Eu sou do tipo que só lembra o próprio aniversário por intermédio dos
outros. Nunca me preocupei demasiadamente em comemorá-lo.
Talvez isso aconteça porque eu considero a minha existência como um todo
e não como uma seqüência de partes no melhor estilo cartesiano. Penso no
relógio e não nos mecanismos que o compõem.
Olho sempre para o fim e nunca para o meio. Os meus olhos não se impressionam
com o que eu sou e com o que vejo, mas fixam-se naquilo que eu ainda verei e
virei à ser.
Contudo, este ano algo diferente aconteceu. Por um momento voltei-me
para onde eu estou e não apenas para o lugar onde estou indo.
Costumo fitar as torres ao longe com os seus topos cortando o céu
distante, hoje, entretanto, olhei-as de baixo, contemplei a dificuldade em
escalá-las ao mesmo tempo em que constatava que agora eu já estou mais próximo
do cume do que antes.
O nosso aniversário lembra-nos a nossa missão e o sentido da nossa
existência. Sem sentido existencial não há aniversário, apenas festa vazia,
bolas e bolos.
Eis aí a função das festas de aniversário: sinalizar em que ponto do
caminho estamos. Os aniversários são como estações que nos lembram a
proximidade ou distância que no encontramos do nosso destino final.
Cada comemoração de aniversário representa uma porta para um próximo
estágio. Por isso mesmo as festas de aniversário são momentos de reflexão,
porque representam uma intersecção entre dois mundos.
Eu nunca havia comido um bolo tão gostoso como aquele que os meus alunos
me presentearam hoje, dia do meu aniversário. Sou professor, e como tal, existo
para os meus alunos, aqueles a quem fui enviado para ensinar.
Penso, porém, que em breve ensinarei a um número bem maior de alunos.
Certifiquei-me disso hoje mais uma vez, quando mordi aquele bolo. Ele tinha
gosto de multidão.
André Pessoa
1 comentários:
Mais você nem avisou os amigos! Beijão!
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