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28 outubro 2014

Jamais Terei Vergonha de Ser Nordestino


Com a derrota recente de Aécio Neves e após a análise – muito simplista e tendenciosa – de alguns comentaristas políticos sobre os números da votação em cada região, comecei a ler e ouvir posicionamentos xenofóbicos contra os nordestinos e a me deparar com velhos ideais separatistas.

Na verdade, os movimentos de independência fazem parte da história de nosso país e acontecem desde a época da Colônia. Mas foi em Pernambuco que houve o mais importante movimento revolucionário de caráter emancipacionista e republicano contra o absolutismo de Portugal, a Confederação do Equador de 1824.

O nordeste, para quem não sabe, já foi à base de construção desta nação, tendo em Pernambuco e na Bahia dois centros extraordinários de desenvolvimento. Pensar num Brasil sem o nordeste, seria amputar parte significativa de nossa história, seccionando importantes manifestações de nossa cultura.

Só para se ter ideia, no segmento literário, excluir o nordeste do Brasil seria eliminar as obras e pensamentos de João Cabral de Melo Neto, José de Alencar, Gilberto Freire, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, Gregório de Matos, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Ferreira Gullar e Manuel Bandeira.

Não, eu não quero separar o nordeste do Brasil! Iria ser insuportável perder as referências que em mim foram produzidas por homens e mulheres notáveis como Paulo Freire, Aurélio Buarque de Holanda, Correia Picanço, Ariano Suassuna, Assis Chateaubriand, Delmiro Gouveia e Joaquim Nabuco. Como poderia viver sem as canções e a poesia de Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Djavan, Fagner, Gilberto Gil, Dominguinhos, Tom Zé, Geraldo Azevedo, Capiba, Sivuca e Hermeto Pascoal?

Não, eu não quero separar o nordeste do Brasil porque não desejo perder o que temos aqui. De forma simplista, somos o 2º. polo de tecnologia do país, temos 3 dos 10 principais polos industriais, o 2º. polo de turismo, o 2º. polo de saúde e medicina, importantes centros de comércio, um dos maiores centros de cultura, artes e música e 4 entre as 20 melhores Universidades Federais.

É fato que no nordeste está concentrada boa parte da miséria do Brasil. Sim, aqui existe, desde sempre, a indústria da seca, os bolsões de miséria localizados no interior, baixa taxa de escolarização, altos índices de mortalidade, péssimo saneamento, menos acesso a empregos de qualidade, baixa renda e poucas empresas de grande porte. São problemas estruturais que reverberam estilhaços em todas as direções e impedem o desenvolvimento crescente e sustentável da região.

Mas é importante, todavia, que se reconheça que não foram as pessoas desta região que cultivaram este cenário pavoroso. Muito pelo contrário! Aqui existe gente extraordinária! Somos um povo amável, solidário e generoso. O nordestino, além de ter trabalhado duro em seu próprio território, a despeito de todas as dificuldades climáticas, ajudou a construir a capital do país, Brasília, e a desenvolver os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Assim, é mister que se compreenda que tem nos faltado, sim, oportunidades, em todos os âmbitos e de todas as formas. Por séculos, temos sido preteridos em termos de investimentos governamentais. Carecemos, historicamente, de um olhar mais sensível as nossas idiossincrasias, de projetos adequados às nossas realidades. Aqui nasceu o Brasil! E aqui ele começou a se desenvolver! Como pode agora, que tão grande legado, possa ser desprezado e desprestigiado?

Não tenho vergonha de ser nordestino! E como poderia ter? Tenho vergonha, sim, daqueles que querem fatiar o Brasil, daqueles que, egoisticamente, querem desenvolver apenas parte da nação. Tenho vergonha dos que abandonaram suas origens, dos colapsados de mente, dos enfartados de consciência, dos gangrenados de coração.

Em tempos de ofensas contra nosso povo, de posicionamentos midiáticos xenofóbicos, de humilhações e distratos, conclamo você, homem do nordeste, mulher sertaneja, filho desta terra varonil, a levantar sua cabeça, a ter orgulho de sua terra e de sua gente, a continuar acreditando no futuro do Brasil!

Assina este texto um nordestino apaixonado,
Carlos Frederico de Souza Moreira

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