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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

31 julho 2009

Semeadores de Sonhos


"Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário." Michelangelo.

Sempre que alguém acha uma lâmpada maravilhosa e “aciona” o gênio, ele sai em forma de fumaça do receptáculo para fazer a célebre pergunta: “qual o seu desejo, amo?”. O que me chama a atenção, é que o anseio do bem-aventurado sempre trata de algo grandioso, como bens, fortuna e sucesso. Nunca li em nenhuma destas fábulas, ou ouvi qualquer anedota do gênero, em que o “amo” dissesse, de forma resignada: “quero encontrar paz”; ou, “desejo ser generoso”; ou ainda “sinto a necessidade de ser simples”. Invariavelmente, todos os que são inquiridos pelo gênio apresentam uma lista fantástica de coisas estupendas!

E você? O que você faria se encontrasse o gênio da lâmpada? O que você pediria a ele: coisas ou virtudes? Como não creio em gênios, fiquei pensando se Deus me aparecesse e fizesse a dita pergunta, o que eu faria? Certamente, pediria algo grande! Aliás, eu primeiro indagaria, com respeito ao Todo Poderoso, quantos desejos poderiam ser atendidos, pois, em se tratando de sonhos, os meus são sempre enormes... Confesso: nunca tive vergonha de sonhar. Sou um sonhador convicto e, provavelmente, incurável.

Quando penso em realizar coisas para Deus, nunca projeto coisas pequenas, singelas, despercebidas. Sei que a oferta da viúva pobre foi a que mais impressionou a Jesus, mas creio não ter sido por conta do valor monetário, e sim pelo significado de que ela deu, de coração, o melhor do que possuía, ofertou a si mesma e a tudo o que tinha.

O fato é que eu sou mesmo incorrigível: sempre penso em algo grande! Já me questionei, por diversas vezes, se a suposta “megalomania” não teria a ver com meus desejos pessoais, coisas da “carne”, no nosso “crentês”. Quem sabe para ser projetado, ou para receber elogios, ou, talvez, para provar, para mim mesmo, que sou capaz.

Em todas estas coisas há uma dose de verdade... Por certo, estes sentimentos já foram mais intensos quando eu tinha 20 anos. Aos 30 eles diminuíram paulatinamente. Hoje, aos 42, quase que se diluíram totalmente. É que nesta etapa do campeonato, com barba branca e sinais de rugas nos olhos, já não tenho mais nada a provar para ninguém. Pela graça de Deus, conforme Paulo, sou o que sou, e não me envergonho de quem me tornei, pelo contrário, tenho uma história com Deus, um caminho construído muito mais com perdas e dores do que com conquistas e vitórias. Quem me conhece que o diga...

Por isso, é bem provável que você nunca me encontre sendo piegas ou me servindo de hipocrisia e falsa humildade quando se trata de realizar algo. Não! Se me perguntar o que sonho para Deus, digo-lhe sem pestanejar: sonho com coisas grandes! E mais: não sinto qualquer desconforto com isso. Aliás, não tenho culpa de pertencer a uma geração que não sonha! Não me sinto desafiado a reproduzir a mediocridade dos que se acomodam e se satisfazem com pouco e, para tal, apresentam como desculpa o fato de que Deus aceita, de bom grado, tudo o que fazem para Ele, mesmo que seja sem qualquer esmero. A verdade é que não desejo nunca usar minha agenda como desculpa, ou minhas limitações pessoais como álibi para não realizar aquilo que, creio, posso fazer!

Recentemente ouvi uma frase que me deixou encafifado: “prefiro segurar doido a empurrar acomodado”. Quem dera ter mais “doidos” na Igreja! Quem dera ter gente mais empolgada, apaixonada, sonhadora. Quem dera ter tantos poetas como temos “profetas”; a Igreja seria um lugar melhor de se viver. Quem dera ter gente desprendida, como temos avarentos, gente comprometida, como temos displicentes, gente com espírito sacrificial, como temos negligentes. Ah, quem dera...

Sonho com o dia em que nossas ambições sejam a de ganhar almas mais do que a de ganhar dinheiro. Acredito que ainda verei o dia em que aqueles que receberam “10 talentos” os ponham para render para o seu Senhor, e não para si mesmos. Almejo ainda estar vivo no momento em que nossos tesouros estejam apenas em “vasos de barro”, e não em ações da bolsa de valores. Sim, irmãos, não me custa nada sonhar...

Por isso digo: grande Michelangelo! Nunca via a pedra bruta, sem forma, sem beleza, sem propósito. Pelo contrário, onde ninguém observava coisa alguma, ele enxergava uma escultura magnífica! Tudo o que era necessária era retirar da alma e do coração toda a pequinês, mediocridade, apatia, conformismo e preguiça.

Que Deus levante entre nós homens e mulheres que sonhem! Gente que olhe para uma casa velha e veja nela um centro de recuperação de drogados. Gente que olhe para lugares abandonados e veja escolas de formação profissional. Gente que olhe para um bom ponto comercial e não veja apenas uma loja, mas uma livraria, ou cafeteria, um lugar para abrigar gente, com boa música, onde as conversas possam acontecer, onde os valores do Reino possam ser fomentados de forma criativa e inusitada no coração das pessoas.

Sonhar é preciso! Por isso sonho, e não me satisfarei com pouco, mas estarei sempre agradecido por tudo aquilo que o Pai me permitir realizar. Empreenda, almeje fazer coisas extraordinárias, pois, como disse o Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Quero conquistar o bairro onde estamos plantados como Igreja! Desejo que nossa comunidade seja relevante na cidade onde estamos! Peço ao Senhor que nossa visão e missão se espalhe pelo nordeste! Trabalho duro para, um dia, poder influenciar os que habitam em meu país.

Lembro-me que, em 1991, fui a um congresso em Brasília para ouvir o Dr. Myles Monroe, o influente pregador das Bahamas. Naquele encontro, ele nos trouxe uma palavra que tratava de nosso potencial. A mensagem era um resumo de seu livro “Understanding your Potencial” – “Entendendo o seu Potencial” que, mais tarde, se tornou um livro com grande vendagem em todo o mundo.

Naquela manhã de verão, o Dr. Myles perguntou a platéia de mais de 3.000 pessoas: “qual o lugar mais rico da terra?”. As respostas foram surgindo: “o conglomerado de Wall Street”; “os poços de petróleo do Oriente Médio”; “os museus da Europa”. Para todas elas, entretanto, o pregador balançava a cabeça em sinal negativo. Por fim, ele afirmou: “o lugar mais rico da terra é o cemitério. Sim, lá estão enterrados negócios que nunca foram abertos, projetos que nunca foram realizados, livros que nunca foram escritos, músicas que nunca foram compostas, obras de arte que nunca se materializaram. O lugar mais rico da terra é o cemitério, pois lá estão enterrados os sonhos das pessoas”. Albert Schweitzer disse certa vez: “a tragédia do homem é o que morre dentro dele enquanto ele ainda está vivo”. Sim, a pior coisa do mundo é gente que morre “grávido” de seus sonhos!

Quando o Dr. Myles terminou sua preleção, eu estava ajoelhado com meus olhos encharcados de lágrimas, pensando quais eram os meus sonhos. Podia ouvir ao fundo o cantor Asaph Borba cantando a canção que dizia: “minh’alma engrandece ao Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador. Pois com poder tem feito grandes coisas, e com misericórdia tem mostrado amor...”.

Meu corpo estava curvado, meu coração contrito e meu espírito quebrantado. A canção havia terminada e um silêncio gostoso imperava no auditório. Depois de alguns minutos, o Dr. Myles tomou o microfone e disse: “Não morra com Meus sonhos! Não morra com Meus sonhos!”. Todos sabiam que não era ele quem falava, era o Senhor.

Saí daquele lugar impactado. Voltei para Recife com desafios novos e com uma vontade incontida de ser útil aos propósitos de Deus. Disse a Ele em oração: “quero conhecer quais são os Teus desejos para mim, e quero me esforçar o tanto quanto possível para que eles se concretizem”.

De lá para cá, já se foram 18 anos... Caminhando no caminho que só pode ser feito enquanto se caminha, tenho visto muitos destes desejos se tornando realidade. Mais ainda é pouco! E digo isto porque creio que Deus ainda tem mais. Por isso continuo, como sempre, fazendo planos e sonhando, sonhando como nunca...

Sola Gratia !

Carlos Moreira

A Igreja e os ET's


Esta semana, ao passar em frente a uma banca de jornal, li a seguinte manchete na capa de uma revista de grande circulação: “Descoberta de água em marte pode responder a uma das mais antigas perguntas da humanidade: existe vida fora do nosso planeta?”.

Embora a igreja cristã tenha produzido muitos intelectuais notáveis ao longo de toda a história, de uma forma geral, ela tem uma verdadeira aversão a tudo o que é novo, especialmente a discussões sobre assuntos para os quais não tem resposta nem deseja ter, entre eles, a questão da vida em outros planetas.

É compreensível que a igreja cristã não esteja disposta a discutir esse tipo de assunto “herético”, afinal de contas, caso existam outros planetas, toda a teologia da igreja terá que ser repensada e muitos dos seus dogmas, defendidos com unhas e dentes por padres e pastores, irão por água abaixo.

A igreja afirma, baseada na exegese de João 3:16, que Deus amou o mundo e por isso enviou Jesus para morrer pelos homens pecadores. Caso fosse comprovada a existência de vida inteligente em outros planetas, que valor teria a redenção para esses nossos “irmãos intergaláticos”? E a cruz? Cristo teria morrido várias vezes em várias cruzes espalhadas pelo cosmos?

Confesso que perguntas como estas não são fáceis de responder. Por esse motivo, talvez os padres e pastores prefiram encerrar a discussão dizendo que as pessoas que fazem essas perguntas estão sendo influenciadas pelo diabo e que os ET´s (se é que existem) não passam de demônios.

Esse foi o método usado pela igreja ao longo dos anos todas as vezes que perguntas como esta questionavam certos dogmas. Sempre que a igreja se viu em perigo de natureza teológica acusou pessoas de possessão e depois as queimou na fogueira.

O heliocentrismo hoje em dia é fato consumado, mas houve um tempo em que dizer que o sol, e não a terra, era considerado o centro do nosso sistema, era crime passível de morte.

O próprio Agostinho não acreditava que existisse se quer outros continentes, afinal de contas, dizia ele: “como pode Deus ter colocado pessoas em outras terras, separadas de nós pelos mares, afastadas da igreja e sem possibilidade de ouvir o Evangelho?”.

Pelo visto, o próprio Agostinho, não obstante seus indiscutíveis dotes filosóficos e teológicos, acreditava que o mundo se reduzia a Roma e ao norte da África, onde ele nasceu. Até mesmo os grandes pensadores se deixam laçar pelos tentáculos do cristianismo institucionalizado e seus dogmas.

Pena que Agostinho tenha morrido bem antes do final do século XV, quando Cristóvão Colombo, coincidentemente o portador de Cristo (crist: Cristo, ovan: portador), fez os primeiros contatos com as criaturas que Agostinho julgava ser impossível existirem.
A igreja cristã é a instituição mais paradoxal e contraditória que já conheci. Se por um lado ela leva muitas pessoas ao conhecimento de Jesus Cristo, por outro, ela mesma se encarrega de afastá-las de Deus por causa do seu fundamentalismo.

Eu não conheço uma única passagem da Bíblia na qual Jesus, ao ser abordado por alguém com uma pergunta de difícil resposta, tenha dito que o seu interlocutor estava possesso.

Para alguns pastores é bem mais fácil dizer que a pergunta de alguém foi influenciada pelo diabo do que admitir sua ignorância no assunto, tomar vergonha na cara e ir estudar.

Portanto meu bom amigo, se você quiser fazer qualquer pergunta sobre vida fora do nosso planeta, procure qualquer um menos o seu pastor, caso contrário você será acusado de heresia e pacto com o diabo, e sua pena só será atenuada se você estiver com o dízimo em dia, caso contrário, é melhor ser abduzido.

André Pessoa

Perplexidade sem Comoção


Desde que coloquei os meus pés pela primeira vez numa igreja evangélica que escuto os pastores e pregadores cristãos se referirem à sociedade ao nosso redor como o “mundo”. Nas pregações é comum ouvir algum empolgado orador referindo-se a sociedade laica como “o mundo lá fora”.

