Mas um ano se vai… e este, em especial, foi por demais difícil. Vi-me cercado por angústias do inferno, senti-me emaranhado por laços de morte. Muitas foram às noites sem sono, com medo, ansioso, andando pelo vale das sombras em meio ao silêncio e a solidão.
Por vezes tive a impressão que minha alma escapou de mim mesmo, uma sensação de que meu ser esvaiu-se, como se toda essência se derramasse como água que transborda da jarra enquanto vai sendo carregada pelo chão da vida.
Tentava sorrir e não conseguia... Meus lábios estavam serrados, meus olhos transbordavam tristeza, meu coração tornou-se um cômodo apertado. Queria trazer a memória algo que pudesse me dar esperança, mas, definitivamente, não sou Jeremias, meu alimento é lamento e dor. Bem disse Nietzsche ao afirmar: "é necessário levar em si mesmo um caos, para pôr no mundo uma estrela dançante.". E haja caos aqui dentro...
Quanta inquietação! É o “ser ou não ser”... E eu não sei. Se soubesse, seria, mas penso não saber, por isso não sou, mesmo querendo ser, ainda que não aquilo que deveria, vou sendo em partes, por pedaços, fragmentos de mim mesmo, junto migalhas do eu que há em mim na busca incansável de tornar-me aquilo que sou.
E assim, em meio a este turbilhão, lembrei-me do salmista: “Senhor meu Deus! Quantas maravilhas tens feito! Não se pode relatar os planos que preparaste para nós! Eu queria proclamá-los e anunciá-los, mas são por demais numerosos!”. Sl. 40:5
Meus olhos se voltaram para o caminho – as horas dos dias, os dias das semanas, as semanas dos meses, os meses deste ano... percebi que mesmo em meio a tantas dificuldades Deus sempre esteve ali, no mesmo lugar, eu é que me perdi. Como pude, então, não agradecer por cada lágrima derramada, por cada dor degustada, por cada tristeza acalentada? Por isso agora me arrependo... Trago-te Shakespeare: “a gratidão é o único tesouro dos humildes”.
O problema é que na contabilidade da vida as contas nunca fecham, o saldo sempre está negativo. Por mais que Deus tenha feito em nós, por nós e através de nós, continuamos a valorizar apenas àquilo que deu errado, que produziu tristeza, que contrariou os planos, que feriu as regras, que alterou o curso, que roubou o sonho, que tragou o brilho, que matou a vida. Em meio à dor, o bem recebido é sempre esquecido, pois “a gratidão é a memória do coração” (Antístenes), e se ele tiver se tornado de pedra, viverá eternamente de esquecimento.
Bem disse Lenine em sua poesia ao perceber que nos tornamos máquinas movidas a sangue: “deu ferrugem nos meus nervos de aço”. É que nós nos esquecemos de quase tudo, inclusive que somos de osso, não de aço! Certo estava Sêneca quando afirmou: “quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida”.
Perdoa-me meu Pai por tanta ingratidão! Aquieta a minha alma com Tua Palavra, pois, "quanto a mim, sou pobre e necessitado, mas o Senhor preocupa-se comigo. Tu és o meu socorro e o meu libertador; meu Deus, não te demores!". Sl. 40:17.
E assim vou vivendo, como de um mal incurável, trago essa ânsia de transcender. Um dia, todavia, tornar-me-ei aquilo para o qual fui concebido, serei totalmente eu, sem fragmentações, sem desencontros ou contradições, serei por inteiro, recriado, refeito, ressuscitado! Aí, então, conhecerei como sou conhecido, saciada será a minha sede, pois beberei no cálice da Graça a Água da Vida.
Por tudo isto e mais um pouco: Feliz Ano Velho!
Por tudo isto e mais um pouco: Feliz Ano Velho!
Carlos Moreira
4 comentários:
Este vai pro top dez!e os outros vinte???
"Conta as bençãos, conta quantas são, recebidas da Divina mão. Uma a uma, digas de uma vez, hás de ver surpreso o quanto Deus já fez..."
Conhece o hino acima, tenho certeza.
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Boa parte do seu texto eu diria que fui eu quem escrevi de minhas tristezas.
Mas também tenho muito a agradecer, pois, depois de tantas e tantas tentativas, um remédio fez efeito em mim e eu consegui em uns três meses resgatar um pouco do ano perdido.
A estrada ainda é muito longa, foram muitos anos perdidos e há coisas que não recuperamos, mas o que eu puder recuperar, eu vou caminhar e vou conseguir...
Espero que tenha remédio para a minha mãe que está muito doente.
Desejo a você, Carlos e família, e a todos os que postam aqui um abençoado 2012.
E se de alguma forma nós pudermos trilharmos juntos na alegria e na tristeza, melhor ainda.
Um grande abraço.
Patrícia
Obrigado a vocês pelo carinho e pela atenção. Em Deus espero um feliz 2012 para todos nós! Grande abraço!
Nossa,esse seu post parece que foi escrito por mim, pois esta foi a realidade da minha vida neste ano de 2011 e que já não via a hora dele terminar, estava contando os minutos e segundos, em busca de uma esperança renovada neste novo ano. Diversas vezes me referi a este ano como muitos momentos em que as angústias do inferno se apoderaram de mim, mas pela infinita graça e misericórdia do Senhor, estou sendo restaurada e voltando ao centro da sua vontade na minha vida.
Apesar de muitas dores e tristezas, aprendi muitas lições importantes neste ano que se passou e que não irei repeti-los, com certeza. E quando estamos envolvidos em muitos dilemas, problemas, circunstancias adversas nos sentimos só e somos tendenciosos a achar que sofremos mais que os outros, tal...Lendo esse texto pude perceber que neste mundo a fora há muitas pessoas sofrendo igualmente ou mais que nós. Querido, que Deus lhe dê um ano cheio de alegria e recompense toda dor e sofrimento vivenciados em 2011. Fique na paz!!!!
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