No último domingo passei em frente a uma
das maiores igrejas evangélicas da cidade do Recife. A referida igreja pertence
à denominação batista e localiza-se em um bairro próximo ao centro da cidade.
A rua em frente à igreja estava totalmente tomada por uma grande quantidade de veículos estacionados próximo a calçada fazendo supor que oculto no interior do templo estava lotado.
Esta cena poderia fazer os mais desavisados crerem que apesar dos muitos escândalos protagonizados pela igreja evangélica brasileira, as denominações continuam crescendo. Engano, sofisma, ilusão!
Interrompendo um pouco o meu trajeto e desviando-me temporariamente da minha rota, fui até a porta do templo e verifiquei, para o meu espanto, que a igreja estava quase vazia, ocupada escassamente por um público idoso e sonolento bastante rarefeito como ar dos andes.
Do púlpito, um entusiasmado pregador usando um paletó bem passado e, tal e qual João Batista, “clamava no deserto” jogando palavras ao vento, falando com ímpeto o que ninguém parecia interessado em escutar. O presenteísmo tomou conta da igreja!
Dessa experiência nefasta deduzi duas coisas: Os crentes agora possuem automóveis e a igreja está com a cabeça branca. Aquele velho pensamento preconceituoso que definia os crentes como pessoas feias, que moravam longe e andavam de ônibus não se aplica mais a igreja; os evangélicos agora também têm carro.
Agora, além da alienação das pessoas, existem também os veículos alienados. Alienação, essa palavra marxista tão cara à religião, significa “separação” (uma pessoa alienada é uma pessoa separada da realidade); um carro alienado (ou financiado) é um objeto que parece ser nosso, mas não é.
Da mesma forma como alguns cristãos estão longe, separados, alienados da realidade, os seus carros financiados em infinitas parcelas acrescidas de juros exorbitantes também estão longe de lhes pertencer, ou seja, separados dos fictícios proprietários. A ilusão capitalista da facilidade, essa nova modalidade de possessão demoníaca, também alcançou a igreja.
Contudo, os financiamentos de automóveis nada são quando comparados ao envelhecimento inevitável da igreja. Olhando de cima, a nave interior do templo em questão se parecia com um longo campo embranquecido e coberto de neve. Constatei estupefato que a igreja envelheceu!
As cabeças brancas prevaleciam e reluziam enquanto a calma sepulcral do culto só era interrompida pelo eco da voz metálica do pastor nos cantos vazios da igreja. Onde estão os jovens? Foram embora. O evangelho não interessa à nova geração mais preocupada com as baladas e o sexo fácil!
Qual o futuro da igreja? A igreja, como a conhecemos, agonizará lentamente como um paciente moribundo na UTI de algum hospital até morrer debilitada. Quando essa geração de cabeça branca partir não existirá novos membros para contribuir com o dízimo e cantar os louvores dos hinários porque a religião estará muito desvalorizada para valer o esforço.
A fé nunca morrerá, mas a instituição chamada igreja está degenerando e se extinguindo. Dentro em breve assistiremos perplexos ao funeral do último dizimista da igreja que foi destruída por duas forças demoníacas: a política perversa que se propagou nos seus átrios e o espírito do tempo, o zeitgeist.
André Pessoa via Século XXI
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