Enfim, para a maioria dos pregadores, a igreja é algo totalmente separado do universo das coisas e das pessoas, profanos por natureza. Tem-se a impressão, ao ouvir-se esses arautos do dualismo cartesiano, que o cristianismo se desenvolveu num vácuo, alheio a tudo e a todos.

Quero propor nesta curta reflexão a seguinte tese: para saber o que está acontecendo na igreja devemos observar e analisar o que está ocorrendo no mundo e para saber o que pensa o mundo é preciso observar o que acontece na igreja.

Por exemplo, não é preciso ser um grande especialista em problemas eclesiásticos ou em homilética para perceber que o tipo de sermão que a igreja tem ouvido nos últimos cem anos já não comove as pessoas que compõem a congregação.

Os dirigentes da igreja e pregadores precisam entender que as pessoas que freqüentam os templos nos nossos dias são indivíduos à beira da apostasia a quem as minúcias físicas e emocionais da morte violenta de Jesus Cristo na cruz não mais comovem.

No último final de semana estive numa grande igreja de nossa cidade e vi um bom pregador (espécie em extinção em nosso meio) fazer das tripas coração e se debater em visível esforço para levar à comoção um público apático e sem vida, muito parecido com os ossos secos da visão de Ezequiel.

As pessoas para quem ele se dirigiu só davam aleluia e amém mecanicamente, faziam isso mais pela obrigação de compensar o esforço do homem de Deus do que porque verdadeiramente estivessem sentindo algo que de longe pudesse ser comparado a ação do Espírito Santo.

As igrejas viraram cemitérios, os crentes são defuntos que ainda não abandonaram o hábito de ir ao culto, mas que mais cedo ou mais tarde o farão. Os nomes nas fachadas dos templos se transformaram em epitáfios denominacionais.

Os pregadores evangélicos, boa parte deles despreparados, insistem num modelo de pregação falido e que não surte mais efeito quando dirigido a um ouvinte de cultura mediana atordoado pelo ceticismo do mundo contemporâneo.

O máximo que o homem de Deus, de quem falei linhas atrás, conseguiu com seu sermão ensaiado durante toda a semana pra levar os ouvintes à contrição com Cristo foi uma perplexidade sem comoção, sentimento estranho e patético muito comum entre as pessoas que vão aos cultos.

Perplexidade sem comoção, eis a atitude que se observa nos evangélicos que freqüentam as igrejas históricas de hoje e que ingeriram um veneno para o qual os pregadores ainda não possuem o antídoto. Nem o Instituto Butantan impedirá as agonias que sobrevirão à igreja no Brasil.

De cada trinta pessoas que vão aos cultos em nossos dias, quinze deixarão de comparecer a eles nos próximos três anos e as outras quinze se dispersarão paulatinamente enquanto os pregadores se debaterão com sua luta titânica contra os moinhos de vento.

Posso perceber no semblante das pessoas que elas não encontraram o que foram buscar nos cultos dos quais participam. A mensagem pregada tem cheiro de antiguidade e teia de aranha. As pessoas estão frustradas, mas ficam em silêncio, porque na igreja, assim como nas penitenciárias, o silêncio é a lei (quem a transgride paga com a exclusão).

Se os pregadores quiserem ser bem sucedidos nas próximas décadas, e isso não significa pregar para auditórios lotados, terão que abordar os antigos textos sobre uma nova perspectiva. Não se coloca vinho novo em odres velhos!

Precisarão expor textos não expostos, falar o que não foi falado, ousar enunciar uma nova teologia perpassada pela cultura e descer até as profundezas a fim de resgatar as vidas que estão à beira do abismo no qual os seres humanos afundam todos os dias.

Chega de sermões apologéticos de quinta categoria! Até Deus já está tapando os ouvidos com as mãos cada vez que o dirigente de um culto anuncia: “vamos ouvir agora a palavra de Deus”. Penso que, lá do céu, Deus pergunta retoricamente: “Minha Palavra?”.

A palavra de Deus cessou nos púlpitos. O que existe hoje, com raras exceções, é uma decadente caricatura daquilo que um dia chamou-se sermão. Tudo isso me faz lembrar as palavras do profeta Isaías: “O que sacrifica um boi é igual ao que comete um homicídio” (Isaías 66:3).

Cultos vazios de significado são considerados atos criminosos por Deus! Ressuscitai pregadores, consultai as Escrituras, observai o mundo, ouvi o povo e buscai a Deus a quem dizeis que servis. Caso contrário, as pregações serão apenas “palavras, pequenas, palavras apenas, palavras.”...

André Pessoa

30 julho 2009

Olhando Fixamente no Espelho


Rosa Montero, em seu livro “Paixões: amores e desamores que mudaram a história”, faz uma interessante narrativa biográfica do Beatle John Lennon, de quem diz que aos 10 anos de idade “fazia coisas estranhas como olhar-se fixamente no espelho durante uma hora até seu rosto se decompor em imagens alucinantes”.

O Pastor americano David Fisher, citando Loren Mead, explica que a igreja, na melhor das hipóteses, está marginalizada e que algumas igrejas não enxergam essa realidade e funcionam como se nada estivesse acontecendo de errado, deixando assim de entender os tempos, mas apenas falando para si mesmas e, conseqüentemente, exercendo uma influência cada vez menor em seu mundo.

A esta altura você pode está se perguntando: que relação existe entre a Igreja evangélica e o excêntrico John Lennon ainda criança? Quase nenhuma, a não ser pelo fato de ambos terem o estranho hábito de ficar o tempo todo olhando fixamente para si mesmos! Sempre que olhamos insistentemente para nós mesmos, desenvolvemos atitudes egocêntricas e pueris. E, como acontecia com o famoso Beatle, as imagens vão paulatinamente se decompondo e formando figuras bizarras e alucinantes.

Além disso olhar apenas para si mesmo esquecendo os outros e o mundo ao nosso redor é uma atitude própria dos egocêntricos a quem Paulo chamou em Corinto de crianças espirituais (I Cor. 3:1). Pessoas e instituições egocêntricas estão preocupadas apenas com a satisfação dos seus desejos imediatos e totalmente alheias àquilo que lhes espera no futuro, motivo pelo qual se tornarão presas fáceis para os predadores espirituais.

Da mesma forma que Lennon, muito dado às bizarrices, via sua própria imagem se decompor no espelho, a Igreja evangélica brasileira, guardadas as dividas proporções, também começa a assistir o espetáculo escabroso e horrendo dos escândalos ministeriais, do desinteresse pelo culto (justificável, diga-se de passagem), da queda das contribuições financeiras e do marasmo hermenêutico e homilético dos sermões que não dizem nada.

Aliás, a palavra decomposição, gostemos disso ou não, expressa com grande realismo a situação da maior parte das instituições eclesiásticas do nosso país. Com raras exceções, a nossa prolongada conversa com o espelho tem decomposto (separado, desmembrado, dissolvido) aquilo que deveria estar unido em torno de Cristo; afinal de contas, foi ele mesmo quem disse que um reino dividido será devastado (Mat. 12:25).

É bom lembrar também que a decomposição é um estado posterior ao apodrecimento! E que, uma vez decomposta, a matéria, seja ela eclesiástica ou não, acaba unindo-se ao todo como se nunca tivesse existido. Estaríamos nós num estado posterior à própria podridão? Livre-nos Deus desse tão grande mal!

O que os líderes da Igreja evangélica brasileira estão fazendo para evitar o caos eclesiástico? Que medidas estão sendo tomadas para reverter esse processo de destruição acelerada da Igreja? Estão os pastores das igrejas empenhados em discutirem alternativas, ou continuam fazendo o papel da orquestra no convés do Titanic, que tocava “mais perto quero estar” para entreter as pessoas enquanto o navio estava afundando e levando pras profundezas os seus tripulantes?

André Pessoa

Desprogramando o Chip


Tornei-me um andarilho da fé... Minha experiência cristã é o recorte de muitos matizes, o resultado de um estranho sincretismo de doutrinas e denominações. Em duas décadas e meia, fui do Pentecostal ao Episcopal, com pit stop entre os Batistas e o pessoal da Comunidade Evangélica. Congreguei em 7 igrejas, estudei em 3 seminários teológicos, estive sob a autoridade de 5 pastores e 5 bispos, e, não me pergunte como, mais ainda continuo “crente”. É que a graça de Deus, irmão, é poderosa mesmo!

Tantas andanças me fizeram observar a vida cristã por ângulos bem distintos. Conheci gente de toda espécie: santos e “santarados”, bondosos e bandidos, piedosos e picaretas. Trabalhando na “obra”, vi de perto as “entranhas” do mundo institucional. Não é coisa boa não! A “máquina” funciona, por vezes, de maneira perversa. Conheço muita gente boa que, não suportando a realidade, ficou pelo caminho... Quanto a mim, se tinha alguma ingenuidade, perdi; decepções, já vivi; amizades, algumas desfiz; apenas com Jesus não me desiludi! Manter a boa fé e sã consciência é expressão da pura misericórdia do Senhor.

O fato é que nesse “asfalto da fé”, já gastei muita borracha. Como diz a música do Rebanhão, “ só faltei correr atrás de avião”! Já fiz evangelismo de porta em porta, em praça, no meio da rua, em hospital, na praia, tantos lugares que nem lembro mais... Toquei em igrejas de todo tipo, dezenas de denominações. Ministrei louvor em teatro, salão de festa, clube, colégio, ginásio, e até em cima de caminhão! Já preguei pra muita e pra pouca gente, para os “importantes”, e pessoas simples também, para os que queriam ouvir, e para os que não queriam. Preguei em catedrais, em templos pequenos, em casamentos, batizados, 15 anos, bodas de ouro e funerais. Já rodei este Brasil de Deus participando de congressos, seminários e campanhas de toda sorte. Conheci gente “famosa”, pastor de nome, ministro de louvor, pregador de multidões, conferencista internacional, tudo quanto é “figurão” do mundo eclesiástico... Por tudo isso, amigo, ganhei o direito de, ao menos, ser escutado. Portanto, me escute...

Na verdade, nem tudo são espinhos. No caminhar do caminho que se faz caminhando também experimentei muita coisa boa, momentos inesquecíveis... Tornei-me um sonhador incurável, um otimista por convicção, mas sem perder a capacidade de análise e o senso crítico. É que eu nunca gostei de camuflagem. Apaixonei-me pela minha mulher porque ela quase não usava maquiagem. Tudo me parecia mais real. O sábio afirma que “quem olha para fora sonha, mas quem olha para dentro, acorda”. Chegou então a hora de acordarmos para o que está acontecendo bem debaixo do nosso nariz...

Impressiona-me o cristianismo! Vivemos um momento pavoroso! O amor se dessignificou no coração das pessoas e, por conseguinte, em seus relacionamentos. A fé banalizou-se e perdeu o seu significado mais amplo, e a ética já não existe. A bondade e a piedade afastaram-se, em definitivo, do caminho dos que lotam os nossos templos, e a abnegação e o sacrifício são coisas do outro mundo, valores incompatíveis com as doutrinas vigentes. É um tempo de dores e de perdas. Muitos têm se tornado insensatos, insensíveis e, não raras vezes, insanos. Amargam existir para fora, sem valores e conteúdos. Suas almas não possuem singularidade nem altruísmo, são apenas labirintos de pulsões e medos, masmorras de solidão e de confusão.

Tenho comparado a espiritualidade dos nossos dias com um chip de celular. Você sabe o que é um chip? Trata-se de uma pecinha plana, de pouco mais de um centímetro quadrado, feito de um metal semicondutor de eletricidade, sobre o qual são implantados dezenas de milhões de transistores. Um chip é um microprocessador capaz de armazenar bilhões de dados. No caso dos celulares, por exemplo, “guarda” a sua agenda telefônica, compromissos, mensagens, e uma série de outras informações, conforme o tipo de cada aparelho. Tempos modernos...

Sem dúvida alguma, a maior vantagem do chip de celular é a sua portabilidade, ou seja, a possibilidade que o usuário tem de tirá-lo de um aparelho para colocá-lo em outro, sem que ele perca suas características originais. Esse benefício é muito útil para quem tem mais de um celular, de operadoras diferentes, pois a simples troca do chip permite manter os dados que se precisa sempre à mão, uma vez que as informações continuam ali gravadas.

