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19 janeiro 2011

Contra-Fluxo


A sensação é de estar remando contra a maré, indo na direção oposta, subindo quando devia estar descendo, descendo quando devia estar subindo.

“Negue-se a si mesmo”, é a voz que escuto o tempo todo, todo o tempo. Desisti de tentar impressionar a Deus, aos homens. Entendi que não será por habilidades, nem necessidades. Não será por nada que eu possa fazer. Não será “por força, nem por violência”, não será pela ciência, nem mesmo pela razão. Apenas deixo-me levar pela brisa e, caminhando no caminho, semeio o bem e colho a esperança.


Enquanto todos querem ajuntar, desejo aprender a repartir. Enquanto querem mentir, busco encontrar a coragem de andar na verdade. Enquanto querem ser desleais, pretendo me tornar mais fiel. Rio-me da ganância, desprezo a futilidade, faço caso do sucesso, da busca da felicidade desprovida de propósitos. Cresço para dentro, expandindo minha consciência, alterando meus valores, repensando minha história. Aos que desejam mandar, ofereço o servir. Aos sofisticados e complexos, ofereço a simplicidade; aos arrogantes, a humildade; aos maliciosos a pureza; aos invejosos a singularidade de ser o que sou, incompleto, imperfeito, uma “metamorfose ambulante”.

Sim, é verdade, já compreendi que seguir a Jesus implica em andar na contra-mão, pois o Evangelho é um contra-fluxo, é subversão silenciosa, é mudança de coração, é transformação dos “ambientes” interiores, uma vez que a “ética do Reino é a estética do lado de dentro”.

E será assim, sem máscaras, sem cascas, despojando-me de tudo que possa impermeabilizar minhas sensações, libertando-me do que cauteriza as percepções, largando pela estrada tudo o que não é vida e aprendendo a recomeçar que, aos poucos, me tornarei um pouco mais parecido com Ele.


E assim, como o grão de trigo, que morre para poder fomentar a vida, morro também, pois, “pra que outros possam viver, vale a pena morrer”. Não deixarei para morrer amanhã, quero morrer logo, hoje, agora! Por isso, abro mão, despojo-me de mim mesmo, abro as janelas da alma, destranco os ferrolhos do coração, e morro. Morro enquanto ainda é tempo, pois os que me propõem a “vida” andam as portas a me convidar a seguir de acordo com o fluxo, de conformidade com as "marés", na direção da multidão, do corriqueiro, do banal. Eles me oferecem a morte embalada com papel celofane, numa caixa bonita, mas, no fundo, ainda é apenas morte. E eu, que pela morte de mim mesmo abracei a Vida, insisto em seguir na direção contrária.

Carlos Moreira

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