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05 novembro 2010

Tempo de Poetas e de Profetas



Estamos em extinção! Que o mundo está agonizando, todos nós já sabemos. Só não vê quem não quer. É destruição da camada de ozônio, devastação das matas, contaminação dos rios, poluição do ar, extinção dos animais, desperdício da água, e isso só para enumerar o que a mídia anuncia todo dia.

A “bola da vez”, agora, é o aquecimento global, com todas as consequências devastadoras que dele advirão. Quanto tempo ainda nos resta? Não sei. Você sabe?

Minha convicção é de que o nosso mundo dá os seus últimos suspiros. As previsões dos institutos e dos cientistas não são animadoras: talvez nunca cheguemos ao século XXII. Penso na minha filha Gabriela... Que mundo ela estará herdando? Certamente avançado tecnologicamente, mas à custa do caos da biosfera.

Nunca fui nostálgico, mas quando converso com pessoas mais velhas, e as ouço falar sobre como era viver em nossa cidade há algumas décadas, sinto um nó na garganta. É que elas se referem ao ar puro, pássaros nas janelas, conversas nas calçadas, bondes no meio da rua e frutas fresquinhas na feira. Tudo isto já se foi... Hoje, o ar é poluído, os pássaros desapareceram, as pessoas têm medo de sair de casa, os carros atropelam e os alimentos estão cheios de agrotóxicos.

Lutar pela sobrevivência é característica própria de tudo o que tem vida, mas, em se tratando do planeta Terra, a batalha é inglória. Seus recursos são cada vez mais escassos, e nossa ganância, em contrapartida, desmedida.

Isso tudo, irremediavelmente, nos levará ao colapso iminente. Como eu sei disso? Pelo que está expresso nas Escrituras! Estamos no tempo do fim! Os dias estão mais difíceis e as dores do planeta mais intensas. O pior de tudo, a meu ver, é viver esse momento desprovido de dimensões que julgo essenciais à vida: a doçura dos poetas e a firmeza dos profetas.

Sinto falta de poesia em tudo: nos textos, nas canções, nos olhares, nos gestos, nas palavras. Onde está a beleza do céu, no amanhecer, ou o brilho do sol nas árvores, ao findar do dia? Sei que isso ainda não se perdeu; meus olhos, sim, ficaram acinzentados de tanto concreto e asfalto.

É que o mundo tornou-se preto e branco. Para onde foi a alegria? Onde estão a sensibilidade e a ternura? Tivesse eu poder, decretaria em alta voz: tragam-me os poetas! Preciso urgentemente ser alçado a um platô mais elevado. Chega de chão! Chega de tanta realidade! Estou farto de praticidade e de pragmatismo. Deixem-me sonhar, mesmo que por um pouco, pois preciso acreditar que ainda é possível...

Nós perdemos a beleza quando perdemos a nossa alma. Enchemo-nos de coisas e esvaziamo-nos de significados; existimos para fora, sem sentir e sem sentido. Mais do que um projeto de vida, pre-cisamos de um propósito para a existência. Nossas angústias não estão no fato de faltar-nos meios e métodos, mas na esmagadora ausência de valores e verdades. Por isso, parecemos sempre ir a lugar nenhum, pois, onde há perda de entendimento, há sobra de estupidez.

Sinto falta de gente sensível, que perceba na existência a beleza que há nas coisas simples. Gente que olhe o que está além da marca do carro, do celular, do perfume ou da grife da roupa. Gente que se emocione com gestos que passam despercebidos, fale palavras leves, seja gentil e inspire coisas boas.

Sinto falta de romantismo, de perder o tempo olhando para o nada, de chorar por lembrar de momentos felizes, de sentir saudade do cheiro e do gosto de quem amo. Sim, falta-nos a alma dos poetas e, como se sabe, onde não há poesia, não há vida.

Mas nossas perdas não param por aí... Quisera eu que fosse só isso. Juntamente com os poetas, perdemos também os profetas. Eu os procuro, mas não sei onde estão. Pergunto-me: quem os fez calar? Não me refiro aos apologetas do caos, nem aos adivinhadores, nem aos deterministas, nem aos manipuladores.

Falo de profetas que, por amor a Deus aprenderam a entender o coração dos homens e, por amor aos homens, dedicaram-se a discernir o coração de Deus. Sim, esses, aos quais me refiro, não encontramos mais por aí...

Deus tem sempre buscado falar com os homens e, não raras vezes, usou os profetas para fazê-lo. Profeta é aquele que se quebranta e chora ante as misérias e dores da terra. Profeta é aquele que se compadece do caído, que se angustia ao ver o oprimido e que se revolta pelo que foi excluído.

É ele quem denuncia a injustiça, quem aponta a falsidade, quem assevera contra a malícia, e quem não se cala diante da maldade. Diz o que diz, e faz o que faz, porque não é em si mesmo, mas existe a fim de revelar aquele que era, que é e que há de vir.

Profetas falam aos homens porque ouvem a Deus. Eles são capazes de discernir o choro incontido, do Pai apaixonado, que debruçado no alpendre da casa, no entardecer do dia, olha incansável para o horizonte, sempre à espera do momento em que o filho despontará no caminho.

Fazem-nos falta os profetas, firmes como o machado, afiados como lâmina de dois gumes, incansáveis na proclamação da verdade. Num mundo sem valores, sem referências e sem temores, eles seriam a voz da lucidez em meio ao coro dos insensatos.

Estou certo de que o caos no qual estamos mergulhados não é apenas fruto dos desequilíbrios na criação, mas, sobretudo, das criaturas. Viver neste mundo caído, onde colhe-se mais a dor do que o riso, está cada vez mais difícil.

É que nos falta poesia, para a leveza da alma, e profecia, para fortalecimento do espírito. Se hoje eu pudesse fazer um pedido ao Senhor, dir-lhe-ia: Pai, manda-nos mais profetas e, se possível, juntamente com eles, um punhado de poetas...

Carlos Moreira

1 comentários:

Parabéns pelo belíssimo texto, Pr. Carlos. É por falta de poetas e profetas que nos tornamos numa igreja apática e patética.
Que Deus ouça sua oração, e envie profetas e poetas para a Sua Seara, antes que seja tarde demais.

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