Pois bem, a impressão que tenho, olhando para os “crentes” que estão nas igrejas, é que cada um deles carrega uma espécie de Chip-Sanctus implantado na consciência. O Chip-Sanctus é um programa institucional que já vem pré-formatado com todas as características básicas para o sujeito ser um “crente”. Ele contém, por exemplo, o glossário do fiel, com expressões do tipo: “paz do Senhor”, “glória a Deus”, “aleluia”, “tá amarrado”, “é de Deus”, e coisas do gênero. Além disso, possui também o módulo de doutrinas básicas, que vem com “arrependimento, fé, batismo, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e juízo eterno”. Dependendo da “operadora”, ou seja, da denominação, o kit trás ainda “maldição hereditária, cura interior, prosperidade e possessão demoníaca”.

Outro benefício do produto que, me parece, é “instalado” no fiel assim que ele se “converte” a “igreja”, desculpe, melhor dizendo, a Jesus Cristo, é o mapa de pecados, um guia completo com o conjunto de reprimendas básicas da “fé cristã”. Nele você encontrará a lista dos “dez mais”, ou seja, transgressões usuais que devem ser evitadas a todo custo. A lista foi revista e atualizada para os nossos dias pois, além dos clássicos contidos nas “tábuas de Moisés” – “não adulterarás”, “não matarás”, e “não furtarás” – traz ainda o “não beberás”, “não dançarás” e “não fumarás”. Outras versões podem conter também o “não usarás calça jeans”, o “não te maquiarás” e o “não cortarás o cabelo”. Perfeito, não?!

Não morra de rir! É algo muito próximo a isso que está aí! Você, talvez, é que não esteja conseguindo olhar da forma correta, com um pouquinho de senso crítico! Igreja, nos nossos dias, parece mais com uma fábrica de Henry Ford do que com um local terapêutico, que sirva de ambiente para pacificação dos desencontros humanos. Criamos “casas de neuróticos” que se encarregam da produção em série de gente despersonalizada e descaracterizada. Impossível não lembrar de Nelson Rodrigues, quando afirma que “ toda unanimidade é burra”, ou de Antoine Motte, que expressa que “o tédio nasceu um dia da uniformidade”.

A impressão que tenho é que, em nossas igrejas, as pessoas não precisam mais pensar, nem ter autenticidade, não devem questionar nada, nem sentir medos ou contradições. É como se vestíssemos o disfarce-nosso-de-cada-dia, que produz uma espécie de “espiritualidade virtual”, que não existe no mundo real, mas que incorporamos todos os domingos antes de ir para o “culto”. Loucura! Isso não é Evangelho! É um estelionato da fé! Estamos comendo lixo, lambuzando os beiços, e achando que é pudim!

O tempo é curto, o espaço é pouco, mas a indignação é imensa... Deixe-me falar mais um pouco... É que ainda tem uma coisa curiosa no Chip-Sanctus que eu não falei: os diferentes tipos de planos. Já identifiquei, pelo menos, três: o básico, o intermediário e o avançado. O plano básico vem com as seguintes características: uma oferta por ano, trinta minutos de leitura da Bíblia por semestre, dez minutos de oração por mês e duas idas ao culto de domingo. Não desanime não, o intermediário é melhor! Ele não tem dízimo, mas possui ofertas esporádicas. O tempo de leitura aumenta, vai para trinta minutos mês e a oração chega a 5 minutos por dia. Tem ainda idas freqüentes aos cultos, com uma falta aqui, outra acolá, que ninguém é de ferro, e uma reunião semanal, podendo ser culto de vigília, doutrina, reunião de movimentos, etc.

Não satisfeito?! Gostaria de algo mais sofisticado, algo quase exclusivo? Calma, tem ainda o plano avançado, o topo da espiritualidade em nossos dias! O Chip-Sanctus, versão Gold, é o melhor do que se pode encontrar em termos de consciência do “fiel de igreja”. Ele vem com ofertas quase regulares, desde que o “devorador” se mantenha à distância, três leituras das Escrituras por semana, cada uma de 15 minutos, e orações diárias e sistemáticas, de 10 minutos cada. Tem ainda freqüência regular a todos os cultos, a escola dominical, a uma reunião semanal, além da participação assídua em um movimento de igreja. Fantástico! Além disso, no plano Gold, é possível o “cliente” estar aberto a experiências novas, como batismo no Espírito Santo, quebrantamento na adoração comunitária, confissão de pecados durante orações, ou até a experimentação de “coisas” mais profundas, como cura divina e libertação de vícios. É o máximo, não é não?

Ah, e não esqueçamos que algumas “operadoras” oferecem bônus para os que cumprem suas “obrigações” em seus planos de forma responsável e rotineira. Já vi promoções do tipo: “nesta semana: quebra de maldições na família, sessão de descarrego espiritual, eliminação de carmas e encostos, e exorcismo do capeta”. Pesquisando bem, com um pouco de paciência, você ainda poderá encontrar algumas coqueluches como: “profecias, cura divina e liberação de bênçãos espirituais: emprego, casamento e pagamento de dívidas”. É demais! Não dá para resistir!

Entretanto, semelhantemente ao que ocorre na telefonia celular, onde as operadoras disputam de forma acirradíssima o mercado consumidor, com as igrejas também acontece o mesmo. Como sabemos, no negócio das comunicações existem operadoras que não permitem a possibilidade de seu chip ser utilizado por uma outra, restringindo assim o enorme benefício da portabilidade. Há casos também onde o chip até pode ser transferido, mas o aparelho da nova operadora não permite a recepção do mesmo, seja por questões técnicas, seja por incompatibilidade de modelo.

Pois bem, no mundo eclesiástico, de igual modo, o Chip-Sanctum de um cristão da denominação “A”, raramente é compatível com o Chip-Sanctum de um cristão da denominação “B”. No caso de troca de denominação, ou o fiel joga fora o chip que já possuía e instala um outro, ou tenta fazer um up-grade, acrescentando ou retirando meia dúzia de “doutrinas” para ver se o chip passa a operar “normalmente”. Há casos, entretanto, em que a troca do chip de uma denominação para outra dá um “zebedeu” tão grande que, não raras vezes, o fiel passa, ou a ser considerado maluco, ou, em casos extremos, endemoninhado.

Não me leve a mal. Não estou ridicularizando coisa séria. Estou apenas usando o humor para que o assunto se torne um pouco mais palatável. É que a desgraça é grande, e eu sei do que estou falando! Da forma como coloquei, posso até ter lhe chocado, pois eu estou chocado faz tempo, mas, no fundo, meu desejo é apenas levá-lo a fazer uma reflexão séria e isenta sobre os pontos em questão.

É bem provável que uma meia dúzia de três ou quatro tenha sentido que estes planos são totalmente insuficientes. Sei que ainda existem pessoas que amam a Deus por quem Ele é, e não por aquilo que pode fazer. Gente que se santifica, que jejua e que gasta tempo diário com as Escrituras. Gente que ora o tempo todo, em todo tempo, que serve, sem se preocupar com ideologias, e que tem alegria com o pecador redimido. Esses são os que abrem a vida para ser cuidados, a casa para abençoar a outros, e ofertam, não só os bens, de forma generosa, mas também a própria vida, com sacrifícios, por vezes, da agenda, de projetos e planos. Sei, sim, ainda existe gente assim. Mas, na verdade, são tão poucos que não conseguem influenciar o resto da “massa que levedou”. Se eu sou um deles? Não, não sou. Mas estou querendo muito ser...

Conversando com um funcionário aqui do escritório, perguntei a ele se um chip pode ser “desprogramado”, ou seja, se há uma forma de você “zerar” o conteúdo que está ali gravado para poder reutilizá-lo de outra maneira. Pois bem, ele me respondeu que sim, que isso é possível, mas que não é nada fácil, pois é preciso conhecer bem o programa e ter o equipamento certo para realizar a tarefa. Depois que ele saiu de minha sala, fiquei pensando: se para desprogramar um chip de celular existe esse trabalho todo, imagine, então, o que deve ser tentar desprogramar um Chip-Sanctum! Haja sofrimento...

Foi aí que lembrei de Paulo... “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Rm. 12:2. Sim, se eu pudesse escrever o mesmo texto hoje, diria da seguinte forma: “não se conformem com o que vocês estão vendo! Antes, pelo contrário, troquem o chip e reescrevam na consciência as verdades do Reino. Se vocês fizerem isto, poderão experimentar verdadeiramente qual é plano que o Senhor tem para suas vidas”.

Deus pode, se desejarmos, desprogamar o nosso “chip interior” para remoldá-lo com um novo conjunto de valores, crenças e convicções a respeito da fé. Sim, se nos abrirmos para este propósito, a partir de uma releitura das Escrituras, sem os óculos da religião e os paradigmas das denominações, veremos que a liberdade de andar em fé, com o coração pacificado e cheio de significados para a existência, é muito melhor do que nos submetermos aos preceitos caducos do “chip velho”, que tem como único objetivo nos condicionar a viver uma espiritualidade sem preceitos e sem proveito, mas apenas, com muitos “pré-conceitos”.

Hoje, depois de tantas andanças, não dependo mais de “experiências de igreja” para seguir no caminho, mas apenas do relacionamento íntimo e gostoso com o Pai. Tenho desejado, ardentemente, reescrever minha história, de maneira coerente e conseqüente, pois, como muitos, também tive instalado na consciência um desses chips. Por conta dele, fiquei por muito tempo impregnado com o cheiro de morte da “religião”, ao invés de exalar o bom perfume da vida. Há alguns anos, todavia, perdi o bichinho, não sei nem como. Acho que ele se desprendeu de mim quando comecei a olhar mais para quem eu era, e menos para o que eu gostaria que os outros pensassem que eu fosse...

Sola Gratia!

Carlos Moreira

29 julho 2009

O Fracasso do Sucesso


O economista Jeremy Rifkin, escritor do livro "O Fim dos Empregos" afirmou, há quase uma década, que o futuro do mercado de trabalho convencional, como até então se conhecia, estava com os dias contados. O fato devia-se a busca frenética, por parte das empresas, da expressiva redução dos custos de produção com vistas a tornar bens e serviços cada vez mais competitivos e lucrativos, o que só seria possível, com uma significativa eliminação de postos de trabalho. Infelizmente, ele tinha razão. O desemprego é hoje uma realidade global, sobretudo, em grande parte do continente europeu e nos países subdesenvolvidos do resto do mundo.

Foi dentro deste cenário, respaldado por autores consagrados como Philip Kotler e Jerome McCarthy, que surgiu o marketing pessoal. De forma simplista, trata-se da geração de ações promocionais de valorização pessoal que colocam o profissional no lugar certo, na hora certa, com vistas a proporcionar as organizações, ou pessoas para quem trabalhe satisfação plena e, para si mesmo, novas e constantes oportunidades.

Rapidamente ações de marketing pessoal tornaram-se uma “febre” no mercado. A tônica era a seguinte: você é um produto! Por isso, venda-se bem se quiser ser “consumido”. Para tornar o slogan marketeiro realidade, um sem número de ações passou a fazer parte da vida de profissionais e executivos, indo desde investimentos no network relacional, até aos cuidados com a higiene e a aparência.

Como sabemos, muito do que acontece no âmbito empresarial acaba sendo copiado, logo em seguida, pela igreja institucional. Com o marketing pessoal não foi diferente. O que tenho visto, no circuito da música, por exemplo, são “cantores gospel” gastando muito dinheiro na contratação de empresas especializadas para realizar, através de shows, a divulgação de “seus trabalhos”. Pastores estão, cada vez mais, atrás de fórmulas profissionais para promover “seus” próprios “ministérios”. Talvez estejam em busca de uma comunidade maior, melhor, e que lhes pague mais dinheiro. Observo “igrejas” atraindo pessoas, com eventos de prateleira feitos sob medida, como se elas fossem apenas “consumidoras” de produtos eclesiásticos, sempre com o objetivo de manter aquecido o rentável e maravilhoso “mercado da fé”.

