Enquanto tento “digerir” os muitos escândalos associados tanto à política quanto à economia e gestão em nosso país, lembrei de algo que pode bem ilustrar a crise na qual estamos mergulhados.
Trata-se de um exemplo usado por George Moore, filósofo inglês da primeira metade do século XX, que buscou resolver, pela filosofia da linguagem, o “problema” do ceticismo cartesiano.
Moore afirmava que, se olhássemos fixamente para a cor laranja, por exemplo, e depois voltássemos nosso olhar para uma parede branca, a cor da parede pareceria ser esverdeada. Este fenômeno, denominado de pós-imagem, revela que os olhos enxergam outra cor por causa da “impregnação” que adveio do olhar fixo sobre outra tonalidade.
A experiência de Moore, que no fundo trata de uma ilusão de ótica, assemelha-se ao que temos vivido em nossa sociedade, ou seja, uma ilusão de ética. De tanto “olharmos” para o disfarce, a dissimulação e a falcatrua como modus operandi, acabamos ficando impregnados por essa praxis distorcida.
Mesmo diante do indubitável, como em alguns casos em que a coisa foi do grotesco ao bizarro, ficamos impedidos de discernir a verdade, seja por conveniência, pois isso de alguma forma fere nossos interesses, seja por entorpecimento e cauterização da consciência.
Curiosamente, mas não menos preocupante, algo semelhante acontece com o cristianismo. A fé cristã tem se intitulado, ao longo da história, como depositária e mantenedora de princípios éticos e morais que deveriam reger as sociedades humanas. Mas esta prerrogativa, que no fundo é apenas ilusão, está cada vez mais insustentável.
É sem precedentes a perversão na qual está mergulhado o cristianismo nos nossos dias. Os conteúdos e princípios do Evangelho de Jesus Cristo, que deveriam ser seu esteio, foram totalmente esquecidos e dessignificados, dando lugar a práticas bizarras baseadas numa hermenêutica fraudulenta das Escrituras. Nem mesmo o dogmatismo e o fundamentalismo, como correntes filosóficas, foram capazes de conter os desvios atuais.
Entretanto, o que os cristãos não estão percebendo é que existe uma nova consciência ética se expandindo em todo o mundo, e isto fora dos portões da Igreja!
Há hoje um intenso movimento em busca do resgate de valores e padrões éticos e morais nas empresas, instituições, partidos políticos, organizações não governamentais, que busca fomentar princípios que rejam a vida do homem do século XXI.
Esta disposição, todavia, não está surgindo como resultado de uma alteração da consciência por meio da pregação da fé. Se assim fosse, teríamos como fim último a pacificação do ser e a transformação dos valores plantados no coração, de tal forma que tudo se desdobrasse em algo consequente para a vida.
Em definitivo não é isso... As mudanças em curso são fruto da percepção da sociedade da necessidade de transformação dos padrões e valores morais e éticos por questões, única e exclusivamente, de sobrevivência. Ou seja, é o capitalismo tentando acor-dar para as realidades prementes que nos cercam neste momento de nossa história, e isso com vistas a ele mesmo sobreviver.
A exploração entre países pobres e ricos, as questões ambientais – como desmatamento, aquecimento global, utilização de recursos hídricos –, as questões ligadas aos avanços tecnológicos, como a biotecnologia, dentre outras, são demandadoras de um repensar da civilização pós-moderna. Seus valores e princípios precisam ser alterados para que haja a chance de se construir algo sustentável para o planeta.
E os cristãos, alienados com o que acontece no mundo, impregnados por um olhar existencial distorcido, calcado numa ética elástica, forjado por princípios que apenas se prestam a conveniências morais da teologia de causa e efeito, vagam no mundo das alucinações, vivendo o irreal e achando tudo normal, sem perceber que, na verdade, é surreal.
Trata-se de um exemplo usado por George Moore, filósofo inglês da primeira metade do século XX, que buscou resolver, pela filosofia da linguagem, o “problema” do ceticismo cartesiano.
Moore afirmava que, se olhássemos fixamente para a cor laranja, por exemplo, e depois voltássemos nosso olhar para uma parede branca, a cor da parede pareceria ser esverdeada. Este fenômeno, denominado de pós-imagem, revela que os olhos enxergam outra cor por causa da “impregnação” que adveio do olhar fixo sobre outra tonalidade.
A experiência de Moore, que no fundo trata de uma ilusão de ótica, assemelha-se ao que temos vivido em nossa sociedade, ou seja, uma ilusão de ética. De tanto “olharmos” para o disfarce, a dissimulação e a falcatrua como modus operandi, acabamos ficando impregnados por essa praxis distorcida.
Mesmo diante do indubitável, como em alguns casos em que a coisa foi do grotesco ao bizarro, ficamos impedidos de discernir a verdade, seja por conveniência, pois isso de alguma forma fere nossos interesses, seja por entorpecimento e cauterização da consciência.
