Casamento
é tema recorrente no aconselhamento pastoral: traição, separação, finanças,
mesmice, os dramas se repetem e cansa ter de dizer, sempre, as mesmas coisas...
É difícil falar de casamento, sobretudo, para quem não está casado, e aqui digo casado não me referindo a quem acha que casamento é altar e cartório, ou seja, cumprir liturgias e rituais da Igreja e do Estado e viver na aridez, mas aos que se encharcaram de amor, os que penetraram não apenas o corpo do outro, mas os que invadiram alma e chegaram até o espírito!
Deixe eu lhe dizer uma coisa com a autoridade de quem está casado há 25 anos: casamento tem crise e, se não tiver, ele é a crise, pois a relação gangrenou e você não se apercebeu porque, provavelmente, já não se importa mais com o outro. Dependendo do que se carregue no coração, viver na mesma casa, dormir na mesma cama, comer na mesma mesa e fazer sexo com a mesma pessoa não é atestado de saúde conjugal, mas de esclerose relacional!
Eu sei que anos de convívio vão impor desafios hercúleos à relação: superar pequenas diferenças – que ficaram grandes, vencer a mesmice, reapimentar o sexo, cultivar o carinho, mas é fato que, mesmo com todo esforço, por vezes, o casamento acaba! Sem esforço, então, já nasce morto, dura de dois meses a dois anos, no máximo.
Portanto, um casamento acabar não é o fim do mundo, não obstante ser uma das maiores dores que um ser humano pode enfrentar, mas o problema, mesmo, é ele acabar sem acabar, ou seja, é você manter-se “casado” por causa do patrimônio, dos filhos, pela preguiça de separar, ou por questões religiosas. Aí, sim, é o fim!
Casamento acabado que não acabou é um horror, é como manter o vovô, morto, na sala de estar da casa, em estado de putrefação, degenerando-se lentamente na presença da família. Sim, óbvio, todos percebem: seus filhos – principalmente, os funcionários, os vizinhos, até o cachorro! E você ali, firme, como o capitão do Titanic, afunda com o barco, mas não perde a pose, e ainda mantém seu orgulho idiotado de poder afirmar que está casado, com a mesma mulher, há trocentos anos. E viva a hipocrisia!
Mas nada é mais bizarro do que casamento de crente que acabou e não acabou. Sim, é triste ver como as pessoas podem ser sequestradas de mente e alma pela religião, como um dogma aplicado de forma perversa sobre a existência castra sonhos e arrasa corações. E o sujeito-homem, defensor da moral e dos bons costumes, da indissolubilidade do matrimônio, do meio de sua amargura asfixiante, reza todo dia para a mulher cometer adultério – o que lhe daria a prerrogativa “legal” para a separação, ou que Deus leve sua “amada” para junto de Si, de tal forma que, pela via da viuvez, a vida possa, enfim, ser refeita.
Não sou dos que advogam o divórcio por qualquer idiotice, muito menos acredito em relações frívolas, mas creio que, por vezes, amputar o membro é melhor do que perder o corpo inteiro por septicemia. No que tange ao divórcio, Jesus afirmou: “Não foi assim desde o princípio...”, alertando-nos que, o melhor de Deus é casar e manter-se casado, mas, num mundo caído, onde nascem “cardos e abrolhos”, a vida é como pode ser, não como deveria ser, portanto, na falta de escolha, escolha o mal menor!
E assim, digo, com toda a responsabilidade que carrego, se teu casamento te faz pecar, corta-o e arranca-o fora, pois é melhor entrares divorciado e casado novamente no Reino de Deus, do que casado uma única vez, em meio a uma relação fraudulenta e cheia de perversidade piedosa, viveres, já aqui, no inferno da tua alma e, ao depois, na eternidade, quem sabe onde?
©
2016 Carlos Moreira
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