Introdução
Semana passada, quando entrei em casa, vi a Gabi se esbaldando de rir na sala. Curioso, entrei no cômodo e percebi que ela estava assistindo a um desenho do Bob Esponja. Sentei ao seu lado e comecei a assistir também. No episódio, Bob Esponja havia saído do mar para ir a terra seca e, por conta disto, estava desidratado, quase morrendo.
Bob Esponja é uma série televisiva, criada por Stephen Hillenburg, que é veiculada no Brasil pela Rede Globo. Bob é uma esponja do mar quadrada, amarela e que vive no fundo do Oceano Pacífico, numa cidade submarina. Ele é um sujeito bonachão e ingênuo, que mora num abacaxi e trabalha num restaurante.
Nos próximos parágrafos, vou fazer correlações entre esse episódio do Bob Esponja, o “crente de igreja” e a mentalidade consumista dos nossos dias. Agora, para você compreender o porquê de tudo isto, leia o texto até o final...
Decifra-me ou te Devoro
“O fim material de toda atividade humana é o consumo”. William Beveridge. O termo “sociedade de consumo” é muito utilizado por economistas e sociólogos para definir o tipo de civilização que se encontra num avançado nível de desenvolvimento industrial. Lendo um pouco mais sobre o assunto, você poderá facilmente observar que uma das críticas mais comuns sobre a sociedade de consumo diz respeito a sua incapacidade de resistir às pressões do sistema capitalista.
De forma sintética, o objetivo do capitalismo é transformar o desejo do indivíduo, como consumidor, no desejo da massa, multiplicando exponencialmente o potencial de consumo. Para obter esse “milagre”, dentre outras coisas, aplica técnicas de marketing, inovadoras e inteligentes, para produzir nas pessoas a “necessidade” de consumir o que elas precisam e, não raro, o que nem imaginavam ter.
Do meu ponto de vista, a questão já assumiu proporções desastrosas. Estamos sendo movidos pelo que chamo de “concupiscência dos olhos”, ou seja, um desejo desenfreado de possuir coisas, muitas das quais, sequer precisamos. Você entra no shopping para tomar um sorvete e sai com uma calça jeans, um forno microondas e um belíssimo tapete para a sala de jantar. E haja cheque especial para “segurar a onda”!
A impressão que tenho, sem querer ser místico, é que há uma potestade espiritual atuando por trás deste sistema perverso. Existe uma espécie de “overdose de desejos” sendo projetada, ainda que de forma subliminar, na mente das pessoas, nos planos das empresas, nas leis dos governos e nos objetivos das nações.
Olhe para o que está acontecendo no mundo! Do ponto de vista ambiental, por exemplo, temos hoje uma situação insustentável, pois, para podermos saciar o apetite da sociedade de consumo, estamos exaurindo os recursos naturais do planeta, além de despejar indiscriminadamente resíduos tóxicos que ameaçam, seriamente, toda e qualquer possibilidade de regeneração da natureza e dos elementos imprescindíveis à sobrevivência humana. Tal cenário, não é fruto apenas do vazio e egoísmo humano, mas de projeções psíquicas, articuladas por “camadas espirituais”, que visam fomentar desejos incontidos nos indivíduos, não raro, contra si mesmos.
Este capitalismo “selvagem”, que nos empurra na direção de estar sempre adquirindo bens e serviços, impregnou de tal forma a nossa consciência que, como “efeito colateral”, passamos a existir condicionados a essa “espiral de consumo”. Em função disto, todas as interações que fazemos com o meio são baseadas em fluxos de interesses, os quais sempre se movem em nossa direção, como se fôssemos buracos negros, atraindo para nós mesmos tudo o que gravita ao nosso redor. É por isso que achamos tão natural comprarmos coisas indiscriminadamente, usarmos pessoas despudoradamente e explorarmos o planeta até a sua total exaustão!