Curiosamente, mas não menos preocupante, algo semelhante acontece com o cristianismo. A fé cristã tem se intitulado, ao longo da história, como depositária e mantenedora de princípios éticos e morais que deveriam reger as sociedades humanas. Mas esta prerrogativa, que no fundo é apenas ilusão, está cada vez mais insustentável.
É sem precedentes a perversão na qual está mergulhado o cristianismo nos nossos dias. Os conteúdos e princípios do Evangelho de Jesus Cristo, que deveriam ser seu esteio, foram totalmente esquecidos e dessignificados, dando lugar a práticas bizarras baseadas numa hermenêutica fraudulenta das Escrituras. Nem mesmo o dogmatismo e o fundamentalismo, como correntes filosóficas, foram capazes de conter os desvios atuais.
Entretanto, o que os cristãos não estão percebendo é que existe uma nova consciência ética se expandindo em todo o mundo, e isto fora dos portões da Igreja!
Há hoje um intenso movimento em busca do resgate de valores e padrões éticos e morais nas empresas, instituições, partidos políticos, organizações não governamentais, que busca fomentar princípios que rejam a vida do homem do século XXI.
Esta disposição, todavia, não está surgindo como resultado de uma alteração da consciência por meio da pregação da fé. Se assim fosse, teríamos como fim último a pacificação do ser e a transformação dos valores plantados no coração, de tal forma que tudo se desdobrasse em algo consequente para a vida.
Em definitivo não é isso... As mudanças em curso são fruto da percepção da sociedade da necessidade de transformação dos padrões e valores morais e éticos por questões, única e exclusivamente, de sobrevivência. Ou seja, é o capitalismo tentando acor-dar para as realidades prementes que nos cercam neste momento de nossa história, e isso com vistas a ele mesmo sobreviver.
A exploração entre países pobres e ricos, as questões ambientais – como desmatamento, aquecimento global, utilização de recursos hídricos –, as questões ligadas aos avanços tecnológicos, como a biotecnologia, dentre outras, são demandadoras de um repensar da civilização pós-moderna. Seus valores e princípios precisam ser alterados para que haja a chance de se construir algo sustentável para o planeta.
E os cristãos, alienados com o que acontece no mundo, impregnados por um olhar existencial distorcido, calcado numa ética elástica, forjado por princípios que apenas se prestam a conveniências morais da teologia de causa e efeito, vagam no mundo das alucinações, vivendo o irreal e achando tudo normal, sem perceber que, na verdade, é surreal.
Para eles, o que restará será o desmonte e o descarte, pois esta corrente ética-filosófica-existencial que está sendo demandada pela nova sociedade não necessitará nem de chancelas da Igreja nem de legitimadores “espirituais” – sacerdotes – para dar credibilidade aos seus pressupostos.
A Igreja, com seus líderes e suas doutrinas – no pretenso papel de reguladores do comportamento humano –, irá então desaparecer do cenário mundial, pois sua causa-de-ser-existir se tornará totalmente irrelevante. Em seu lugar se consolidará a Nova Era, este novo sentir-pensar que fomentará um tipo diferente de espiritualidade no coração dos seres humanos.
Você acha isso impossível? Seria o cristianismo, como religião institucionalizada, invencível? Imortal? Insubstituível? Eu não creio. Não sei nem mesmo se ainda há tempo para que tudo isso possa ser revertido, pois talvez a Igreja não acorde nunca do seu sono profundo. Confesso, todavia, que não vou ficar esperando que isso aconteça para fazer o que tem de ser feito.
Chega de ilusões de ótica e de ética. É tempo de olharmos para o que está acontecendo na sociedade, no mundo que nos cerca, mas, fundamentalmente, em nossas Igrejas! É tempo de olharmos para o que está acontecendo com o cristianismo! Chega de tanta cauterização de mente, chega de tanta letargia de alma, chega de tanto entorpecimento de coração! Chega!
É tempo de ter coragem! Tempo de abrir os “porões” de nossas denominações para constatar as podridões que lá existem: lutas pelo poder, sectarismo, maledicências, politicagens. Não somos diferentes do Congresso, apenas, talvez, nos disfarcemos melhor. É hora de começar a limpeza na casa de Deus!
Tudo o que fizemos, para atender às “demandas existenciais”, foi criar a Self-Made-Religion, a religião das conveniências, customizada sob medida para as necessidades de cada pessoa. Já não temos mais conversões, mas apenas adesões!
Não existem mais discípulos de Jesus, mas apenas clientes da Igreja! Será que não vemos que a mensagem não transforma mais as pessoas de dentro para fora, mas apenas as reveste de um fino e falso verniz de “ética” e “moral”?!
Minha esperança é que ainda haja consciência e coragem em uns poucos, e que estes se levantem como arautos das mudanças que urgem. Ou fazemos isso ou veremos a Igreja e a fé cristã se diluírem e se extinguirem no tempo que virá.
É hora de ação, não de retórica! Lembremo-nos, parafraseando Pierre Reverdy, poeta surrealista francês, que: “A ética é a estética do lado de dentro”, não a plasticidade performática do lado de fora.
Carlos Moreira
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