Sobre este assunto, Karina Bellotti, professora, doutora em história cultural, que lançou um livro sobre o fenômeno do movimento evangélico brasileiro, fala em recente entrevista a uma revista secular, que “Desde os anos 1990, ser evangélico virou um evento midiático, que trouxe visibilidade a esse grupo social, e que atualmente vem passando também pela construção de um mercado consumidor de produtos...: música gospel, personagens infantis como Smilingüido, artistas que se converteram, etc.”.

Não desejo mais prosseguir com isso... Permita-me, apenas, ir as Escrituras. “Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo. Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima. Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo”. Jo. 7:1-4.

O contexto da passagem não requer grande exegese. Está claro que a própria família do Senhor não acreditava no Seu ministério, pelo menos, não do jeito que ele estava sendo conduzido. De fato, eles podiam ver as obras que Jesus realizava, mas isto, por si só, não era suficiente para “catapultá-lo” no “mercado da fé”. O problema, na minha ótica, residia em duas questões principais: (1) Ele não estava agradando boa parte do Seu público – “...visto que os judeus procuravam matá-lo”; e (2) Seus feitos não tinham grande visibilidade – “...se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo”. Fico pensando: será que a família de Jesus estava lendo Kotler?

Para mim, não é difícil entender porque eles estavam tão descontentes! A questão é que Jesus realizava o anti-marketing pessoal: trabalhava em silêncio e comportava-se com discrição. Não raras vezes exortou àqueles que foram curados para não declarar nada a ninguém. Sim, Ele tinha um propósito, e este não era agradar as pessoas e nem, muito menos, divulgar-se a Si mesmo – “...a minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”, Jo 4:34. A razão de Sua existência, como Deus-Homem, era executar uma missão que, aos olhos naturais, estava encoberta, mas, ao ser manifesta, revelaria com que grande amor Deus amou os humanos caídos.

Quero denunciar algo de forma profética: há um “espírito” enganoso pairando sobre todos nós! Ele intenta nos levar a cometer dois terríveis erros: pregar um “evangelho” que agrade as pessoas, e não o Evangelho que as leve ao arrependimento, mediante a ação soberana do Espírito Santo, e buscar a promoção de nossos próprios ministérios, como se de nós mesmos pudéssemos realizar algo, ao invés de promover o Reino de Deus e a Sua justiça.

Eu imagino que todos nós já lemos a carta de Tiago. Nela nos deparamos com a dura realidade de que somos tentados pelas nossas próprias cobiças. Esse desejo de auto-promoção não é coisa nova, mas, pelo contrário, sempre esteve presente na história humana e, não raras vezes, está exposto e patente na própria Escritura, para advertência nossa, imagino eu.

Permita-me lhe fazer uma pergunta e, se possível, responda-me com a máxima honestidade: você já foi tentando a utilizar o marketing pessoal no seu ministério? Não? Pois eu já fui! Aliás, ainda sou e, provavelmente, amanhã o serei. É minha fraqueza. Talvez, até, a de outros também. Mas a bíblia afirma: “o que confessa, se arrepende e deixa, alcançará misericórdia”. Eis, então, a minha pública confissão...

Já estou com mais de 40 anos; 42 para ser exato. O sentimento é o de quem chegou a metade da existência de mãos vazias. Como já disse em outros textos, aos 40 a gente se sente meio que no meio do nada. Instala-se dentro de nós, sem qualquer permissão, a famosa crise da meia idade, onde sofre-se pelo o que não se foi, e anseia-se pelo que não se pode ser.

Olho para o “meu” ministério achando que ele é meu. Sinto o tempo passando... Dá uma certa angústia... Muitos dos que caminhavam comigo, alguns dos quais eu mesmo discipulei, foram ordenados bem antes de mim e, portanto, já realizaram mais obras do que eu. O tempo não para... Indago-me: o que vou dizer ao Senhor? O que vou apresentar a Ele naquele último dia? Eu sei que a obra de Deus é no ser, não no fazer, pois fazer é sempre conseqüência do ser. Mas sinto uma agonia... Vem de dentro para fora. E o tempo devorando tudo... Minhas certezas viraram dúvidas; o que um dia foi chão, agora é só poeira; aquilo que me parecia alcançável, distanciou-se tanto, que já nem posso ver.

Na minha arrogância, fico pensando: tanto potencial, com tão pouca utilização. Que grande desperdício! Inquieto-me. Preciso fazer algo, mostrar ao mundo que eu estou aqui, pronto, e à disposição. Eu poderia estar escrevendo livros, artigos para revistas, poderia estar pregando em congressos ou gravando CD’s. Queria viajar, abrir Igrejas, ir para a TV, fazer isso, aquilo e aquilo outro... Aí vêm os questionamentos: "a quem estou querendo promover? Com que propósito eu fui ordenado? Que ministério é este que Deus me deu?" Em seguida, reflito comigo mesmo: "isto está me fazendo mais mal do que bem". E é no meio desta contradição que ouço a voz suave do Espírito: “eu te atraí com cordas humanas, com laços de amor; sou para ti como quem alivia o jugo...”.

Num mundo feito para os campeões, como disse o Gondim, eu sei que sou apenas um “perdedor”. Queria chegar ao lugar mais alto do pódio, mas sinto-me como quem está afundado num tremedal de lama. Ó, Senhor, livra a minha alma! Não me permita sucumbir em meus próprios devaneios. Livra-me, Senhor, de mim mesmo! Salva-me dos meus próprios planos! Ajuda-me a ser como João Batista, que desejava te ver crescer, ainda que, para tal, ele tivesse que diminuir. Contudo, eu Ti confesso: como é difícil fazer a Tua vontade...

Quero compartilhar o que, a duras penas, tenho aprendido: há um tipo de sucesso que nada mais é do que fracasso, pois é na humilhação do ser que Deus é exaltado. Vivo dias em que o Senhor está arrazoando comigo. Sim, Ele me chamou, exatamente como fez com Jó, para uma conversa franca e aberta sobre os segredos do coração e os propósitos da existência. É inevitável não lembrar de Jeremias: “esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor”. Sim, Pai, deixe-me retornar. Quero voltar ao primeiro amor. Permita-me, apenas, promover o Teu Reino, pregar a Tua mensagem e engrandecer o Teu nome. Não seria isso bastante para mim?

Lembrei-me, também, de Filipe... Sim, Filipe, o diácono que deixou o avivamento de Samaria para pregar a um eunuco solitário, no meio do deserto. Já pensou que coisa mais maluca? Sair do meio da multidão para ir para o nada! Gente se convertendo, milagres acontecendo e, cadê o Filipe? Sumiu! Logo agora? No meio deste evangelismo de impacto? Trio elétrico tocando, ministério de dança, teatro, pregação de cura, libertação e, cadê o homem? Foi pregar para o eunuco! Que eunuco? Onde? Por quê? Que loucura é esta mensagem da cruz! Quão insondáveis são os caminhos desse Deus que ama os perdidos.

“A minha graça te basta, pois o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Eis onde está a minha esperança! Sucesso, sem Deus, é fracasso; vitória, sem Deus, é derrota; alegria, sem Deus, é tristeza; riqueza, sem Deus, é miséria. Obrigado, Senhor, porque um dia Tu me chamaste das trevas para a luz. Sim, Pai, muito obrigado porque me destes um motivo para viver, um propósito para existir e uma mensagem para pregar. Tudo é Teu! Tudo veio de Ti, e para Ti voltará. Por isso, Sole Deo Gloria!

Meus amigos de jornada, para mim chegou o momento de abandonar a teoria, pois está mais do que na hora de caminhar no caminho, e não apenas falar dele. No final, eu sei, permanecerá apenas a fé, a esperança e o amor. Tudo o mais passará, até mesmo a vida.

Portanto, Senhor, minha oração é que Tu me dês força para os braços e pernas, para que eu possa Ti servir com alegria, reverência para que o coração seja sempre agradecido, pacificado na graça, e um espírito manso, humilde e quebrantado, para fazer hoje, amanhã, e enquanto em mim houver fôlego de vida, a Tua vontade. E que, para tal, Tu me concedas a nobreza de aceitar ser aquilo que desejas, e não aquilo que eu quero ser...

Sola Gratia!

Carlos Moreira

A Marca da Besta


É com revolta que vejo o que está acontecendo com aqueles que governam o nosso país. Com tristeza constato que a nossa nação elegeu a impunidade como regra e a improbidade como lema, ambas ervas daninhas que se proliferam, sobretudo, em ambientes onde há a perda da capacidade reflexiva e, por conseguinte, da deliberação em prol do que é ético, justo e bom.

Em 2010 estamos fadados a participar do triste espetáculo que será a campanha eleitoral, a qual promete, e promete muito. Os partidos travarão, sem dúvida alguma, uma luta acirrada, sobretudo, porque sobra “munição”. Por isso é bom estarmos preparados para o festival de baixarias que vem por aí...

Surpresas? Ainda? Talvez. A última, quem diria, veio do PT. A queda vertiginosa da estrela do Partido dos Trabalhadores, que despencou dos “pícaros da glória” e vem se desintegrando como se fosse um meteorito entrando na atmosfera, surpreendeu não só os mais de 50,0 milhões de eleitores, que votaram na legenda, mas também a sua própria militância, historicamente engajada e responsável. A “marca” PT, que era sinônimo de austeridade e honestidade, está hoje associada à corrupção.

Infelizmente, ou felizmente, surgiu diante de nossos olhos às “vísceras” de um engenhoso sistema político-econômico que, administrado por gente influente do governo e do setor privado, alimentou toda uma máquina de crimes que funcionava a base de superfaturamento, caixa dois e lavagem de dinheiro, o que caracterizou o esquema como um dos maiores de todos os tempos em termos de ilicitudes.

Diante de tudo isto o que nos restou foi a triste melancolia do fim de um sonho – Lula lá! Sucumbe com ele o que ainda nos restava de ingenuidade. Índice de aprovação baseado na esmagadora maioria de miseráveis mantidos pela "ração" do Bolsa Família é algo só para "gringo" ver... Se a esperança é a última que morre, talvez, então, seja bom começar a pensarmos no seu funeral.

Todavia, e é importante que se diga, esse sistema evocado pelo PT não traz nada de novo. Enganam-se os que assim pensam. Na verdade, ele é filhote de um outro, muito maior e mais abrangente, e que, de forma semelhante, se alimenta dos mesmos insumos: ganância, inveja, mentira, maldade, exploração, astúcia, vaidade e tudo o mais que se chama pecado, e que, de forma inexorável, atua como “princípio metabólico” na alma de todo o ser humano.

Pois bem, foi pensando nisto, e na “marca” do PT, que eu acabei lembrando de uma outra marca, a “marca da besta”, aquela que aparece descrita no livro de Apocalipse: “a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”. Ap. 13:16-18.

Deixe-me dizer, antes de qualquer coisa e, sobretudo, para evitar a pichação de herege, que nem eu creio que o PT represente um “sinal apocalíptico”, mesmo levando-se em consideração toda a “destruição” que causou, nem muito menos que o Lula seja o anti-Cristo. Isso, então, seria ridículo! Estou fazendo este esclarecimento para evitar que, amanhã, meu texto seja usado de forma indevida, ou seja, fora de seu próprio contexto.

Posto isto, voltemos à Apocalipse 13. Ouso afirmar que aí está uma das mais polêmicas passagens das Escrituras Sagradas. Sobre ela já li e ouvi quase todo tipo de interpretação, desde as bizarras, passando pelas absurdas, e chegando, em alguns casos, as hilárias. Na verdade, raríssimos são os escritos sobre esse tema que são sérios e centrados.

Só para você ter uma idéia, a “marca da besta” já foi atribuída às tatuagens, ao código de barras, aos cartões de crédito, e, hoje, está sendo associada à um chip eletrônico, que pode ser introduzido de forma subcutânea no organismo, com o objetivo de repassar informações de uma pessoa para um computador. Será que agora não seria ela?

De fato, não sei, e, sinceramente, quero fugir dessa discussão. Ficarei distante, inclusive, de comentários exegéticos mais aprofundados sobre o texto. Isto fica para outra oportunidade. Neste momento, desejo apenas suscitar uma reflexão quanto ao que, indubitavelmente para mim, tem maior significado e aplicação, ou seja, que a chancela – “marca da besta” – trás associada a si, dentre outras coisas, um poderoso sistema de valores e princípios que pode incorporar-se ao proceder dos homens sobre a terra.

