Na vida, a gente acaba colecionando mais o erro
do que o acerto, mais a tristeza do que a alegria, mais a queda do que a
conquista, mais o não do que o sim. Saudosista que sou, acabei lembrando que,
antes de compreender estas verdades, tinha dificuldades com o texto de Eclesiastes
que diz “melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”.
Creia-me, não há nenhum masoquismo sádico na frase do
filósofo. Trata-se apenas da constatação de que o sofrimento e a dor podem, em
certas circunstâncias, produzir algo de bom para a vida. De fato, nunca vi
nenhum empresário sentar-se introspectivo para analisar o porquê do sucesso de
um grande negócio. Mas tenho visto alguns que assim o fazem quando suas
empresas vão a banca rota. Não tenho encontrado pessoas quebrantadas em lugares
festivos, mas percebo-as cabisbaixas em funerais ou em visitas a doentes
terminais.
É muito difícil encontrar o riso fácil na vida
de uma mulher solitária ou mesmo o entusiasmo num quarentão desempregado. No
fundo, a vida é feita mais de não do que sim, e isto, tenha certeza, pode produzir
valor e significado a existência. Mas esta não é uma mensagem para os nossos
dias, sobretudo nos círculos religiosos. A teologia da prosperidade está aí
para contradizer tudo isto que eu estou pregando. Ninguém está disposto a dizer
que a dor, a dificuldade, o fracasso e até a solidão podem produzir frutos
extraordinários para a consciência das pessoas de tal forma a materializar no
caminho um proceder diferente.
As Igrejas do nosso país estão cada vez mais
amontoadas de gente em busca de um “deus” que só diga sim. Ligo a televisão e
fico estupefato com as loucuras que estão sendo pregadas nos canais ditos
“evangélicos”. Em termos de literatura a desgraça não é menor. Livros com
aberrações doutrinárias estão aí sendo vendidos aos milhares com promessas
calcadas no trinômio: vitória, sucesso e felicidade.
Mas a nossa realidade existencial é outra. Temos
vivido num país onde tudo é muito precário e difícil. As pessoas pobres desta
nação há muito não vivem mais, apenas empurram os dias para frente desafiando a
sorte e a morte. Elas não moram com dignidade, não possuem assistência médica,
não se sentem seguras, não tem acesso à educação, o crédito é concedido a taxas
de juros escandalosas... Onde está então a prosperidade? Eu lhes digo: nas
contas bancárias dos “bispos”, “pastores”, “apóstolos” e outros feiticeiros do
sagrado!
Diante de tantos problemas, de tantos “nãos”,
fica fácil entender porque as pessoas estão correndo para estas “fábricas de
ilusões”, para estes lugares de engano e estelionato. Por isso, encham-se os
salões, os galpões e os palácios eclesiásticos. Digam ao povo o que o povo quer
ouvir! A verdadeira mensagem
caducou, foi superada, caiu no desuso pela falta de “resultados”. O “evangelho”
de hoje, que desgraça, não é o da graça, pois tem preço, não é “de graça”. Quem
paga mais leva, e todo mundo fica feliz. A lógica perversa do “capitalismo eclesiástico” é a
seguinte: o povo quer “consumir” e os “sacerdotes” querem “vender”. E Deus?
Ora, Deus parece estar disposto a fazer qualquer coisa para manter o “mercado
da fé” aquecido e, desta forma, nem se importa de distribuir um milagre aqui e
outro acolá.
Diante de tudo isso, quero apenas lhe fazer uma
pergunta: você está disposto a dizer sim ao não de Deus? Você está disposto a
mudar planos já concebidos, adiar projetos pré-aprovados, desviar por rotas
inusitadas, cancelar o negócio, desfazer a compra, terminar o relacionamento,
suspender a viagem, dar ouvido a consciência, desprezar as emoções, submeter-se
às Escrituras? Deus é Deus de sim, e Paulo diz que “em todas as suas promessas existe o sim”. Mas, saiba: Deus também é
Deus de não!
Eu creio que há, pelo menos, 3 situações na vida
em que Deus diz não. Vou utilizar o texto de Hebreus 12 para me ajudar na
construção hermenêutica do meu raciocínio. Assim, fica a pergunta: Quando é que
Deus diz não?
Em
primeiro lugar, Deus diz não quando eu estou disposto a obedecer a qualquer
custo. Hb. 12:5 “...filho meu, não menosprezes a
correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado;”. Ora, isso faz todo o sentido, pois,
se eu não estou disposto a obedecer, pouco importa aquilo que Deus está
dizendo! Jean Paul Sartre afirma: “é sempre fácil obedecer quando se sonha
comandar”. Se eu é que comando a minha própria vida, que importa o que Deus
diz, pensa, sente, ou sonha a meu respeito?
