A LITURGIA de Jesus era o Caminho de cada manhã e os SACRAMENTOS todo encontro humano travado no chão dos dias. Em Jesus, CULTO é celebração da vida, em todo canto possível, a qualquer hora, e ADORAÇÃO a Deus é, antes de tudo, reverência solidária para com o próximo.
O TEMPLO de Jesus foram os descampados da Galiléia e a PREGAÇÃO a encarnação da Palavra que só existia em forma de texto. Os OFICIAIS de Jesus eram homens simples, que sabiam que entre eles não havia hierarquias ou distinções, o maior lavava os pés de todos, não se chamavam por títulos, eram apenas amigos e irmãos.
MISSÃO para Jesus era carregar a boa nova nas trilhas do cotidiano, e assim, indo pelas esquinas da vida, fazer o bem e buscar a justiça. DÍZIMO para Jesus era a oferta dadivosa espontânea, dada por aqueles que se sentiam abençoados para ajudar na implantação do Reino, sem apelos, sem constrangimentos, se manipulações.
Portanto, IGREJA, para Jesus, tem a ver com estas perspectivas, foi isso que ele disse a Pedro que edificaria. Depois disso veio a necessidade de aditar a mensagem o método grego-aristotélico, para produzir a apologética do século II, em seguida a disposição organizacional de bispados com suas geografias mandatárias, e no século IV a invenção do cristianismo como ideologia político-religiosa para promover o novo desenho arquitetônico do poder de Constantino sob o Império Romano.
Daí vieram catedrais e cátedras, projetos expansionistas e poder terreno, posse de latifúndios territoriais e influência política, normatizações doutrinárias, dogmas e confissões. Quem conhece a história sabe que não estou mentindo, a adulteração do que propôs o Galileu é grotesca.
Mas desmontar a engrenagem criada é quase impossível, porque junto com a queda de todo aparato vem também a destruição do poder de homens que se tornaram donos da marca “Jesus” e proprietários da holding “Igreja”. Se você, todavia, desejar voltar a simplicidade da fé e a pureza do Evangelho, é só viver na dimensão do que ele encarnou e ensinou, obviamente serás tachado de herege e desviante, de louco e blasfemo, mas, que importa, como bem disse Jiddu Krishnamurti, filósofo e educador indiano, “Não é sinal de saúde estar ajustado a uma sociedade doente”.
Mas o chocante mesmo é perceber que o que nós chamamos de igreja não faria qualquer sentido para Jesus se ele estivesse vivendo encarnado entre nós...
Carlos Moreira
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