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28 dezembro 2010

Feliz Ano Velho!


Não sei se você já leu “Feliz Ano Velho” de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 1982. O livro é um relato verídico do acidente que o deixou tetraplégico a poucos dias do Natal de 1979.

Garotão Paulista, 26 anos, estudante de engenharia, bon vivant, Marcelo decide, após uma farra, dar um mergulho num lago com meio metro de profundidade. Fatal. A quebra de uma vértebra da coluna o levou a ficar em recuperação na UTI por 12 meses; uma luta lenta e dolorosa. Em seguida veio o colete de ferro, a cadeira de rodas, os momentos de desespero e os pensamentos em suicídio.

Mas Marcelo, a partir de sua nova realidade, dá a volta por cima, aprende a lidar com suas limitações, “degusta” cada dia como se fosse o último, recebe o carinho dos amigos, da família, e narra com um humor próprio às venturas da velha e da nova vida.

Mais um ano está terminando. Para muitos, 2010 não foi um ano bom e isso inclui a mim. É difícil chegar ao fim, principalmente quando não foi o que esperávamos. Acostumado a lidar com números, projeções, resultados, quero estender a prática de usar a métrica e os méritos para avaliar a vida. Impossível... A vida de um homem, conforme Jesus, não consiste nos bens que ele possui, mas em quem ele se tornou. Utopia? Resignação? Filosofia? Não. Nada disso. Propósito.

Não sei como foi o seu ano... Talvez você tenha falido, ou perdido um grande amor, talvez tenha descoberto um câncer, ou sepultado seu pai, sua mãe, um irmão, um amigo... Olhando pelo “retrovisor”, o que você vê de 2010? Perdas, danos, medos, desencontros, decepções? Qual é o saldo do seu ano? Negativo?

Saiba, você não é o único, eu também estou me sentindo assim. Aos 43 anos, contudo, já aprendi a não basear minha vida em sentimentos e, o mais importante, que todos os acontecimentos que me sobrevieram acabaram por forjar em mim um ser melhor, me ensinaram que a vida não é feita só de alegria e felicidade.

Usando o livro de Eclesiastes, capítulo 7, quero compartilhar com você 7 coisas que podem lhe ajudar a mudar sua análise de 2010. Sim, o filósofo que escreve o texto, aparentemente pessimista e desencantado da vida, nos dá uma enorme lição de que coisas maravilhosas se escondem, não raro, por detrás de fatos e situações difíceis, dores e dramas.  

Melhor é um bom nome do que um perfume finíssimo”. De fato, não há nada melhor do que ser honrado, entrar nos lugares de cabeça erguida, saber que agi de boa fé, que não defraudei, não soneguei, não corrompi e que, mesmo com dificuldades, honrei os compromissos. Sim, isso é melhor do que o “perfume fino”, aquele que serve para suavizar a podridão da vida, a falsidade do ser, o disfarce da alma, o embuste existencial, o estelionato da consciência, a dureza do coração.  

Melhor é o dia da morte do que o dia do nascimento”. Ao nascermos estamos cheios de “deformidades”, de inconsistências e contradições, a vida toda está pela frente e não sabemos como ela será. Na morte é diferente, pois a existência inteira está atrás de nós. Com ela saberemos, exatamente, quem nos tornamos, o que realizamos, o que tatuou-se em nossa alma, o que alojou-se em nosso coração, pois nossos pés já pisaram o chão da vida e nosso sangue e suor, quais sementes de esperança, foram plantados em solo sagrado e aguardam a revelação da eternidade para desabrochar flores e frutos.

Melhor é ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa”. Se você sepultou alguém este ano este versículo lhe fará todo sentido... Sim, porque na casa do luto há dimensões da vida que não se encontram em nenhum outro lugar. Só na casa onde há morte é que as mais belas manifestações da vida desabrocham; solidariedade, amor, a dor partilhada, misericórdia, amizade, contrição, carinho, afago e afeto. 

Melhor é a tristeza do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. É na perda que as pessoas tornam-se grandes, crescem, sobrepujam-se. Um rosto abatido é sinal de uma alma que experimentou dias cinzentos, mares revoltos, ventos tempestuosos. Mas é certo que depois de todo aguaceiro vem à bonança e o sol sempre volta a brilhar. O choro dura uma noite, diz o salmista, mas a alegria vem pela manhã.

Melhor é ouvir a repreensão de um sábio do que a canção dos tolos”. Somos movidos a elogios, pois eles alimentam nossas vaidades; na sociedade da imagem, é melhor parecer do que ser. Detestamos a correção, o amigo que nos diz a verdade na face, a mensagem que nos sacode a consciência, a voz que nos questiona no íntimo. Aprendi a amar o confronto e a ter cuidado com os aplausos...  

Melhor é o fim das coisas do que o seu início”. Há uma frase que diz: “numa maratona, o importante não é como você começa, mas como você termina”. Sim, no final tudo está exposto, tudo está claro, tudo está consumado. Será no final da sua vida que você estará mais próximo de ser aquilo para o qual foi predestinado, pois seu caráter, tendo sido disciplinado por toda uma a vida, revelará um ser parecido com Jesus.

Melhor é o paciente do que o orgulhoso”. O orgulho leva-nos a impetuosidade, e esta, por sua vez, a fazermos escolhas desastrosas, tomarmos decisões duvidosas, andarmos por caminhos de morte. Já o paciente é aquele que, com coração humilde e quebrantado, aprendeu a discernir que o silêncio leva um tolo a passar por sábio, que a arrogância é um veneno para a alma e a pressa inimiga da perfeição.

Por tudo isso que lhe relatei, pelo que está dito no Eclesiastes, quero lhe desejar um Feliz Ano Velho! Que tudo que você viveu possa transformar-se em paz e bem para sua vida. Que o fracasso, a perda, a dor, e até a morte possam produzir em você coisas boas, um coração pacificado e uma consciência elevada.

No mais, a despeito de todas as coisas, Deus continua sendo Deus, Sua autoridade e justiça dominam sobre todas as coisas e o melhor: Seu amor por mim e por você não mudou. Sim, tenho total consciência que não há nada que possamos fazer que O leve a amar-nos mais, ou a amar-nos menos.

Por isso, só tenho a lhe desejar um Feliz 2010! Salve, salve! Ah, sobre 2011? Não sei... Não sei mesmo... Espero que seja um ano bom, mesmo sendo ruim...

Carlos Moreira

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