A verdade é que nossa geração é atrelada a resultados, pois
somos “medidos” por aquilo que realizamos; temos metas, métricas, objetivos,
números a alcançar, custos a reduzir, lucros a aumentar. Forjados sob esta
mentalidade capitalista, imaginamos que Deus também está em busca de
produtividade. “Quantas pessoas você
ganhou este mês para Jesus? De quantos cultos participou? Quanto deu de oferta?
Em quais ministérios este envolvido?”. E por aí vai... É uma lógica
atrelada à produção, não a adoração! Disse o profeta Samuel ao Rei Saul: “acaso tem o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifício quanto a que se obedeça a Sua palavra?” E concluiu:
“o obedecer é melhor do que o sacrificar”.
Sabe o que quer dizer isto? Que Deus não está medindo o
quanto você faz, mas o porquê você faz. Ele não está contabilizando as suas
ações, mas as suas intenções. Ele não está somando o seu esforço, a sua
produtividade, mas a sua capacidade de se ajustar a Sua vontade a partir de uma
ressignificação de sua consciência, de uma mudança de mentalidade – da
“igreja-fábrica”, com vários “executivos dando ordens e exigindo metas, para a
igreja-Corpo de Cristo, onde apenas o Senhor dá as ordens, pois Ele é o cabeça
da Igreja.
Em segundo lugar, Deus diz não quando as
circunstâncias não vão produzir bem e paz para a minha alma. Hb. 12:10 “pois eles nos corrigiam
por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para
aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade”. Lembrei de Balzac: “os acontecimentos
são assuntos que nossas almas convertem em tragédia ou em comédia”. Se aprendermos a confiar, saberemos que mesmo a tragédia
pode se converter em festa, pois “o choro
pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.
É fato que
desde nossa infância nossos pais nos corrigem e nos ensinam aquilo que julgam
ser o melhor para nós. Mas nem sempre aquilo que eles avaliam ser o melhor é,
de fato, o melhor. Já com Deus, é diferente. Deus não se dobra aos nossos
caprichos; Deus não se comove com nossos choramingos; Deus não se deixa
influenciar por nossas chantagens. Ele sabe o que é melhor, pois está vendo o
“quadro” por completo, enquanto nós temos apenas parte da visão. É por isso que
o profeta Isaías diz: “os meus
pensamentos são mais altos que os vossos pensamentos”.
É muito bom para mim saber que Deus conspira o tempo todo para me fazer o bem. Lembro de Habacuque: “mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação”, ou seja, mesmo que tudo dê errado, e que a lógica se transforme em loucura, que a razão se dessignifique e que a esperança sucumba, ainda assim, tenho convicção que há Deus no céu, e que Ele me ama e fará o melhor a meu respeito!
É muito bom para mim saber que Deus conspira o tempo todo para me fazer o bem. Lembro de Habacuque: “mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação”, ou seja, mesmo que tudo dê errado, e que a lógica se transforme em loucura, que a razão se dessignifique e que a esperança sucumba, ainda assim, tenho convicção que há Deus no céu, e que Ele me ama e fará o melhor a meu respeito!
Finalmente, Deus diz não quando os meus caminhos
estão em desacordo com os dEle. Hb. 12:13 “e fazei caminhos retos
para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado”. Tenho
visto como as pessoas buscam andar por seus próprios caminhos. Elas fazem seus
planos, traçam suas metas, fazem suas escolhas, investem recursos, e, ao final
de tudo, raramente, perguntam a Deus: “o
que você acha disso?”. Por isso tanto desencontro, tanta separação, tantos
negócios falidos, tanta dor, tanto desespero, tanta aflição de alma, tanta
angústia, pois, conforme Isaías, “os meus
caminhos não são os vossos caminhos...”.
Mas quem
quer mesmo ouvir o que Deus tem a dizer? Quem está disposto a fazer a Sua
vontade? Jesus afirma: “aquele que tem os
meus mandamentos e os guarda este é o que me ama...”. As pessoas me
perguntam: “pastor, como faço para saber
a vontade de Deus?”. E eu lhes pergunto: “você está mesmo disposta a fazer o que Ele mandar?”.
Deus fala de formas diferentes com cada um de nós. Usa a Sua
Palavra, fala em nosso coração pelo Seu Espírito, usa pessoas próximas as nós,
circunstâncias, Sua própria criação, mas quando não queremos obedecer, temos de
nos render a citação do grande Heráclito “o caminho para cima e o caminho para baixo são sempre os
mesmos”. É que não raro, nem mesmo
a combinação de todas estas coisas elencadas é suficiente para nos demover de
algo que queremos realizar. Nestas situações, tenho visto, o resultado final é
sempre trágico. E o pior é que nós ainda temos a petulância de dizer: “mas Senhor, eu orei tanto por isso”. Aí,
digo eu: durmam os pastores com um “barulho” desse...
Carlos Moreira
Carlos Moreira
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