O personagem de Alexandre Borges na novela “Avenida Brasil”,
da Rede Globo é, sem dúvida, um dos papéis mais hilários do ator. “Cadinho”, um
rico empresário, bon vivant, é casado
com 3 mulheres ao mesmo tempo e possuí 3 filhos, um com cada uma delas.
Até aí, levando-se em consideração as idiossincrasias dos
“tempos modernos”, dá para entender, pois, decerto, o cara é mesmo bom de
enganação. O inusitado, todavia, é que em certo momento da trama, “Cadinho”
passa a viver simultaneamente com as três mulheres, e isso de forma consensual,
ou seja, ele torna-se uma espécie de marido on
demand, tendo que cumprir uma agenda semanal na qual busca atender as necessidades
de cada uma delas.
Não obstante tudo isso, mesmo não podendo ser “casado” com
todas as “esposas”, tendo sobre si as implicações legais, os relacionamentos de
“Cadinho” são legítimos, uma vez que ele mantém um convívio estável com cada
uma delas. É que no Brasil não existe crime de “poligamia”, mas de “bigamia”,
previsto no artigo 235 do código penal, o qual trata do fato de você tentar
fazer o registro em cartório de um casamento já tendo outro registrado anteriormente.
Assim, do ponto de vista civil, pode-se ter quantas mulheres
quiser, sem que isto incorra em crime, mas apenas um casamento registrado em
cartório, não esquecendo que uniões estáveis possuem os mesmos direitos
daquelas de “papel passado”. Quem consentir em viver nestas condições, que o faça,
de livre e espontânea vontade.
Na verdade, “Cadinho” tem, ao mesmo tempo, três mulheres e
nenhuma. Sim, por que ter um casamento não significa ter filhos em comum, ou
uma casa, bens, dormir no mesmo quarto, na mesma cama, ir junto a lugares,
festas, fazer supermercado, pagar contas, e até ter relações sexuais! Nada
disto define um casamento! Casamento não é uma existência a dois, mas, dois que,
na existência, se fazem um em essência.
É triste, mas há muitas pessoas “casadas” que jamais se
casaram. Elas se “deram” no papel, mas não se entregaram no coração, juntaram
coisas, mas não partilharam sonhos, conviveram, mas não compreenderam o
significado de conjugalidade, habitaram o mesmo ambiente, mas nunca os "cômodos" da alma um do outro, fizeram sexo e não amor, geraram filhos, mas não puderam
criá-los tendo o casamento como referência de relacionamento.
Neste sentido, a bíblia nos dá uma dica sobre o que é
casamento: “... Portanto, deixará o homem
pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne”. MT. 19:5.
Há três implicações profundas para que algo desta natureza
possa se estabelecer sobre o passadiço da vida: (1) “deixar pai e mãe”, que tem
a ver com a quebra dos vínculos emocionais, ou seja, é a emancipação do sujeito
como indivíduo capaz de dar rumo e significado a própria vida.
(2) “Unir-se a sua mulher”, que diz respeito ao ato público de assumir um estado existencial com as prerrogativas de poder mantê-lo e provê-lo de todas as suas necessidades sociais. Uniões só se estabelecem de forma duradoura quando partilham de valores e princípios, pois, como disse o profeta Amós: “como andarão dois juntos se não houver entre eles acordos?”.
(3) Finalmente, “ser uma só carne”, que trata das implicações espirituais daqueles que se unem fisicamente para o bem, pois sexo não é apenas coito, mas um ato que “mistura” a essência das pessoas. Sim, nele há a liberação do que de mais íntimo há em nós, e não apenas de fluídos, com desdobramentos para além dos sentimentos, pois depositamos um pouco de quem somos no outro e trazemos para nós um pouco daquilo que o outro é. Sexo é simbiose de alma e partilha de espírito, é troca para além da matéria, é coisa transcendental, muito antes de ser carnal.
(2) “Unir-se a sua mulher”, que diz respeito ao ato público de assumir um estado existencial com as prerrogativas de poder mantê-lo e provê-lo de todas as suas necessidades sociais. Uniões só se estabelecem de forma duradoura quando partilham de valores e princípios, pois, como disse o profeta Amós: “como andarão dois juntos se não houver entre eles acordos?”.
(3) Finalmente, “ser uma só carne”, que trata das implicações espirituais daqueles que se unem fisicamente para o bem, pois sexo não é apenas coito, mas um ato que “mistura” a essência das pessoas. Sim, nele há a liberação do que de mais íntimo há em nós, e não apenas de fluídos, com desdobramentos para além dos sentimentos, pois depositamos um pouco de quem somos no outro e trazemos para nós um pouco daquilo que o outro é. Sexo é simbiose de alma e partilha de espírito, é troca para além da matéria, é coisa transcendental, muito antes de ser carnal.
Portanto, preste bem atenção no tipo de relacionamento que
você está construindo! Não chame de casamento o que é apenas um contrato por
cotas limitadas, com objetivos comuns, divisão de tarefas, participação nos
resultados e geração de ativos.
Contudo, se quiser mesmo viver um casamento, dou-te um
conselho: pense mais no outro do que em você, entregue-se sem receios ou
reservas, ame com toda a intensidade, sabendo que amor é uma opção, não um
sentimento, faça filhos por amor e sexo sem pudor. Não esqueça, todavia, o principal:
peça para que Deus lhe ajude a construir uma família, não uma empresa.
Carlos Moreira
Carlos Moreira
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