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02 setembro 2015

A Relatividade das Revelações




Percepções espirituais, além de serem muito pessoais, estão impregnadas de nossas próprias visões de Deus e do sagrado. A fenomenologia da revelação muda de indivíduo para indivíduo, podendo construir elaborações particulares ou arquetipias coletivas.

Moisés, por exemplo, viu o paraíso como um jardim, num contexto lúdico, cheio de beleza e poesia. Já o apóstolo João, que se radicou durante muitos anos em Éfeso, a segunda maior metrópole do mundo antigo, viu o paraíso como uma cidade, a Nova Jerusalém, que assumia a representação de uma nova sociedade, construída com os valores do Reino de Deus.

Paulo, por outro lado, em seu arrebatamento extático, não quis fazer asseverações concretas daquilo que viu e ouviu sobre a eternidade e o mundo por vir, o que denota o quão pessoal e intimista foi sua experiência.

Mas alguém pode perguntar: como é, então, o paraíso? Um jardim, selado por Deus depois da queda e guardado para ser usufruído apenas pelos salvos em Cristo? Uma cidade, aos padrões das metrópoles imponentes, com casas, ruas árvores e praças? Uma ambiência dimensional, tão distante de nossa realidade que é impossível descrevê-lo ou compará-lo a algo?

Ora, aquilo que hoje vejo e sobre o que penso, por mais subjetivo que seja e por mais metafísico que se represente, ainda está possuído pelas minhas percepções humanas, meus condicionamentos e minhas relatividades. Assim, toda visão que possuo, mesmo produzida por uma ação divina, ainda carrega as impressões do meu próprio olhar do mundo e da vida.

Ao despois, todavia, quando o que é em parte se tornar perfeito e o corruptível se revestir de incorruptibilidade, àquilo que é subjetivo se tornará concreto e definível, pois Deus fará com que mente e coração convirjam com vistas a compreensão de todas as coisas.

Sim, creia, um dia nós veremos com os olhos do Pai, discerniremos todas as coisas a partir dele, o que é e o que não é. Hoje, já há algo de divino em nós, mas continuamos a existir como o agora e o ainda não. Amanhã, todavia, seremos o que, irremediavelmente, fomos destinados para ser, conhecendo como somos conhecidos, refeitos e ressignificados para a glória e o propósito insondável do Senhor.

© 2015 Carlos Moreira

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