Se olharmos para Apocalipse 13, como pessoas normais, e não como ghostbusters (caçadores de fantasmas), veremos certamente menos mistérios do que pareça ali existir e, sendo assim, teremos a opção de desviar nossa atenção para aquilo que pode dar ao texto maior significado para o aqui, e o agora.

Como ponto de partida, vamos pensar o seguinte: o que é a “marca da besta”? Seria apenas um logotipo que identifica quem se associou, deliberadamente, ao diabo? Talvez isso seja muito religioso. Quem sabe, então, um instrumento de inclusão/exclusão social que acabará por criar o grupo dos “sem-marca”? Não sei... Parece político demais. Que tal algo mais subliminar e, aparentemente inócuo: administrar, através do uso de uma tecnologia seletiva, os negócios de pessoas e empresas para ter, sobre elas, controle? Ainda tenho dúvidas... Mesmo sendo a versão mais aceita, parece ter um viés excessivamente econômico.

Mas, vamos lá: se o significado for esse último, qual seria sua aplicação imediata? Separar, através de critérios financeiros, os “escolhidos” dos “não escolhidos”? E, se for assim, quem optar em permanecer no “sistema” vai para o inferno? E quem não optar, vai fazer o quê? Vai sobreviver como? Saindo do mundo?

Na verdade, não tenho respostas para nenhuma destas perguntas, pois não sou mago, mas apenas profeta. Entretanto, fico feliz em saber que tudo isto ainda está muito longe de nós, uma vez que só se processará no “tempo do fim”. Apenas ali é que a “marca da besta” será imposta aos homens como escolha existencial que determinará a sua “sorte” sobre a terra. Será...?

No meu entendimento, a interpretação do texto deve ser aplicada para o “dia chamado hoje”, pois, sendo o mesmo uma chave hermenêutica, pode me ajudar no caminho que estou construindo com Deus, entre os homens. Desta forma, a ótica da minha análise passa a ser completamente diferente.

Em primeiro lugar, diferente porque não creio que a “marca da besta” seja algo que se manifestará apenas no tempo chamado de fim, antes, pelo contrário, que atua desde sempre, ou seja, é atemporal. Por isso, acredito que João, na verdade, ao escrever-nos a carta na Ilha de Patmos, revelou-nos não só o que estava por acontecer, mas, sobretudo, o que já operava claramente nos seus próprios dias.

Em segundo lugar, não creio que a “marca da besta” esteja apenas confinada a um determinado “evento” – no caso, comprar e vender – mas a toda produção humana baseada em um conjunto de valores e princípios que são contrários a Deus. Desta forma, afirmo que a “marca” diz respeito a algo muito mais amplo, ou seja, a um modus operandis que nos revela como “as trevas”, de forma concreta, atua neste mundo caído.

Em terceiro e último lugar, não creio que a “marca da besta” seja algo seletivo do ponto de vista pessoal, mas, pelo contrário, que é impessoal, podendo aplicar-se a qualquer um, ou seja, “a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos...” a partir de suas próprias escolhas e ações. Assim, o que faz com que a “marca” se fixe como tatuagem não apenas na pele, mas, sobretudo, na alma e no coração, é a sistematização de um proceder que é contrário aos pressupostos do Reino de Deus.

Pois bem, foi utilizando a premissa que impõe, para o futuro, a “marca da besta” àqueles que desejam continuar com suas atividades econômicas que consegui identificar que, no presente, o mesmo “princípio” opera também, e livremente, em muitas das práticas vigentes, sobretudo naquilo que não carrega em si mesmo o peso de pecados que são considerados “capitais”, e por isso, chamam menos a nossa atenção.

Desta forma, a “marca da besta” pode se revelar, por exemplo, na compra de um CD ou DVD “pirata”, feita na “loja da rua”, onde, pelos menos, dois crimes ignorados estão qualificados: o de violação de direitos autorais e o de sonegação fiscal.

Ela também aparece quando o imposto de renda é sonegado, ou extraindo-se dele coisas, ou acrescentando-se. Está naquele recibo forjado, comprado do médico, do dentista ou do advogado, para que se possa reverter uma situação desfavorável, ou mesmo aumentar vantagens já obtidas.

Podemos encontrá-la ainda no “caixa dois”, prática comum não apenas no desacreditado PT, mas na grande maioria das empresas deste país. Aliás, o próprio Presidente da República disse que, em se tratando de partidos políticos, o “método” era a prática vigente, ainda que velada.

Sem grandes esforços, veremos a “marca da besta” nas operações de compra/venda, como também viu o apóstolo João. Ela está na nota fiscal subfaturada, que registra metade dos produtos adquiridos, com metade do valor a ser pago, e, por conseguinte, metade do imposto a recolher. Ou pode ainda está na própria inexistência da mesma, pois é bem provável que você já tenha ouvido a expressão: “é com nota ou sem nota?”.

Vejo a “marca da besta” no suborno do guarda de trânsito, na não assinatura da carteira de trabalho da empregada doméstica, no negócio que funciona sem licença da prefeitura, no software que não está legalizado, e em tantas outras coisas que poderia fazer um livro sobre “as práticas não evangélicas dos santos evangélicos”.

Agora, me responda, honestamente: em tudo que citei, ou no que deixei de citar, mas você pensou/lembrou, está ou não está presente a “marca da besta”? Fica ou não patente um sistema de valores e princípios que depõe contra tudo aquilo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e de boa fama?

E se é assim, diante deste contexto mais amplo, resta-nos apenas três opções: 1) fazer de contas que estas práticas não têm maiores significados e desdobramentos; 2) racionalizar a aplicação do texto bíblico com sistematizações e interpretações teológicas; ou 3) olhar para a vida com desejo verdadeiro de que esta “marca” não se instale em nós: nem naquilo que fazemos e nem, muito menos, naquilo que somos.

Se escolhermos o cinismo, para mascarar práticas lesivas, estaremos corroborando com boa parte dos políticos e governantes do nosso país, os quais preferem sempre varrer a sujeira para "debaixo do tapete". O pior de tudo, é que isso certamente nos associará à “doutrina dos fariseus”, aquela que vive de coar o mosquito e engolir o camelo.

Se formos para o terreno das interpretações, corremos o risco de chegar a lugar algum, pois boa parte dos teólogos discute esses temas há anos sem chegar, contudo, a qualquer conclusão, pois parecem aprender sempre e não entender jamais. Podemos, sim, é “ficar presos” à retórica, aguardando a “luz da revelação” para nos deliberarmos a agir. Lembre-se que é daí que surgem teorias como a dos dispensacionalistas, dos pré-, a-, e pós-milenistas, dos pré-, a-, e pós-tribulacionistas, daqueles que vivem para averiguar tempos, datas, códigos e números.

Mas nós podemos, a partir de uma análise mais simples, com sinceridade, contrição e arrependimento, confessar ao Senhor que temos andado por maus caminhos. Podemos dizer-Lhe que não queremos fazer parte deste sistema caído, desta máquina que nos empurra para a morte, ao invés de nos escondermos atrás de escusas do tipo: “se eu não fizer assim não vou conseguir sobreviver”.

Meu medo é que por trás de tudo isto esteja escondido um grande engodo, ou seja, que os nossos atos no presente, os quais ferem princípios e valores de Deus, não trazem conseqüências maiores para o ser. Entretanto, baseado no mesmo padrão de comportamento, o qual, estranhamente, não se aplica ao “tempo do hoje”, mas, apenas, ao “tempo do fim”, todos nós estaríamos condenados, e de forma irremediável, ao julgo de satanás e ao inferno de fogo.

Se você me perguntar se eu creio no que diz Apocalipse 13, sobre a marca e o número da besta, eu lhe direi: certamente! Creio que no final dos tempos muito do que se processou nos dias de João voltará a acontecer, pois os “ambientes proféticos” são cíclicos e podem, por assim dizer, repetir-se de tempos em tempos.

Entretanto, há coisas ocultas que jamais serão esclarecidas a não ser que o Senhor as queira revelar para nós. Por isso, atendo-me mais ao “Espírito da letra”, do que a “letra” propriamente dita, acredito não precisar circunscrever “a marca da besta” apenas ao final dos tempos, uma vez que, para mim, ela já opera como princípio-sistema desde os primórdios, ou seja, já estava presente nos dias de Caim, que recebeu na fronte uma “marca” que atestava, dentre outras coisas, que nele operava um instinto homicida.

Minha oração é para que o Senhor nos livre HOJE da “marca da besta”, e nos ajude a ter apenas a Sua marca, aquela que nos foi atribuída pelo precioso Sangue da Aliança, o qual foi derramado pelo sacrifício do Cordeiro eterno, antes mesmo de existirem homens sobre a Terra. A Ele, que nos transportou do império-sistema-das trevas para o Reino do Filho do Seu amor, seja o louvor e a adoração pelos séculos sem fim.

Sola Gratia!

Carlos Moreira

28 julho 2009

Deus não Leva "Checho"!


“cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”. 2a. Co. 9:7.


Na antiguidade, conforme sabemos, eram cultuados inúmeros deuses e, ao contrário do que muitos pensam, mamon nunca foi uma destas divindades, pois o termo aramaico refere-se apenas ao dinheiro e riqueza. Jesus afirma no Evangelho de Lucas que não é possível servir a Deus e a mamon, elevando o vil metal ao status de potestade espiritual, e Paulo, escrevendo a Timóteo, diz que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Observe que ele não trata o dinheiro como coisa em si mesmo, como muitos, equivocadamente, interpretam, mas da tara, do apego exacerbado, da adoração compulsiva, do desejo desenfreado de possuí-lo.

De fato, mamon não é um deus, mas pode assumir a dimensão de um deus no coração humano. Não tenho dúvidas em afirmar que uma das forças mais poderosas que atua na Terra é o dinheiro. Por ele os homens mentem, matam, manipulam e corrompem. O amor ao dinheiro, na melhor das hipóteses, nos torna avarentos, incapazes de perceber as necessidades e demandas do outro, e prepotentes, imaginando ser ele o grande e único esteio de nossa existência.

Estamos na pós-modernidade, mas professamos uma fé pré-histórica. O clero da idade média, que negociava indulgências e simonias, estaria hoje estudando no jardim da infância da escola dominical de nossas igrejas. As práticas predatórias da religião cristã contemporânea, baseadas em barganhas com o sagrado – correntes, quebra de maldições, confissões positivistas e outras mandingas – demonstra, explicitamente, que o que nós queremos é uma espécie de “para-raio espiritual”, uma divindade que nos assegure bonança e prosperidade, e nos livre de todo mal. Sai dele!

E como é que fica esse negócio de dízimo? Digo negócio porque, para mim, é assim que boa parte dos “crentes” trata a questão. Sobre este tema, permita-me não emitir comentários sobre os que não ofertam a Deus. Estes ainda estão na infância da fé, longe de desenvolver uma espiritualidade sadia e equilibrada, que não seja umbigocêntrica. Mas, entre os que dão o dízimo, existe uma quantidade assustadora de gente que está neurotizada, dentre as quais consigo identificar três grupos: 1- Os que têm medo da maldição de Malaquias 3, não compreendendo o contexto do templo-estado e a dispensação da graça; 2- Os que estão investindo no retorno de 100 X 1, colocando ideologias na cabeça de Jesus que Ele jamais imaginou; e 3- Os que vivem de fazer contas com o Todo-Poderoso, uma espécie de fluxo de caixa entre o Céu e a Terra.

A turma da maldição vê em tudo a “pata do devorador”. Quebrou o liquidificador? Foi o “devorador”! O pneu do carro furou? Olha o “devorador” aí gente! Espirrou? É o capeta tentando minar as finanças! Pura maluquice... O pessoal do businessanto está sempre à espera da partilha dos dividendos celestiais. Pensam que tudo que recebem é fruto do negócio com o Eterno, e não a expressão de Sua bondade e fidelidade e do trabalho digno e honesto. Por fim, tem ainda a moçada da contabilidade, que fica sempre fazendo “encontro de contas” com a tesouraria celeste e dizem: “ah, lembrei que tenho que subtrair do dízimo a carona que dei ao irmão fulano. Isso me custou R$ 4,50”. Que tragédia!