Cristianismo à La Carte
Buscando correlacionar as implicações dos fenômenos psicossociais de nosso tempo com a vida religiosa, comecei a analisar a relação que existe entre o “crente” e a “igreja”. De antemão, quero lhe afirmar que, em muitos casos, trata-se de uma relação tipicamente patológica, que tem como uma das características principais o “espírito de consumo”, ou seja, esse arquétipo de, em qualquer circunstância, buscar apenas tirar proveito e extrair o máximo possível.
Costumeiramente, a relação desse indivíduo – que passarei a chamar de “Crente Bob Esponja” – com a comunidade, é uma relação baseada no “abuse e use”, na troca desigual, no benefício próprio, no egoísmo, na acomodação, na lei do menor esforço, no “venha a nós e Vosso Reino nada”. Minha conclusão não está baseada apenas em estudos de caso do gabinete pastoral. Pelo contrário, trata-se de uma análise de campo respaldada por anos de observação, por estudos de modelos conceituais, por conversas, discussões, e pela experimentação prática de processos organizacionais, métodos e formas de estruturação eclesiológica.
A conclusão a que cheguei, para minha tristeza, é a de que o “Crente Bob Esponja” é um consumidor voraz! Uma simples análise, por exemplo, sobre como ele escolhe a igreja a qual irá pertencer, já revela clara e objetivamente o problema. Exposto a esse tipo de situação, o “Crente Bob Esponja” levará em consideração apenas aspectos que atendam as suas conveniências e bem-estar. Dessa forma, o local onde irá congregar precisa ter, pelos menos, as seguintes características: bom estacionamento, ótima localidade – prioritariamente perto de casa – segurança, ar-condicionado, boa música, escola dominical para crianças, berçário, excelente pregação – de preferência que não fale em dinheiro nem de aspectos da fé como cruz, renúncia ou sacrifícios – bons programas e movimentos, além de recursos multimídia, é claro!
Na verdade, a relação do “Crente Bob Esponja” com a comunidade é uma relação baseada apenas no receber, e nunca no dar. Ele imagina que a igreja tem como função primordial servi-lo, que os programas foram criados para entretê-lo, que a mensagem foi feita para animá-lo, que os outros membros existem para confortá-lo, e que o pastor presta-se, apenas, a atendê-lo. Tudo gira em torno dele, inclusive Deus, que está ali, de plantão, como se fosse um maître, a sua inteira disposição, para solucionar todos os seus problemas.
Para o “Crente Bob Esponja”, questões como: compromisso, renúncia ao conforto, abrir mão do descanso, sacrificar a agenda, abdicar regalias, empreender recursos financeiros, servir aos necessitados, estão totalmente fora de questão, pois invertem o fluxo “natural” das coisas, não permitindo que ele seja o “centro do universo”. Por isso a grande maioria das igrejas experimenta uma dinâmica funcional (20/80), ou seja, 20% dos membros sobrecarregados, atarefados com uma infinidade de programas institucionais, para manter satisfeitos os 80% restantes, que não se envolvem com absolutamente nada, pois querem apenas “consumir”.
“Arqueologia” do Culto Cristão
Não seria possível, nesta reflexão, analisar os desdobramentos desta questão em todas as instâncias da vida eclesiástica e institucional. Portanto, para poder aprofundar um pouco a discussão, resolvi circunscrever o tema há alguns aspectos da celebração do culto. Para tal, preciso lhe fornecer um brevíssimo resumo sobre a evolução do mesmo.
Quando olhamos para as expressões cúlticas da fé judaico-cristã, partindo do Antigo Testamento, até os nossos dias, percebemos, claramente, um avanço gradativo e conceitual. Antes de mais nada, para alinharmos saberes, quero fornecer-lhe a definição de James Stanley Moore sobre culto. Ele afirma que: “cultuar é vivificar a consciência da santidade de Deus, nutrir a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, e dedicar à vontade ao propósito de Deus”.
A primeira manifestação de culto nas Escrituras foi individual, através da oferta de sacrifícios em altares, no tempo dos Patriarcas. Na seqüência, surgiu o tabernáculo, que se constituía num “centro de adoração”, meticulosamente construído, com cerimônias simbólicas, sacerdotes paramentados, elementos litúrgicos, rituais de sacrifícios e expiação.
