O economista Jeremy Rifkin, escritor do livro "O Fim dos Empregos" afirmou, há quase uma década, que o futuro do mercado de trabalho convencional, como até então se conhecia, estava com os dias contados. O fato devia-se a busca frenética, por parte das empresas, da expressiva redução dos custos de produção com vistas a tornar bens e serviços cada vez mais competitivos e lucrativos, o que só seria possível, com uma significativa eliminação de postos de trabalho. Infelizmente, ele tinha razão. O desemprego é hoje uma realidade global, sobretudo, em grande parte do continente europeu e nos países subdesenvolvidos do resto do mundo.
Foi dentro deste cenário, respaldado por autores consagrados como Philip Kotler e Jerome McCarthy, que surgiu o marketing pessoal. De forma simplista, trata-se da geração de ações promocionais de valorização pessoal que colocam o profissional no lugar certo, na hora certa, com vistas a proporcionar as organizações, ou pessoas para quem trabalhe satisfação plena e, para si mesmo, novas e constantes oportunidades.
Rapidamente ações de marketing pessoal tornaram-se uma “febre” no mercado. A tônica era a seguinte: você é um produto! Por isso, venda-se bem se quiser ser “consumido”. Para tornar o slogan marketeiro realidade, um sem número de ações passou a fazer parte da vida de profissionais e executivos, indo desde investimentos no network relacional, até aos cuidados com a higiene e a aparência.
Como sabemos, muito do que acontece no âmbito empresarial acaba sendo copiado, logo em seguida, pela igreja institucional. Com o marketing pessoal não foi diferente. O que tenho visto, no circuito da música, por exemplo, são “cantores gospel” gastando muito dinheiro na contratação de empresas especializadas para realizar, através de shows, a divulgação de “seus trabalhos”. Pastores estão, cada vez mais, atrás de fórmulas profissionais para promover “seus” próprios “ministérios”. Talvez estejam em busca de uma comunidade maior, melhor, e que lhes pague mais dinheiro. Observo “igrejas” atraindo pessoas, com eventos de prateleira feitos sob medida, como se elas fossem apenas “consumidoras” de produtos eclesiásticos, sempre com o objetivo de manter aquecido o rentável e maravilhoso “mercado da fé”.
Sobre este assunto, Karina Bellotti, professora, doutora em história cultural, que lançou um livro sobre o fenômeno do movimento evangélico brasileiro, fala em recente entrevista a uma revista secular, que “Desde os anos 1990, ser evangélico virou um evento midiático, que trouxe visibilidade a esse grupo social, e que atualmente vem passando também pela construção de um mercado consumidor de produtos...: música gospel, personagens infantis como Smilingüido, artistas que se converteram, etc.”.
Não desejo mais prosseguir com isso... Permita-me, apenas, ir as Escrituras. “Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo. Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima. Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo”. Jo. 7:1-4.
O contexto da passagem não requer grande exegese. Está claro que a própria família do Senhor não acreditava no Seu ministério, pelo menos, não do jeito que ele estava sendo conduzido. De fato, eles podiam ver as obras que Jesus realizava, mas isto, por si só, não era suficiente para “catapultá-lo” no “mercado da fé”. O problema, na minha ótica, residia em duas questões principais: (1) Ele não estava agradando boa parte do Seu público – “...visto que os judeus procuravam matá-lo”; e (2) Seus feitos não tinham grande visibilidade – “...se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo”. Fico pensando: será que a família de Jesus estava lendo Kotler?
Para mim, não é difícil entender porque eles estavam tão descontentes! A questão é que Jesus realizava o anti-marketing pessoal: trabalhava em silêncio e comportava-se com discrição. Não raras vezes exortou àqueles que foram curados para não declarar nada a ninguém. Sim, Ele tinha um propósito, e este não era agradar as pessoas e nem, muito menos, divulgar-se a Si mesmo – “...a minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”, Jo 4:34. A razão de Sua existência, como Deus-Homem, era executar uma missão que, aos olhos naturais, estava encoberta, mas, ao ser manifesta, revelaria com que grande amor Deus amou os humanos caídos.
Quero denunciar algo de forma profética: há um “espírito” enganoso pairando sobre todos nós! Ele intenta nos levar a cometer dois terríveis erros: pregar um “evangelho” que agrade as pessoas, e não o Evangelho que as leve ao arrependimento, mediante a ação soberana do Espírito Santo, e buscar a promoção de nossos próprios ministérios, como se de nós mesmos pudéssemos realizar algo, ao invés de promover o Reino de Deus e a Sua justiça.
Eu imagino que todos nós já lemos a carta de Tiago. Nela nos deparamos com a dura realidade de que somos tentados pelas nossas próprias cobiças. Esse desejo de auto-promoção não é coisa nova, mas, pelo contrário, sempre esteve presente na história humana e, não raras vezes, está exposto e patente na própria Escritura, para advertência nossa, imagino eu.
Permita-me lhe fazer uma pergunta e, se possível, responda-me com a máxima honestidade: você já foi tentando a utilizar o marketing pessoal no seu ministério? Não? Pois eu já fui! Aliás, ainda sou e, provavelmente, amanhã o serei. É minha fraqueza. Talvez, até, a de outros também. Mas a bíblia afirma: “o que confessa, se arrepende e deixa, alcançará misericórdia”. Eis, então, a minha pública confissão...