Digo o que creio: Deus não precisa de seu dinheiro. Ele nunca vai lhe dizer: “ou dá ou desce”. Se você fizer mal uso dele, permitindo que assuma dimensões de uma potestade em sua vida, quem perde é você. Seu coração será contaminado pela ambição e pelo egoísmo, e você viverá enfermo da alma, tendo tudo e não possuindo nada. Dar é um princípio. Não interessa o valor, mas o coração desprendido e generoso. Quando você oferta a Deus, o maior abençoado é você mesmo. A viúva pobre, que depositou apenas duas moedas no gazofilácio, que o diga, pois o Senhor considerou a sua oferta como sendo a maior de todas... Ter liberalidade estimula dimensões e valores que ajudam a construção do ser, além de mover esferas espirituais, pois, conforme Paulo, Deus ama a quem faz isto com alegria, e não por esquizofrenismo religioso.

Quer dá? Então dê, com entusiasmo e coração agradecido, conforme suas posses. Não se surpreenda se a quantia ofertada, a partir desta nova perspectiva, for maior do que aquela que você fazia antes, no cabresto da fé-maníaca. Dê com consciência, sabendo que a obra de Deus não se faz só com fé e garganta, mas também com dinheiro. Exija, todavia, que as ofertas sejam administradas de forma séria e transparente, e que não haja manipulação. Se não quer dar, seja porque motivo for, não dê, é mais honesto e digno, e evita que sua oferta se transforme em oferta-de-tolo, sendo, assim, desprezada por Deus.

Portanto, para arrematar, como a gente diz aqui no nordeste, prego batido e ponta virada, saiba que, diferentemente do que você, talvez, imagine, Deus nunca leva “checho”, pois está apenas interessado no seu coração, e não no seu bolso. Por isso, mano, relaxe...

Sola Gratia!

Carlos Moreira

O Avesso do Avesso


A música SAMPA, uma espécie de hino oficial da cidade de São Paulo, foi composta por Caetano Velozo em 1978. A canção fala da beleza e do caos ordenado da metrópole, onde as pessoas, de forma alucinadamente controlada, existem em meio ao asfalto acinzentado, ao céu esfumaçado e aos arranha-céus. Em certo ponto de sua poesia, Caetano cita a expressão “porque és o avesso, do avesso do avesso, do avesso”, ou seja, ele exprime que, mesmo amando de paixão a cidade, não pode deixar de perceber que ela é pura contradição, é a materialização dos desencontros humanos, de suas incongruências, inquietações e interjeições a respeito de si mesmos e da vida.

Pois bem, analisando os versos de SAMPA, me veio aquela “irreverente inspiração”... Imaginei como seria inverter a parábola do “Filho Pródigo”, girá-la pelo avesso, torná-la o avesso do avesso. O que teríamos, então? Qual seria sua nova perspectiva? Você já pensou nisso? É claro que não! Isso é coisa para gente doida feito eu. Permita-me, por favor, lhe contar como ficaria a história...

Certo dia o Pai reuniu os seus dois filhos e lhes disse: vocês não podem compreender o quanto eu os amo. Vocês trazem ares de festa ao meu coração e intensa alegria a minha alma. Quando olho para vocês ouço o som de todas as músicas, sinto o cheiro das manhãs e o aconchego gostoso do orvalho quando repousa sobre a relva. Mas eu tenho visto que vocês não sentem o mesmo por mim. Sim, eu vejo que nossa relação é formal, superficial e até artificial. Vocês entram aqui na minha casa e mal falam comigo. Estão sempre atarefados, cumprindo obrigações, seguindo regras, realizando coisas, e por isso não conseguem perceber que o que eu gostaria mesmo era algo totalmente diferente. Queria apenas estar com vocês, lhes ensinar a respeito da vida, de como vivê-la com propósitos e significados para que vocês pudessem crescer para dentro e, depois, se expandir para fora...

Mas vocês são irrequietos demais. Você, meu pequeno príncipe, meu filhote mais novo, só pensa em ir embora, atrás daquilo que imagina ser vida, mas que é apenas morte. Sonha em encontrar um significado para a existência, sem compreender que só a minha presença no ser é o que pode significar os dias sobre a Terra. Ah, meu filinho, você quer correr atrás do vento, achando que a felicidade está nas coisas, em possuí-las e delas tirar proveito. Ledo engano... Você certamente as possuirá, mas elas acabarão lhe roubando toda a alegria em existir...

E você meu lindão, você que é o mais velho, que pensa que sabe tudo, que já é maduro o suficiente, homem feito, com todas as percepções do mundo e dos fatos, ah, você ainda não entendeu coisa alguma... Você me serve por obrigação e, por isso, o seu serviço para mim de nada aproveita. Ele é apenas fruto de sua razão infantil, que imagina que eu faço barganhas, pois você acha que conseguirá de mim coisas se fizer àquilo que julga que eu necessito. Eu não preciso de nada! Tudo já é meu! Eu queria apenas o seu amor e a sua devoção, e que isso fosse fruto do bem e da paz que procede do coração, não de sua cabeça adoecida com tantas neuroses e racionalizações.

Vocês não imaginam o quanto eu sofro! Como eu gostaria de tê-los junto a mim. Eu poderia pacificar todas as suas inquietações, e ensinar-lhes o valor que há num sono tranqüilo. Eu poderia fazê-los compreender sobre a dádiva de saber esperar, e de nunca deixar de crer naquilo que é belo, pois isto produz harmonia interior e cura para o ser. Poderia ensiná-los sobre o valor que há nas coisas simples, e sobre a beleza única que existe na singularidade de cada dia. Mas vocês não querem nada disto. Um está ansioso para ir embora, o outro inconformado por imaginar ter que ficar.

Por tudo isto, por perceber que vocês não me amam pelo que sou, mas apenas pelo que tenho e pelo que posso lhes oferecer, decidi, então, ir embora. Sim, eu vou embora! Fiquem com tudo: a casa, os móveis, os bens e todo o dinheiro. Façam dele bom proveito. Repartam a herança como melhor lhes parecer. Eu, com pouco posso fazer muito, mas vocês, sem mim, mesmo com tudo, ainda não terão nada. Vou embora! Estou cansado de tudo isto. Estou cansado destas palavras que me são lançadas como resmungos, destes queixumes eternos, desta amizade banal, desprovida de verdade e valores. Estou farto! Vou embora. Não me peçam mais nada, pois o que vocês desejavam eu já lhes dei e, desgraçadamente, vocês perceberão que, sem mim, nada disto lhes aproveitará.

Gente, esta é a história do “cristianismo” de nossos dias, a representação patética da fé professada por nossa geração. É a simbolização do avesso do avesso, ou seja, da profunda contradição e hipocrisia que vivemos e que temos a petulância de chamar de vida cristã. Eu penso que Deus, não raras vezes, tem se retirado de nosso meio, de nossos cultos e de nossos templos. É que para Ele é a oferta que significa o altar, e o rito só ganha sentido quando procede da vida, não das formas. A igreja de nossos dias parece ter todas as coisas que pensa precisar, menos a presença de Deus. É como a Igreja de Laodicéia, que era pobre, cega e estava nua. Minha angústia não é que Deus deixe as nossas catedrais, mas que Ele, de tão cansado de tudo isto, resolva deixar também o nosso coração. Se isto acontecer amigo, ainda que venhamos a conquistar o mundo inteiro, seremos os mais miseráveis de todos os homens.

Sola Gratia!

Carlos Moreira

O Clube da Esquina


Na década de 1960 surgiu um movimento musical em Minas Gerais que influenciou toda uma geração e fez despontar, mais tarde, grandes nomes da música popular brasileira, como Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Fernando Brant, Beto Guedes e os integrantes da banda 14 Bis.

Tudo começou quando essa moçada, que já se conhecia, passou a se reunir semanalmente para compor, tocar violão e jogar “conversa fora”. Depois de certo tempo, de tanto ficarem na esquina da Rua Divinópolis, no bucólico bairro de Santa Teresa, em Belo Horizonte, Milton e os irmãos Borges resolveram batizar o encontro de “clube da esquina”, uma espécie de irmandade que se unia para falar de música, política, poesia, e tomar uma cachacinha, que ninguém era de ferro! “Eita trem bão!”.

Quando imagino a cena daquela “meninada” reunida no meio da rua, fico supondo que quem passava por ali, sem saber nem da procedência, nem da intenção, julgava tratar-se de um bando de vagabundos, boêmios irresponsáveis, malandros de ocasião, poetas fracassados, amantes desventurados, filósofos de botequim e beberrões. Quem, em sã consciência, poderia imaginar que daqueles encontros despretensiosos sairia tanta gente famosa e tantas canções maravilhosas?

Pois bem, pensando nessas “noitadas” de “BH”, e na riqueza produzida a partir daquela “ciranda de saberes”, acabei me lembrando dos muitos caminhos e encontros que Jesus experimentou na existência. Fiz a correlação por que acredito que por onde o Senhor passou, em cada cidade ou lugarejo, sempre quis, de alguma forma, estabelecer uma espécie de “Clube da Esquina”, ou seja, um lugar de encontro – no meio da rua, na casa de alguém, dentro da sinagoga, ou na beira do caminho – onde fosse possível gente comum “sentar na roda”, de igual para igual, e conversar com Ele, partilhar a vida e tornar perceptível os dramas e medos que advém do simples fato de ser.

E o Galileu gostava de gente, de prosa e de fazer amigos. Minha figura de Cristo sempre esteve associada a de alguém carinhoso, aquele sujeito que fazia questão de dar um abraço apertado, um beijo duradouro, um “cara” por quem você se apaixona logo no primeiro contato. Eu penso em Jesus como um homem contagiante, de riso farto, olhar penetrante e gestos generosos, alguém capaz de num “papo simples”, falar da beleza e do significado da vida com tal intensidade e singularidade, que não “converter” a Ele tanto a alma quanto o espírito era algo, simplesmente, impensável. Zaqueu que o diga...

Refletindo sobre estas questões, lembrei-me de um texto das Escrituras que expressa bem o que estou tentando conjecturar. Certo dia, “estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos publicanos e pecadores.Vendo isso, os fariseus perguntaram: “Por que o mestre de vocês come com essa gente?””. Mt. 9:10-11.

Que tal uma exegese básica? Jesus está na casa de Mateus, um conhecido coletor de impostos, sentado à mesa, rodeado de picaretas, intermediários de negócios duvidosos, traficantes de influência, agiotas e toda sorte de gente de má reputação. Quem olhasse de longe, não teria nenhuma dúvida em afirmar que Ele havia se associado à escória local.

Para o Senhor, todavia, isso não representava problema algum. Se fosse comigo, pensaria logo no ministério, na reputação, na imagem... Mas Jesus? Que nada! Não estava nem aí. Sentou com a “moçada” e comeu o guisado de bode sem qualquer problema de consciência. É que na mesa que Jesus senta sempre há espaço para todo tipo de gente, sobretudo gente que se dessignificou como gente e que pode, a partir de um encontro com Ele, se perceber como gente novamente.

Naquele dia, entretanto, sob o teto “profano” da casa de Mateus, que existencialmente se fez “Clube da Esquina”, havia um cantinho para toda sorte de indivíduo, menos para a “trupe” indesejada dos religiosos de Israel, impregnada pela presunção e julgamento. Naquela “muvuca”, fariseu não entrava, e o motivo era um só: eles não podiam conceber a possibilidade do Sagrado se “misturar” com o profano, o Divino com o humano, o Eterno com o temporal. Desgraçadamente, não conseguiram discernir que, em Cristo, Deus e Homem se tornou um só ser e, em conseqüência disto, toda barreira de separação existente foi abolida.

Aí, para completar de vez a desgraceira, Jesus senta-se a mesa com a “ralé”, e quase que propositalmente passa a ignorar a suposta “elite” religiosa, que imaginava merecer deferências especiais em função de sua “pedigree espiritual”. Ficou foi tudo “na geral”! E a “rafaméia”, espremida na saleta, que não tinha nenhum entendimento das mazelas e salamaleques daquele arquétipo do “sagrado”, comia com alegria o pão e o vinho, lambuzava os beiços com o assado e deixava o riso correr frouxo pelo ar.