Com a construção do Templo de Jerusalém, iniciou-se uma nova etapa na vida do povo de Israel. As celebrações continuaram com seus aspectos rituais, acrescidas da música como elemento de adoração a Deus. Com a queda de Jerusalém, destruída pelos Assírios, e o consecutivo período do cativeiro babilônico, a alternativa encontrada pelo povo de Israel para a celebração do culto foi à construção de sinagogas, lideradas pelos anciãos, onde funcionavam escolas que ensinavam a guardar os preceitos e rolos das Escrituras, mas ali não se faziam sacrifícios.
No período neo-testamentário, com a irrupção da era apostólica, as reuniões e cultos foram gradativamente passando das sinagogas e do Templo para as casas, sobretudo por causa da perseguição e do martírio dos fiéis. As reuniões eram realizadas aos domingos, em função de ser o dia da ressurreição do Senhor, sem instrumentos musicais, mas com cânticos em uníssono. Nelas havia a oportunidade de se partilhar a fé com outros irmãos e celebrar a Ceia.
Nos séculos que se seguiram, o culto tomou formas mais elaboradas, com leituras, orações e pregações cada vez mais litúrgicas. Iniciou-se a veneração dos mártires, o batismo de crianças, e o estabelecimento dos sacerdotes como intermediários entre Deus e os homens.
Com a “conversão” de Constantino, no século IV, o cristianismo passou a atingir as altas classes da sociedade Romana, o que acelerou seu processo de institucionalização como religião estatal, demandando assim a elaboração de uma liturgia mais esmerada e a realização de cerimônias mais pomposas, com a presença de elementos protocolares, como incenso, vestimentas, gestos e procissões.
Na Idade Média, as igrejas tornaram-se enormes e ricamente ornamentadas, servindo tanto para o culto como para cemitério. As cerimônias eram cada vez mais suntuosas, acompanhadas pelo canto gregoriano, e as formas litúrgicas acabaram substituindo os seus significados. A partir deste momento, o culto passou a perder, de forma acentuada, os elementos mais preciosos que possuía, tornando-se assim uma celebração oca, baseada em ritos tolos, banais, dessignificados, esvaziados de sentidos para Deus e, porque não dizer, até para os homens.
A Reforma Protestante, no século XVI, tentou trazer algumas mudanças na estrutura do Culto, sobretudo em termos da liturgia, que passou a ser mais simples e objetiva. A música voltou a ter um caráter mais significativo, com o retorno do cântico congregacional, e a pregação do Evangelho passou a ser a parte mais importante dos ofícios divinos. De fato, algumas coisas mudaram, mas, em minha opinião, mudou muito pouco, sobretudo, porque não continuou mudando...
Igrejas Cheias de Pessoas Vazias
Nos dias atuais, quando olho para algumas celebrações da igreja, tenho a impressão de que Deus não está nelas! Sendo verdadeiro, se eu pudesse, em muitas ocasiões, também não estaria, ou, dependendo do “andar da carruagem”, tentaria me retirar de maneira incólume. “Culto”, no século XXI, se tornou algo tão despropositado e esvaziado de conteúdos que não é de admirar que a grande maioria das pessoas sinta calafrios só de pensar em ter que ir a um de nossos encontros. Faça o teste! Pergunte aos seus amigos, que não freqüentem igrejas, o que eles acham de um “culto” de igreja?! Você verá que o que eu estou lhe dizendo é a mais pura verdade.
Pensando sobre isso, lembrei do profeta Isaías: “não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene”. Quem está falando, não é o profeta não, mas o Deus do profeta! É a fala angustiada de alguém que está entediado com o culto que Lhe é prestado, pois ele se transformou numa reunião cansada, “mofada”, sem discernimento, entendimento, ou quebrantamento.
