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01 maio 2015

Jesus e o Anti-Marketing Religioso



Em 355 a.C, próximo a Atenas, Aristóteles fundou o seu Liceu para repassar ensinamentos aos discípulos que desejassem aprender sobre lógica, física, matemática, retórica, ciências, entre outros saberes.

Tratava-se de um amplo espaço, com um enorme bosque, onde havia aulas regulares pela manhã e a tarde, com públicos diferentes, com vistas a fomentar a filosofia e o desenvolvimento do pensamento para o bem da vida.

Pois bem, eu confesso estar imensamente intrigado por que Jesus não andou neste mesmo “mover”, por que não seguiu a receita de sucesso daqueles que vieram antes de si, por que não fez uso de estratégias de multiplicação? Sim, encasqueta-me o juízo saber por que Jesus foi tão obtuso e não se valeu de seu enorme potencial homilético, de seu imenso carisma e, sobretudo, de sua capacidade extraordinária de realizar milagres?!

Em tempos de “expansão” de ministérios, de pregadores televisivos, de construções de templos salomônicos, de aumento da população evangélica com vistas a se tornar a religião hegemônica no Brasil, parei para refletir sobre a vida de Jesus e seus discípulos...

Na verdade, a dúvida sobre os métodos de Jesus não é só minha, não. A própria família do Senhor também não entendia por que ele usava estratégias tão ultrapassadas e não fazia qualquer marketing pessoal. Em Jo. 7:4, o Galileu ouviu dos de casa o seguinte: “Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas coisas, mostre-se ao mundo". Mas, curiosamente, ele insistia na simplicidade e na fé...

O que eu queria mesmo era que Jesus tivesse alugado um espaço, quem sabe próximo ao Templo de Herodes, numa área nobre de Jerusalém, e botasse pra quebrar! Sim, fico pensando numa mega catedral, com cultos, ao menos, três vezes por dia, louvor gospel com bandas extravagantes – assim atrairia também a juventude – e mensagens bombásticas para os miseráveis daquela região. Ia ser o pipoco! O Sinédrio ia esquentar a chapa e teria que se cuidar com a nova concorrência!

Na verdade, com a capacidade que o Galileu tinha, certamente conseguiria levantar muitos fundos entre a classe dos publicanos. Com estes recursos, poderia construir o Liceu de Jesus, um lugar para treinar novos evangelistas e enviar obreiros para abrir igrejas em todo o Oriente! Ao invés de apenas 12 discípulos, ele teria 12 mil pastores sendo preparados para detonar com a doutrina da Lei Mosaica dos Judeus. Além de inovador, seria imbatível!

Fico pensando em Jesus realizando milagres de todo tipo, pirotecnia pra todo lado, descendo voando do pináculo da catedral e aterrizando, suavemente, no altar central? Ô benção! Ele ao invés de anunciar o Evangelho do Reino, pregaria sobre a Teologia da Prosperidade, acabaria com aquela fixação estranha de morte na Cruz e se voltaria para o Palácio de Pôncio Pilatos, o qual, inclusive, devidamente “trabalhado”, certamente se constituiria num poderoso aliado.

Ah Jesus... Quanto poderia ter sido feito... Mas você, Senhor, optou pelo caminho mais difícil, pela porta estreita, por fazer a vontade do Pai, abraçando a proclamação da Verdade e escolhendo o cuidado dos pobres e necessitados da Terra. Que enorme desperdício!

Mas nem tudo está perdido, meu Senhor... Hoje, seus “discípulos” estão remendando a história, colocando a “igreja”, novamente, nos trilhos da “fé”, realizando o que você se negou a fazer. Eles constroem templos suntuosos, manipulam a sã doutrina, esfolam o povo para tirar-lhes dinheiro e se regalam nas benesses do “evangelho”.

Olha, Jesus, tenho de admitir que eles estão executando tudo o que você nunca fez, mas também esperam que o Senhor, ao final, os receba na glória eterna, com banda de música, confete e serpentina! Então Senhor, por favor, não vá os decepcionar, pois eles estão fazendo tudo ao contrário, mas estão alcançando um sucesso inquestionável...

© 2015 Carlos Moreira

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