No final das contas e, de forma surpreendente, o simples almoço do “Clube da Esquina” acabou foi se transformando numa extraordinária oportunidade para que se fizesse saber em Israel, que só a Graça de Deus era capaz de incluir os excluídos e, ao mesmo tempo, excluir os que a si mesmos se julgavam inclusos. De uma “cajadada” só, o Galileu desconstruiu o “modelito” da eleição espiritual, baseado no preconceito, desmascarou a espiritualidade calcada na aparência e, de quebra, ainda embaralhou o “quengo” da “fariseada” de plantão, como, aliás, só Ele sabia fazer...

Diante de tudo isso, fiquei pensando: “quem me dera ser achado digno de sentar numa mesa como aquela!”. Como seria bom poder freqüentar um lugar onde fosse possível papear, tratar de coisas legais, falar de poesia, filosofar, tomar um cappuccino, encontrar gente resolvida, de bem com a vida, em paz com Deus e com seus semelhantes. Aí caí na real de que, na prática, ainda não achei um lugar assim...

Encontro de “crente”... Você já participou de um? Não ria não! Talvez ainda venha a participar... A maioria, amigo, é de enlouquecer. Mesmo quando o propósito é lazer, fica devendo no que diz respeito a prazer. Não raro, até os que se propõem a tratar de coisas, supostamente, “espirituais”, por vezes, se tornam insuportáveis!

Ajuntamento de “crente” ou é para falar de ministério e movimento, ou para fofocar sobre o pecado de alguém, de preferência o do pastor. Se aparecer um tocador e um violão, aí a “reunião” “corre o risco” de virar “vigília de oração”, umas com muita gritaria, e pouca ou nenhuma unção; outras com uma infinidade de lamúrias e choramingos, e quase nada de gratidão.

Quem passar ao largo, ou olhar da esquina, logo verá que aquele encontro não tem nada a ver com um “Clube da Esquina”, pois ao invés de fomentar pacificação interior, quietude do ser e quebrantamento de alma, produz apenas fadiga mental e ressaca espiritual, pois até mesmo o sagrado, se for mal “processado”, só é capaz de gerar enfado e canseira.

Se você for sincero, talvez chegue à conclusão de que muitos dos nossos encontros têm sido terríveis! Uns o são pela total falta de propósitos, e outros pela ausência de direção. A impressão que tenho é que é reunião demais, para assunto de menos... Ou tudo é muito técnico, ou esvaziado de sensações, pois quando o rito vira mito, petrifica o coração, embaça os sentimentos e desfaz a razão.

Ah, como seria legal ter uns encontros diferentes, onde a gente pudesse tratar de qualquer outra coisa, menos de “papo de igreja”. Mas parece que falta-nos assunto e, por conta disso, caímos sempre na vala comum do “besteirol “religioso”. Não raro, fica tudo muito parecido com “papo” de fariseu. Em cartaz sempre está os bastidores da instituição, a “fofocalhada” do fulano que separou da mulher, a última bobeira que o pastor disse no púlpito, o ministério tal que deu uma mancada, e por aí vai... Um suplício sem fim!

E aqui, me permita deixar algo bem claro: não estou culpando nem criticando ninguém de coisa alguma! Quem quiser que ponha sobre si a carapuça! Os que me conhecem sabem que só prego a partir de mim e para mim mesmo. Se a mensagem, todavia, “atinge” a outros, não é obra minha, é coisa de Deus, portanto, se não gostar, entenda-se com Ele. Expresso aqui apenas a minha angústia materializada na alma, e essa em função de saber que, como membro desta “confraria”, posso fazer pouco, ou quase nada, para que isso mude...

Eu não sou santo não. Longe disso! E sei como a “máquina” funciona, já faz tempo. Mas confesso: estou cansado mesmo! A “coisa” toda está me fazendo muito mal. Se você quiser me ajudar, não me traga certas “notícias”, nem me procure para tratar questiúnculas de igreja... Não quero nem saber! O “crentês” me dá enjôo. E, para fechar com chave de ouro, ainda tem o diabo, que está em quase tudo que vemos ou fazemos. O “capeta” na “igreja” tem mais status e poder do que Jesus. Aí, “patrão”, não tem quem não surte!

Que tal se acabássemos com tudo isso! Vamos fazer um jejum, rasgar diante de Deus a alma e o coração, pedir perdão ao Espírito Santo por tanta insensatez, ter a coragem de desmantelar tudo o que construímos a partir de nós mesmos, para permitir que Deus possa, ainda que através de nós, construir o que Ele deseja.

Que tal repensarmos a nossa fé? Que tal repensar, até mesmo, a igreja?! Isso! Se nos afirmamos como “Reformados”, por que, então, não damos seqüência na “reforma”?! O que é mais importante: a Instituição ou o Reino de Deus? Promovermos um “Clube da Esquina”, que seja capaz de viabilizar encontros humanos para que a Graça seja manifesta aos caídos, ou investirmos numa “confraria de membros esquartejados” – mal quistos, mal resolvidos, e mal amados?

O que sei, é que na Parábola da Grande Ceia, em Lucas 14, depois da desfeita que os convidados fizeram ao Anfitrião – gente do “clero”, líderes de ministérios, professores da EBD, ministros de música, etc. – Ele mandou foi buscar nas ruas e becos da cidade toda gentalha expurgada da vida – cegos, coxos, pobres e aleijados – gente desgraçada, que se amontoava nos clubes da esquina, gente que a gente acha que não é gente, e é incapaz de entender que é justamente essa gente que Jesus quer fazer gente e que, se assim for, será gente bem melhor do que a gente é!

Igreja é um ajuntamento em torno da “mesa” de Cristo, pois só quem partilha do pão e do vinho é que pode entender que a proposta é para o refazer do ser e, a partir disto, desenvolver uma espiritualidade sadia, tendo como matiz as dores e perdas da existência, pois só por meio delas é que a alma ganha musculatura e peso de gravidade, uma vez que aprendeu, pela via da pacificação interior, que a justiça que justifica o justo procede apenas da fé.

Domingo passado preguei sobre a parábola do filho pródigo... Sempre que leio a história, fico encafifado por que o Pai, ao receber o filho, não fez um culto de ações de graças ou uma vigília de oração? Por que não promoveu um “louvorzão”, ou uma noite de testemunhos? Será que o escriba, quando registrou o texto, confundiu a expressão “fazer uma reza”, com “fazer uma festa”? Que nada! Foi “balada” mesmo, até o dia amanhecer! E tinha um motivo: “Este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido, e foi achado”.

Sinto falta deste tipo de encontro, desse “aroma” de festa. Se pudesse, criaria um “Clube da Esquina”, um “pedaço de chão”, sem dono, sem trono, em qualquer lugar, numa encruzilhada da vida, apenas para podermos conversar de forma leve, solta, expressar nossos sonhos, fracassos, perdas e alegrias... Bom seria se fosse um “ambiente” sem geografia, mas construído a partir da liberdade que é própria dos que amam a Deus, dos que estão fazendo o caminho enquanto o caminho vai se fazendo neles.

Deixe-me lhe fazer uma pergunta: você tem amigos na igreja? Amigos mesmo? De verdade? Pra qualquer “parada”? Em qualquer circunstância? No tempo bom e no tempo mau? Amizade que não se acabou quando você mudou de denominação, ou de paróquia, ou de endereço, ou de telefone, ou de gostos? Você tem? Você é que é feliz! Os poucos que eu tinha não enchiam nem uma mão. Hoje, sobram ainda mais dedos... Minha tristeza é saber que nem Cristo consegue, por vezes, unir as pessoas em torno de algo. E o pessoal de BH, do “clube da esquina”, continua sendo amigo até hoje...

Sonho com um “cantinho” onde fosse possível reunir gente boa de Deus. Um lugar onde reunião não tivesse que ser só de oração, pois, afinal, um cineminha, um teatro, ou um show de música não vai levar ninguém para o inferno! É “coisa do mundo”, eu sei, mas não é do outro mundo não, é deste aqui mesmo! “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou! Não se submetam, novamente, a julgo de escravidão!” Não esqueçamos que, por questões semelhantes a essas, nosso Senhor foi chamado de “glutão, beberrão, amigo de pecadores e publicanos”. Por isso, não se deprima não...

Para terminar o texto, pois já é madrugada, fiquei pensando que assim como Jesus, existencialmente, criou vários “Clubes da Esquina”, nós também poderíamos criar um! Uma coisa, todavia, não devemos esquecer: é que todo encontro, de dois ou três, feito em Seu Nome, ou seja, a partir da perspectiva dEle em nós, só tem significação se for realizado em verdade e amor, e só ganha propósito se puder construir no ser paz para a alma e bem para a vida.

O que for diferente disso, meu “mano”, nos levará apenas de volta à mesmice de sempre. Vamos continuar nos encontrando, e na nossa “mesa” pode até ter todo tipo de “figurão de igreja”, com assuntos dos mais “espirituais” possíveis, mais, ainda assim, será uma reunião totalmente dessignificada. Ao final, quando encerrarmos os “trabalhos” e formos pelo caminho para nossas casas, lembraremos, de forma melancólica, aquela velha canção do Sérgio Bitencourt “naquela mesa tá faltando “Ele” e a saudade “dEle” tá doendo em mim”. E essa ausência “parceiro”, faz toda diferença..

Sola Gratia !

Carlos Moreira

27 julho 2009

Sagrado e Profano?


Quando iniciei minha vida religiosa disseram-me que eu deveria priorizar sempre as coisas espirituais e deixar em segundo plano aquilo que fosse “secular” (mundano, não-sacro, não-espiritual). Ensinaram-me desde cedo que atividades como ir a igreja, ler a Bíblia e participar de cultos eram atividades de natureza espiritual, enquanto que outras como trabalhar, freqüentar a faculdade, visitar um amigo, assistir televisão e passear no shoping eram mundanas.

Quinze anos depois não acredito em nada disso mais. Essa segmentação do cotidiano, esse dualismo cartesiano com roupa cristã não corresponde aquilo que lemos na Palavra de Deus, nem muito menos ao que Jesus Cristo ensinou. Uma coisa é o que Deus fala, outra coisa é o que os homens dizem que Deus fala.

Em primeiro lugar, essa divisão arbitrária e equivocada feita entre sagrado e profano, levou muitas pessoas a desprezar atividades que, embora não revestidas de um caráter religioso imediato, no final acabam contribuindo para o bem estar espiritual e para a comunhão com Deus.

Em segundo lugar, a divisão feita entre atividades sagradas e profanas desvinculou a responsabilidade espiritual de esferas importantes da vida como trabalho, estudo, lazer e convivência com os amigos, resultando na formação de pessoas com dupla personalidade: uma para “usar” nos ambientes sacros e outra para uso “secular”. Pura esquizofrenia!

O terceiro resultado dessa ilegítima divisão entre sagrado e profano repercutiu diretamente na classificação dos pecados. Pecado e não-espiritualidade passou a ser sinônimo de ingestão de bebidas alcoólicas, tabagismo e sexo antes do casamento, enquanto que atitudes abomináveis diante de Deus como inveja, arrogância, fingimento, hipocrisia, injustiça e outras barbaridades geralmente não são consideradas faltas graves.

Enfim, não acredito nessa separação perniciosa entre sagrado e profano porque o dia-a-dia me ensinou que mesmo dentro de um templo os homens podem estar agindo carnalmente e movidos pelo diabo, mesmo usando a Bíblia, alguns indivíduos podem estar semeando a mentira; enquanto que às vezes a experiência mais simples do cotidiano pode revestir-se de intensa espiritualidade quando vivida com intenso amor e respeito ao próximo.

André Pessoa

Cabeleira do Zezé


Eu não era nem nascido quando, em 1963, a marchinha de carnaval “Cabeleira do Zezé” foi composta. Nesta época, no Brasil, o uso masculino do cabelo comprido não era aceito, motivo pelo qual a música foi escrita. A canção fez um sucesso extraordinário, sobretudo pelo bordão do refrão que dizia: “Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele!”.