Não sei se você sabe, mas, durante 20 anos, servi a igreja como ministro de música. Uma das regras mais básicas para quem executa esta tarefa é estar sempre atento as reações das pessoas, pois o objetivo principal é conduzi-las a um momento de comunhão e adoração a Deus. Na teoria, essa “técnica” é maravilhosa. Na prática, entretanto, se tornou desastrosa...
A questão foi a seguinte: imagina você gastar tempo com Deus em seu quarto, orar, pegar seu instrumento, buscar se aperfeiçoar, ir ao ensaio, elaborar os arranjos, chegar mais cedo no culto, passar o som, motivar a banda e, na hora do “vamos ver”, encontrar uma igreja apática e sonolenta. Eu começava o louvor e 2/3 da congregação se quer havia chegado ao culto e, quando chegava, atrapalhava a mim, que estava dirigindo, e aos que estavam tentando adorar.
Mais trágico ainda é quando você está dando o melhor, e se depara com alguém a sua frente que, irreverentemente, está lendo o boletim, ou conversando com o vizinho, brincando com os filhos, ou, para a desgraça ser total, está dormindo! Por essas e outras, resolvi ministrar louvor de olhos totalmente fechados, pois, assim, nem via a “desgraceira” que estava acontecendo no meio do templo, e o povo ainda me achava super-espiritual!
Ora, tudo que não procede do interior do ser, não tem qualquer significado para Deus. É por isso que o “vinho novo”, ou seja, valores e verdade do Evangelho, não pode ser contido nos “odres velhos” da religião. Mais cedo ou mais tarde, arrebenta! Deus não está buscando freqüentadores de igreja, mas “adoradores que O adorem em espírito e verdade”. Não quer ouvir vãs repetições de credos, ou orações que mais se parecem com ladainhas, não deseja louvores mecânicos, nem ofertas materiais, que saíram do bolso, mas não procederam do coração.
Quebrando Paradigmas
Esses problemas não são novos; sempre existiram. Quando olhamos para algumas epístolas de Paulo, vemos claramente que o culto entre os cristãos primitivos também parecia estar perdendo o seu significado maior. No texto de Coríntios, por exemplo, existe forte ênfase do apóstolo quanto à disciplina necessária para se realizar os encontros. Na sua exortação, aparecem questões ligadas à irreverência, Ceia deturpada, maledicência, abusos, sectarismos, divisões, problemas morais, eclesiásticos e até doutrinários.
Na Idade Média, as questões eram outras, mas giravam em torno do mesmo eixo. O culto sofreu a adição de elementos do paganismo, surgiram doutrinas heréticas, como esmolas garantindo o perdão dos pecados, as ordenanças foram pervertidas, atribuiu-se poderes mágicos ao batismo, além de muitas outras distorções.
O resultado projetado de tudo isto foi o estabelecimento de uma religião adoecida, calcada numa espiritualidade totalmente desprovida de conseqüências para a vida. É por isso que o “Crente Bob Esponja”, herdeiro desta “fé”, acha que já faz muito freqüentando um culto de igreja. Ele entra pela porta, não raro atrasado, senta-se na cadeira, e prepara-se para “consumir” o que vier pela frente.
O “Crente Bob Esponja” não tem qualquer expectativa de participar ativamente de uma celebração. Na verdade, para ele, duas horas de culto são um verdadeiro tormento, por isso consulta tanto o relógio. Às vezes ele fica inquieto, sonolento, e se a pregação tiver mais do que 30 minutos, provavelmente, não voltará mais, pois isto lhe deixa profundamente entediado. Ele participa da Ceia do Senhor, mesmo sem compreender muito bem o que ela significa e, na confissão de pecados, pede displicentemente a Deus que o perdoe. Além disto, no momento do ofertório, que representa uma parte “crítica” da liturgia, sempre sai pela tangente, ou seja, ou vai beber água, ou se dirige ao toalete.
