sobre a velhice, mostra, entre outras coisas,
que “o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos
comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos”. E finalmente
Cícero, no seu famoso tratado falando da velhice, diz: "Torna-te velho
cedo, se quiseres ser velho por muito tempo".
Já me disseram, talvez como consolo, que a vida começa aos 40. Mas eu discordo! A vida começa a partir do momento
É
um grande engodo achar que a vida começa aos 40. Que nada! Nem aos 40, nem aos
50, ou 60, mas apenas quando Ele, que é o caminho, a verdade e a vida, passa a
ser o motivo pelo qual andamos, respiramos, sorrimos, choramos e nos movemos. É
certo que caímos, erramos e sofremos, mas, nEle, sabemos, que somos mais do que
vencedores!
Diz
Albert Camus, “Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos
andam sós”. É a dura realidade de existir. Mas com você não tem que ser
assim. Se és jovem, anda em grupos, mas saiba que o tempo de envelhecer já
começou. Se és adulto, anda em pares, mas saiba que a velhice está a porta. Se
és velho, saiba, este é o melhor tempo da tua existência. Este é o tempo onde
Deus pode ser experimentado em “profundidade”, pois o melhor ainda está por
vir. Ele começa neste dia, o dia chamado hoje, o dia que o Senhor fez. Por isso
você não precisa andar só, pois Jesus disse que estaria conosco todos os dias
até o fim dos séculos.
Carlos Moreira
2 comentários:
Nossa encantada com o seu blog, li um texto seu no blog das meninas do reino e amei o texto e vim aqui conferir, feliz por tê-lo encontrado, os posts são riquíssimos..esse em especial..excelente reflexão já que estou às portas de mais um aniversário e sempre me angustio coma idéia de estar envelhecendo..rs!
Se quiser e gostar visite meu blog, será uma alegria...
http://nairmorbeck.blogspot.com/
Shalom no vínculo daquele que nos chama para amar
Obrigado pelo comentário.
Vou visitar seu blog.
Abraços,
Carlos Moreira
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