Já estou com mais de 40 anos; 42 para ser exato. O sentimento é o de quem chegou a metade da existência de mãos vazias. Como já disse em outros textos, aos 40 a gente se sente meio que no meio do nada. Instala-se dentro de nós, sem qualquer permissão, a famosa crise da meia idade, onde sofre-se pelo o que não se foi, e anseia-se pelo que não se pode ser.
Olho para o “meu” ministério achando que ele é meu. Sinto o tempo passando... Dá uma certa angústia... Muitos dos que caminhavam comigo, alguns dos quais eu mesmo discipulei, foram ordenados bem antes de mim e, portanto, já realizaram mais obras do que eu. O tempo não para... Indago-me: o que vou dizer ao Senhor? O que vou apresentar a Ele naquele último dia? Eu sei que a obra de Deus é no ser, não no fazer, pois fazer é sempre conseqüência do ser. Mas sinto uma agonia... Vem de dentro para fora. E o tempo devorando tudo... Minhas certezas viraram dúvidas; o que um dia foi chão, agora é só poeira; aquilo que me parecia alcançável, distanciou-se tanto, que já nem posso ver.
Na minha arrogância, fico pensando: tanto potencial, com tão pouca utilização. Que grande desperdício! Inquieto-me. Preciso fazer algo, mostrar ao mundo que eu estou aqui, pronto, e à disposição. Eu poderia estar escrevendo livros, artigos para revistas, poderia estar pregando em congressos ou gravando CD’s. Queria viajar, abrir Igrejas, ir para a TV, fazer isso, aquilo e aquilo outro... Aí vêm os questionamentos: "a quem estou querendo promover? Com que propósito eu fui ordenado? Que ministério é este que Deus me deu?" Em seguida, reflito comigo mesmo: "isto está me fazendo mais mal do que bem". E é no meio desta contradição que ouço a voz suave do Espírito: “eu te atraí com cordas humanas, com laços de amor; sou para ti como quem alivia o jugo...”.
Num mundo feito para os campeões, como disse o Gondim, eu sei que sou apenas um “perdedor”. Queria chegar ao lugar mais alto do pódio, mas sinto-me como quem está afundado num tremedal de lama. Ó, Senhor, livra a minha alma! Não me permita sucumbir em meus próprios devaneios. Livra-me, Senhor, de mim mesmo! Salva-me dos meus próprios planos! Ajuda-me a ser como João Batista, que desejava te ver crescer, ainda que, para tal, ele tivesse que diminuir. Contudo, eu Ti confesso: como é difícil fazer a Tua vontade...
Quero compartilhar o que, a duras penas, tenho aprendido: há um tipo de sucesso que nada mais é do que fracasso, pois é na humilhação do ser que Deus é exaltado. Vivo dias em que o Senhor está arrazoando comigo. Sim, Ele me chamou, exatamente como fez com Jó, para uma conversa franca e aberta sobre os segredos do coração e os propósitos da existência. É inevitável não lembrar de Jeremias: “esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor”. Sim, Pai, deixe-me retornar. Quero voltar ao primeiro amor. Permita-me, apenas, promover o Teu Reino, pregar a Tua mensagem e engrandecer o Teu nome. Não seria isso bastante para mim?
Lembrei-me, também, de Filipe... Sim, Filipe, o diácono que deixou o avivamento de Samaria para pregar a um eunuco solitário, no meio do deserto. Já pensou que coisa mais maluca? Sair do meio da multidão para ir para o nada! Gente se convertendo, milagres acontecendo e, cadê o Filipe? Sumiu! Logo agora? No meio deste evangelismo de impacto? Trio elétrico tocando, ministério de dança, teatro, pregação de cura, libertação e, cadê o homem? Foi pregar para o eunuco! Que eunuco? Onde? Por quê? Que loucura é esta mensagem da cruz! Quão insondáveis são os caminhos desse Deus que ama os perdidos.
“A minha graça te basta, pois o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Eis onde está a minha esperança! Sucesso, sem Deus, é fracasso; vitória, sem Deus, é derrota; alegria, sem Deus, é tristeza; riqueza, sem Deus, é miséria. Obrigado, Senhor, porque um dia Tu me chamaste das trevas para a luz. Sim, Pai, muito obrigado porque me destes um motivo para viver, um propósito para existir e uma mensagem para pregar. Tudo é Teu! Tudo veio de Ti, e para Ti voltará. Por isso, Sole Deo Gloria!
Meus amigos de jornada, para mim chegou o momento de abandonar a teoria, pois está mais do que na hora de caminhar no caminho, e não apenas falar dele. No final, eu sei, permanecerá apenas a fé, a esperança e o amor. Tudo o mais passará, até mesmo a vida.
Portanto, Senhor, minha oração é que Tu me dês força para os braços e pernas, para que eu possa Ti servir com alegria, reverência para que o coração seja sempre agradecido, pacificado na graça, e um espírito manso, humilde e quebrantado, para fazer hoje, amanhã, e enquanto em mim houver fôlego de vida, a Tua vontade. E que, para tal, Tu me concedas a nobreza de aceitar ser aquilo que desejas, e não aquilo que eu quero ser...
Sola Gratia!
Carlos Moreira
29 julho 2009
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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.
É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.
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