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08 janeiro 2015

Livre de Todos, Mas Escravo da Consciência



Alguém muito querido, e muito sincero, falou comigo pelo in-box e relatou que, depois de ver uma foto minha com um amigo tomando uma “breja”, sentiu-se desejoso de 
voltar a beber. E assim, ele foi tomando uma, duas, três, até que, inadvertidamente, tomou todas...

Bem, ele me confessou o caso e assumiu a responsabilidade pelo ato, mas pediu, com carinho, que eu revisasse minha postura quanto a tomar minha cerveja.

Então, eu respondi...

Mano, entendo o seu drama e entendo que, talvez, você tenha problema com a bebida e precise se conscientizar disto. Mas veja a questão por um ângulo mais amplo... Você imaginou que, se eu posso tomar minha cerveja, você também pode e isso ascendeu o desejo de voltar a beber. Mas ai você se excedeu e, por conta disto, agora acha que eu também não devo beber, uma vez que, fazendo assim, estimulo outros a igualmente fazê-lo.

Agora suponhamos que eu deixe de beber por conta disto... Mas aí, chega a sexta feira e eu vou na casa de uns amigos para jogar umas partidas de dominó. Noite rolando e um destes amigos posta uma foto da mesa de jogo no FB. Pois bem, ocasionalmente, alguém que me segue e é também viciado em jogo, acaba vendo essa imagem e, daí por diante, aquela "cena" passa a se constituir o álibi perfeito para que esse tal volte ao vício da jogatina.

Pois bem, chocado com o ocorrido, eu, “obviamente”, deixo também de jogar, para evitar ser um escândalo ao meu irmão. Mas, como se sabe, pastor é convidado para ir a muitos lugares, e, sendo assim, acabo indo a uma festa de aniversário. Chegando lá, sou servido pela dona da casa que me traz uma deliciosa torta de chocolate. Com todo o prazer, eu como a torta e me lambuzo todo. Minha filha Gabi, que adora fotos, posta, então, a imagem desta cena hilária na minha linha do tempo no FB. Mas, desgraçadamente, alguém que me segue e tem compulsão alimentar, me vendo comer a bendita torta, volta a ter problemas com a glutonaria. E é assim que eu paro de comer tortas...

Finalmente, como resultado do dia de Natal, eu posto uma linda foto com minha esposa na qual não estou, nem bebendo, nem jogando e nem comendo. Mas naquela foto, estou vestindo uma camisa nova que ela me deu de presente, linda mesmo! Infelizmente, e para meu desgosto, alguém que me segue no FB e tem compulsão por gasto, não conseguindo ver aquela imagem, acaba caindo novamente em tentação com o cartão de crédito. Dias depois, fico sabendo que a pessoa foi ao shopping e detonou geral, e o pior de tudo, voltou para as mãos dos agiotas.

E foi assim, desta forma triste, que eu deixei de viver! Sim, foi isso que me aconteceu, pois eu perdi, totalmente, minha individualidade e, com ela, minha liberdade. Tornei-me um escravo dos outros e, por “amor” aos outros, deixei de existir.

Ora, em absoluto é isso que as Escrituras afirmam sobre, por amor ao mais fraco, alguém deixar de fazer algo! Quando Paulo trata deste tema, em 1ª. Co. 8, o contexto imediato é a comida sacrificada aos ídolos, a qual era comprada ou consumida na feira, onde a maioria dos alimentos havia sido consagrado para os cultos tanto no templo de Apolo, quanto de Afrodite. Paulo, então, está tratando de uma questão específica, num contexto próprio, e faz uso, inclusive, de recursos literários, como a hipérbole do verso 13, para ratificar seu pensamento.

Para se ter uma ideia, a questão era a seguinte: a mente debilitada do neófito, que acreditava nos mitos das religiões pagãs, sobretudo a grega, acabava estimulada pela superstição e, desta forma, levava o indivíduo a viver eternamente dependente dos deuses, o que acarretava, por consequência, a não compreensão da liberdade do Evangelho e da salvação em Jesus. Ou seja, o que temos ali é uma questão essencial à fé e não algo de cunho meramente existencial.

No meu pensar, todavia, é óbvio que Paulo não está recomendando que nunca mais alguém tenha a liberdade de comer algum alimento pelo fato dele ter sido consagrado ao ídolo, pois ele mesmo diz que, recebida com ação de graças, todas as comidas estão santificadas para o uso! O que se subentende, então, é que, ainda que eventualmente julguemos que devamos nos privar de algo, por amor àquele que tem uma consciência fraca, não precisamos viver desta forma, mas usar a pedagogia e o discipulado para instruir aquele que é débil na fé a chegar a maturidade em Cristo!

O exemplo que dei acima é bastante simplista, mas factível! Agora, imagine que alguém se escandalize pelo fato de você usar calça jeans, o que é totalmente compatível com algumas doutrinas de igrejas pentecostais. Com sinceridade, você deixaria de usar a calça por causa da debilidade do pensamento desta pessoa? Ora, se não, então essa aplicação sobre a liberdade serve para algumas coisas e para outras não? Será que nós vamos ter de fazer uma planilha com o que pode e o que não pode ser feito?

Por isso, o mesmo Paulo que trata o tema de 1a. Co. 8, afirma, em Rm 14:22 “Bem aventura aquele que não se condena naquilo que aprova”. É assim que eu penso, com sinceridade e respeito pelo meu semelhante em suas fraquezas, mas não me tornando refém de nada nem de ninguém.

Para terminar, deixo essa frase de Harriet Tubman como reflexão final: "Libertei mil escravos. Podia ter libertado outros mil se eles soubessem que eram escravos". Cabe tão bem...

Beijo a todos!


PS: Eu sei que a maioria não vai concordar, mas alguns vão começar a acordar depois desta reflexão... E eu? Bem, eu continuo livre de todos e escravo de Cristo!

Carlos Moreira

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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