Diante de tudo isso, ainda há algo que possa ser feito? Há. Mas tem que se ter coragem. O ponto de partida, no meu entendimento, está associado à necessidade de quebrarmos um perigoso e antigo paradigma: que culto é um momento feito apenas para se receber, e não, prioritariamente, para oferecer!
No meu entendimento, esta inversão de valores talvez esteja associada à impregnação de nossa consciência pela “bendita” mentalidade consumista. Acredito também que, para nos libertarmos do problema, precisamos passar por uma espécie de “quimioterapia doutrinária”, ou seja, uma overdose de verdades das Escrituras sendo inoculadas em nossa mente e coração para quebrar os conceitos e valores equivocados nos quais acreditamos.
Vejamos, então, o que diz as Escrituras: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”. 1ª Co. 14:26.
Paulo está falando sobre a celebração do culto. Não me parece ser um encontro onde tudo já está pronto, e os ouvintes vão para lá apenas para ser “atores” coadjuvantes, espectadores imparciais ou “consumidores” passivos. Não! Ele nos aconselha a fazer a celebração de forma participativa, para que cada membro do Corpo possa contribuir com aquilo que o Senhor tem lhe dado, na intimidade da oração, nos momentos devocionais, nas experiências de livramento, no aconchego frente à dor da perda, na gratidão pelo perdão imerecido, na alegria decorrente da certeza da vitória, na paz que conforta o coração quebrantado. Creio ser esta a dinâmica que Deus deseja se, de fato, pretendemos cultuá-lo!
Ora, isso é possível? É! Mesmo que sua igreja seja litúrgica, como a minha, isto pode ser feito! Sim, o culto não precisa ser realizado apenas pelos sacerdotes! O culto é o somatório da oferta de dons e talentos de todo o povo de Deus! E mais, o melhor momento do culto, é o culto, ou seja, cada parte é singular naquilo a que se propõe. Creio firmemente que é possível desenvolver uma liturgia livre, não obstante ordenada, espontânea, não obstante organizada, de tal forma a conceder ao Espírito de Deus a liberdade que Ele deseja para agir poderosamente em nosso meio.
Portanto, quebre os paradigmas! Vá ao culto querendo contribuir com algo! Peça para dar um testemunho, ou para fazer a leitura de um texto. Ore por quem está ao seu lado, bata palmas no louvor, ajude a receber os que estão chegando, ou, quem sabe, a arrumar o templo, operar o datashow, contribuir com a montagem do som, distribuir o boletim, etc. Há tanta coisa que você pode fazer! Então, por que não faz? Quer começar com algo importante? Que tal chegar na hora?
A Conversão do “Crente Bob Esponja”
Chegou à hora de voltar ao Bob Esponja! No episódio que estava vendo com a Gabi, o pobre coitado se encontrava à beira da morte, pois estava na terra e precisava, desesperadamente, voltar para o oceano. A questão é que a superfície epitelial esponjosa do Bob é capaz de captar toda a água que ele necessita para estar bem e confortável. Na terra seca, entretanto, isso não é possível. Assim, por conta do calor do sol, ele começou a ficar fraco, dispnéico, quase perdendo os sentidos. Não tivesse voltado para o mar, certamente teria morrido.
Quando o episódio acabou, em meio às gargalhadas da Gabi, saí pensando sobre a semelhança que há entre o Bob Esponja e o “crente de igreja”. É que ambos são bonachões, ingênuos, e precisam de sua “zona de conforto” para sobreviver. Se você tentar tirar o “crente de igreja” de seu habitat natural, que é o banco da igreja, ele começará a passar mal e ficará sem fôlego. Sua “rotina eclesiástica” já está definida e, por isso, você não deve dar-lhe qualquer atribuição ou desafio, pois isso pode, simplesmente, “matá-lo”!
Não pense que será possível, a não ser que o “Crente Bob Esponja” se converta, tirá-lo do seu “oceano” de confortos e regalias, para botar a “mão na massa”. É que, via de regra, é mais fácil ele morrer totalmente desidratado, ou seja, esvaziado de significados para viver a existência, sobretudo pela aridez de sua relação com Deus, que foi apenas capaz de produzir uma religiosidade esturricada, do que se lançar em fé e amor numa comunhão íntima e prazerosa com o Pai, fruto de uma disciplina constante baseada em oração e adoração, que é o “culto racional”.
