O povo brasileiro está doente e a culpa, em boa parte, não é sua. Sim, esta patologia que nos aflige é fruto de séculos de descaso com a coisa pública, do escárnio com a vida daqueles que não possuem representatividade, pois são invisíveis sociais, e também é resultado de uma ignorância endêmica mantida programaticamente por um sistema perverso que visa produzir alienados em série.
É fato, pois a história nos revela, que grandes nações do mundo viveram este mesmo “estado das coisas”, ainda que há séculos atrás, é bem verdade, mas nós temos o atenuante de sermos um País relativamente novo, com apenas 500 anos, ainda temos muita “merda” a fazer...
Pois bem, eu estou convencido que o Brasil precisa do Jair Bolsonaro, ainda que eu jamais possa conceber em votar nele. Bolsonaro, não à toa, representa um mito que foi pacientemente construído no imaginário nacional, ele não é real, é uma “carranca”, assumiu uma personalidade fruto do inconsciente coletivo, não passa de uma projeção da indignação e do descaso do povo contra a política, assumiu ares messiânicos, é reverenciado como um ser acima do bem e do mal, pois dele se espera a solução para os nossos problemas.
O Brasil precisa de Bolsonaro porque só será possível experimentarmos um novo tempo quando esta “era” terminar, quando estivermos, irreversivelmente, mergulhados no caos, quando os mitos morrerem, quando o desencanto nos for jogado na cara sem mais alternativas para desculpas ou escapismos.
Os Gregos, de quem o ocidente é filho, só deu seu salto civilizatório quando os mitos morreram abrindo espaço para o surgimento do pensamento filosófico, inquieto por natureza, questionador em sua essência, escrutinador da verdade. Foi olhando para a realidade e para os fenômenos tangíveis que eles avançaram como sociedade, o “caos” produziu a centelha de lucidez necessária às mudanças, deuses, bestas e feras ficaram para trás, não passavam de representações da infância da consciência e do saber.
Na mesma perspectiva, outro evento que mudou drasticamente o ocidente foi a Queda da Bastilha na França do século XVIII. Ali encontrava-se uma sociedade corrompida, onde os ricos e aristocratas refestelavam-se na opulência e o povo morria de fome as portas do Palácio de Versalhes. Foi o “caos” que produziu o “Haja Luz” da França, a decadência econômica foi o combustível que alimentou o motor de propulsão para fazer explodir a revolta popular que levou para a guilhotina o rei Luiz XVI e sua esposa Maria Antonieta e pavimentou o caminho para que o País se tornasse a potência que é hoje.
Um pouco antes, no século XVI, outro acontecimento de importância ímpar para o ocidente teve suas origens no “caos”. Falo da Reforma Protestante, do século XVI, que quebrou, na idade média, o ciclo de séculos de escuridão e obscurantismo de uma igreja decadente e corrupta. As Teses de Lutero, restritas a esfera religiosa, tiveram desdobramentos intangíveis na economia e na política, como bem escreve Weber no clássico “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Mas assim como todos os outros, este foi um evento tecido pacientemente pelo tempo, como uma teia de aranha, até que todas as condições para a insurreição estivessem devidamente alinhadas.
O trabalho do historiador é preservar a memória dos fatos e o dos filósofos questionar seus fundamentos. Assim, do ponto de vista da fenomenologia do que sucede no Brasil, estamos avançando no trilho que nos levará ao caos, o que me faz alimentar uma esperança de que, em algumas décadas, talvez, vejamos um novo Brasil surgir das cinzas.
Desta perspectiva, penso, Bolsonaro é a melhor alternativa, não porque seja o mais preparado, o mais experiente ou o menos corrupto, mas porque representa a melhor alternativa para chegarmos rapidamente ao fim da linha.
Portanto, não adianta você argumentar, mostrar números, falas, pensamentos, questionar a falta de competência, a falta de habilidade, de capacidade de gestão, nada fará os eleitores de Bolsonaro desistirem dele, pois “mitos” só morrem quando expostos a luz da realidade do cotidiano humano.
No fundo, Bolsonaro não passa de uma antítese da Dilma, que fez a primeira parte da lição para quebrar o Brasil. Ela é mulher, ele homem, ela é descasada, ele é o baluarte da família, ela é “comunista”, ele é de extrema direita, ela é subversiva, ele é militar, ela é “gestora”, ele aprovou em 17 anos meia dúzia de projetos na Câmara, ela é agnóstica, ele é cristão. Dilma, para mim, foi a tese; Bolsonaro, caso eleito, pode vir a ser a antítese. A síntese, todavia, e para minha esperança, será acordarmos, definitivamente, deste “berço esplêndido” no qual somos ninados deste o descobrimento do País.
Outubro está aí, falta só mais um pouco, quem viver, verá...
CM – Carlos Moreira
** Este pequeno post não tem o objetivo de ofender eleitores de Bolsonaro ou de Dilma, muito menos tem a pretensão de demove-los de seu voto. Da minha parte, estou apenas analisando, ainda que muito superficialmente, o atual fenômeno social e político do Brasil. Portanto, não tenha raiva de mim, nem me atire pedras – kkkk – eu não pretendo, em absoluto, ser o dono da verdade e da razão.
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