Creio que se isso não acontecer, ou seja, uma transformação de dentro para fora, o “Crente Bob Esponja” continuará a viver nesse grande “abacaxi” que se tornou a sua vida, assim como o personagem do desenho também vive num. A conseqüência disto é que ele será eternamente criança, ingênuo, praticando uma fé desprovida de propósitos, uma espiritualidade esvaziada de sentidos, um cristianismo apenas de retórica. Poderá ir aos cultos, ou até freqüentar outras reuniões de igreja, porém, quanto mais fizer isso, mas “seco” se tornará!
Não se esqueça, todavia, que Deus é poderoso e pode, num momento de crise, quando o “Crente Bob Esponja” estiver “agonizando” em “terra seca”, se usufruir da situação para levá-lo a ter um encontro que mude, de forma definitiva, toda a sua vida, ressignificando assim os seus dias. Por isso, nunca desista dos “Bob Esponjas” de sua comunidade, pois amanhã, quem sabe, um deles poderá se tornar até o pastor da igreja! Comigo foi justamente assim...
Conclusão
Certa vez, conversando com um pastor amigo, alguém já calejado no ministério, ouvi o seguinte: “rapaz, às vezes eu me sinto como se fosse um animador de auditório, ou um palhaço de circo, tentando motivar as pessoas para que elas prestem um culto com o mínimo de significados para Deus. Me esforço, faço “malabarismos”, “pirotecnias” e tudo o mais, contudo, confesso: é difícil...”. Achei a afirmação curiosa, sobretudo, porque essa é a impressão que tenho, por vezes, quando estou celebrando cultos. Sinto-me como se estivesse com uma enorme mangueira, jogando água sobre uma multidão de “Bob Esponjas”. Dá para entender?!
Sonho em ver uma igreja transformada pelo Espírito Santo, com pessoas que entenderam o significa que há em oferecer um culto a Deus. Sonho com homens e mulheres que desejem ir além do banal, do corriqueiro, que professem uma fé que não seja apenas verborragia, que pertençam a uma comunidade que não seja uma sacola de membros esquartejados, que possuam uma consciência apaziguada em fé, sem julgamentos, presunções ou disfarces. Sim, como Martin Luther King, eu também tenho um sonho...
Contudo, sei que para chegar até este ponto, muita “borracha” ainda tem que ser queimada. Digo isso porque creio que o concerto na Casa de Deus começa pelos pastores e líderes, por aqueles que influenciam pessoas, tomam decisões, exercem autoridade e ensinam a Palavra. Chegou à hora de chamarmos para nós mesmos a responsabilidade de produzir, nesta geração, arrependimento e quebrantamento, enquanto ainda há tempo. Façamos como fez o profeta Amós, quando afirmou: “prepara-te ó Israel para te encontrares com o teu Deus”!
Quanto a mim, a impressão que tenho é que quanto mais rezo, mas assombração me aparece! Por isso, não ficarei assustado se, qualquer dia desses, quando estiver entrando na igreja para celebrar o culto, encontrar entre os presentes o Mickey Mouse, o Pato Donald, o Zé Colméia e o Pernalonga. É que eu já vi tanta esquisitice em igreja que, uma a mais, uma a menos, não vai fazer qualquer diferença...
Agora, medo mesmo vou ter se alguém da comunidade, querendo ser hospitaleiro e cordial com essa turma, se arriscar a perguntar a um deles o que estão fazendo ali. Sim, é que eu tenho a nítida impressão que a resposta será algo do tipo: “viemos hoje aqui porque nos disseram que o “Pateta” iria pregar!”. É, amigo, não se iluda não, por vezes, pastor parece mesmo é com pateta! Durma com um barulho desses...
Sola Gratia !
Carlos Moreira
Perseverança
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