Pois bem, acredite se quiser, mas esta semana eu ouvi uma história bizarra que me lembrou, dentre outras coisas, a “Cabeleira do Zezé”. Ë mais um “causo evangélico”, dentre tantos outros que tem me assustado. Deixa eu contar...

Um músico amigo, membro de uma igreja protestante tradicional, foi, como de costume, tocar no “culto de oração”. Menino novo, estiloso, cheio de pra-que-isso, trazia na cabeça um penteado maneiro, desses com trunfinha na frente, e o resto todo arrepiado. Demais!

Quando o brother estava afinando o seu instrumento, ávido por fazer aquilo que sente prazer na vida, louvar a Deus com coração agradecido, usando da melhor forma o talento que recebeu, a mulher do pastor se aproximou e lhe disse: “olha aqui, você não vai tocar no culto com este cabelo não, viu! E mais, isto é ordem do pastor! Se quiser participar da reunião, vá lá fora, arrume este penteado, e volte para cá”. O menino ficou assustado; os outros músicos, apavorados, mas ainda é possível se achar pureza e inocência em meio a este mar de hipocrisia e farisaísmo. Assim, o pobre coitado retirou-se, foi ao banheiro, e, mesmo contrariado, desmanchou o topete encapetado! Tá amarrado!

Lembrei dos Gregos... Eles entendiam a “sociedade apolínea” como aquela que reverenciava o padrão de perfeição como algo meramente estético, divinizando a medida da harmonia e da bela aparência, em detrimento dos princípios éticos e morais. Era o culto a forma, ou, conforme Nietzche, o “nada em demasia”. Jesus também tratou da questão do “existir para fora” em, praticamente, todos os seus sermões. Nas conversas e encontros humanos então, nem se fala. No episódio da “figueira sem fruto”, fica evidente sua indignação. Uma exegese simplista do texto nos mostra o cenário sob o qual se deu a “maldição da figueira”.

É domingo e o profeta de Nazaré da Galiléia, passando por Betfagé, se dirige a Jerusalém. Sua entrada na cidade é um acontecimento apoteótico e Ele, já do lado de dentro, se dirige, imediatamente, ao Templo. Numa demonstração de profunda contrariedade, derruba e quebra mesas, cadeiras, tabuleiros, e expulsa cambistas e outros comerciantes que ali se encontravam. O Templo de Herodes, diferentemente do que deveria ser, não era um lugar de sacrifícios pelos pecados e de culto ao Deus de Israel. Pelo contrário, ali existia um ambiente muito mais econômico do que religioso. Ao redor do templo, e mesmo dentro dele, havia toda sorte de comércio. Vendiam-se animais para sacrifício, comidas para ofertas e libações, fazia-se câmbio de dinheiro e outras coisas mais.

Na verdade, o que menos existia ali era culto a Deus. Naquele lugar mítico e, supostamente sagrado, se experimentava apenas o desenrolar de ritos estéreis, que não podiam produzir nenhum significado para o ser e, por isso, não geravam desdobramentos para vida. Era, na verdade, um estelionato da fé, uma hipocrisia da religião, um desdém do sagrado, uma banalização do divino e, certamente por isso, Jesus agiu da forma que agiu. As pessoas tinham aparência de piedade, mas eram vazias de conteúdos. Era, no fundo, uma falsificação barata...

Tão parecido com nossos dias... Passam-se os tempos, mas a falsidade e hipocrisia humana permanecem para sempre. Corta o cabelo dele! Tira o menino do momento de adoração porque o cabelinho do rapaz não está de acordo com o “padrão estético evangélico”. Besteira! Coisa de fariseu! Essa religião produz morte, e não vida! Tira o menino do louvor porque ele não está de conformidade com nosso “modelo de santidade”, como se espiritualidade tivesse a ver com plasticidade performática. Gente, isso é loucura!

Corta o cabelo dele, grita a multidão de “santarados” ensandecida! Muda por fora, pois, nesta dimensão de adoecimento da razão que dá legitimidade a fé, é impossível que o ser mude por dentro. Deixa parecer, mesmo sem ser. Não importa que o coração esteja afundado na amargura, nem que a alma sucumba em meio à intolerância, a maledicência e ao egoísmo. Não importa, nem mesmo, que a consciência cauterize-se pela via da presunção e do julgamento, pois, o que vale mesmo é o “estereotipo abestado” deste ser que existe apenas para si mesmo, não conseguindo discernir nem o outro nem a Deus. Tira a trunfa, grita a mulher do pastor! Faz um novo penteado, diz o “ministro” do sagrado! Este aí, é do capeta!

Fico pensando: o que podemos esperar de uma igreja que prefere a estética cultural de uma religião caduca, as verdades e valores que procedem de um coração pacificado pela graça de Deus em Cristo Jesus? Aonde mais poderemos chegar? Triste, irmãos, não tenho dúvidas, muito triste. Mas, como dizia o velho Chico, “a gente vai levando”...

Sola Gratia!

Carlos Moreira

25 julho 2009

Bob Esponja vai ao Culto


Introdução

Semana passada, quando entrei em casa, vi a Gabi se esbaldando de rir na sala. Curioso, entrei no cômodo e percebi que ela estava assistindo a um desenho do Bob Esponja. Sentei ao seu lado e comecei a assistir também. No episódio, Bob Esponja havia saído do mar para ir a terra seca e, por conta disto, estava desidratado, quase morrendo.

Bob Esponja é uma série televisiva, criada por Stephen Hillenburg, que é veiculada no Brasil pela Rede Globo. Bob é uma esponja do mar quadrada, amarela e que vive no fundo do Oceano Pacífico, numa cidade submarina. Ele é um sujeito bonachão e ingênuo, que mora num abacaxi e trabalha num restaurante.

Nos próximos parágrafos, vou fazer correlações entre esse episódio do Bob Esponja, o “crente de igreja” e a mentalidade consumista dos nossos dias. Agora, para você compreender o porquê de tudo isto, leia o texto até o final...

Decifra-me ou te Devoro

“O fim material de toda atividade humana é o consumo”. William Beveridge. O termo “sociedade de consumo” é muito utilizado por economistas e sociólogos para definir o tipo de civilização que se encontra num avançado nível de desenvolvimento industrial. Lendo um pouco mais sobre o assunto, você poderá facilmente observar que uma das críticas mais comuns sobre a sociedade de consumo diz respeito a sua incapacidade de resistir às pressões do sistema capitalista.

De forma sintética, o objetivo do capitalismo é transformar o desejo do indivíduo, como consumidor, no desejo da massa, multiplicando exponencialmente o potencial de consumo. Para obter esse “milagre”, dentre outras coisas, aplica técnicas de marketing, inovadoras e inteligentes, para produzir nas pessoas a “necessidade” de consumir o que elas precisam e, não raro, o que nem imaginavam ter.

Do meu ponto de vista, a questão já assumiu proporções desastrosas. Estamos sendo movidos pelo que chamo de “concupiscência dos olhos”, ou seja, um desejo desenfreado de possuir coisas, muitas das quais, sequer precisamos. Você entra no shopping para tomar um sorvete e sai com uma calça jeans, um forno microondas e um belíssimo tapete para a sala de jantar. E haja cheque especial para “segurar a onda”!

A impressão que tenho, sem querer ser místico, é que há uma potestade espiritual atuando por trás deste sistema perverso. Existe uma espécie de “overdose de desejos” sendo projetada, ainda que de forma subliminar, na mente das pessoas, nos planos das empresas, nas leis dos governos e nos objetivos das nações.

Olhe para o que está acontecendo no mundo! Do ponto de vista ambiental, por exemplo, temos hoje uma situação insustentável, pois, para podermos saciar o apetite da sociedade de consumo, estamos exaurindo os recursos naturais do planeta, além de despejar indiscriminadamente resíduos tóxicos que ameaçam, seriamente, toda e qualquer possibilidade de regeneração da natureza e dos elementos imprescindíveis à sobrevivência humana. Tal cenário, não é fruto apenas do vazio e egoísmo humano, mas de projeções psíquicas, articuladas por “camadas espirituais”, que visam fomentar desejos incontidos nos indivíduos, não raro, contra si mesmos.

Este capitalismo “selvagem”, que nos empurra na direção de estar sempre adquirindo bens e serviços, impregnou de tal forma a nossa consciência que, como “efeito colateral”, passamos a existir condicionados a essa “espiral de consumo”. Em função disto, todas as interações que fazemos com o meio são baseadas em fluxos de interesses, os quais sempre se movem em nossa direção, como se fôssemos buracos negros, atraindo para nós mesmos tudo o que gravita ao nosso redor. É por isso que achamos tão natural comprarmos coisas indiscriminadamente, usarmos pessoas despudoradamente e explorarmos o planeta até a sua total exaustão!

Cristianismo à La Carte

Buscando correlacionar as implicações dos fenômenos psicossociais de nosso tempo com a vida religiosa, comecei a analisar a relação que existe entre o “crente” e a “igreja”. De antemão, quero lhe afirmar que, em muitos casos, trata-se de uma relação tipicamente patológica, que tem como uma das características principais o “espírito de consumo”, ou seja, esse arquétipo de, em qualquer circunstância, buscar apenas tirar proveito e extrair o máximo possível.

Costumeiramente, a relação desse indivíduo – que passarei a chamar de “Crente Bob Esponja” – com a comunidade, é uma relação baseada no “abuse e use”, na troca desigual, no benefício próprio, no egoísmo, na acomodação, na lei do menor esforço, no “venha a nós e Vosso Reino nada”. Minha conclusão não está baseada apenas em estudos de caso do gabinete pastoral. Pelo contrário, trata-se de uma análise de campo respaldada por anos de observação, por estudos de modelos conceituais, por conversas, discussões, e pela experimentação prática de processos organizacionais, métodos e formas de estruturação eclesiológica.

A conclusão a que cheguei, para minha tristeza, é a de que o “Crente Bob Esponja” é um consumidor voraz! Uma simples análise, por exemplo, sobre como ele escolhe a igreja a qual irá pertencer, já revela clara e objetivamente o problema. Exposto a esse tipo de situação, o “Crente Bob Esponja” levará em consideração apenas aspectos que atendam as suas conveniências e bem-estar. Dessa forma, o local onde irá congregar precisa ter, pelos menos, as seguintes características: bom estacionamento, ótima localidade – prioritariamente perto de casa – segurança, ar-condicionado, boa música, escola dominical para crianças, berçário, excelente pregação – de preferência que não fale em dinheiro nem de aspectos da fé como cruz, renúncia ou sacrifícios – bons programas e movimentos, além de recursos multimídia, é claro!

Na verdade, a relação do “Crente Bob Esponja” com a comunidade é uma relação baseada apenas no receber, e nunca no dar. Ele imagina que a igreja tem como função primordial servi-lo, que os programas foram criados para entretê-lo, que a mensagem foi feita para animá-lo, que os outros membros existem para confortá-lo, e que o pastor presta-se, apenas, a atendê-lo. Tudo gira em torno dele, inclusive Deus, que está ali, de plantão, como se fosse um maître, a sua inteira disposição, para solucionar todos os seus problemas.

Para o “Crente Bob Esponja”, questões como: compromisso, renúncia ao conforto, abrir mão do descanso, sacrificar a agenda, abdicar regalias, empreender recursos financeiros, servir aos necessitados, estão totalmente fora de questão, pois invertem o fluxo “natural” das coisas, não permitindo que ele seja o “centro do universo”. Por isso a grande maioria das igrejas experimenta uma dinâmica funcional (20/80), ou seja, 20% dos membros sobrecarregados, atarefados com uma infinidade de programas institucionais, para manter satisfeitos os 80% restantes, que não se envolvem com absolutamente nada, pois querem apenas “consumir”.

“Arqueologia” do Culto Cristão

Não seria possível, nesta reflexão, analisar os desdobramentos desta questão em todas as instâncias da vida eclesiástica e institucional. Portanto, para poder aprofundar um pouco a discussão, resolvi circunscrever o tema há alguns aspectos da celebração do culto. Para tal, preciso lhe fornecer um brevíssimo resumo sobre a evolução do mesmo.

Quando olhamos para as expressões cúlticas da fé judaico-cristã, partindo do Antigo Testamento, até os nossos dias, percebemos, claramente, um avanço gradativo e conceitual. Antes de mais nada, para alinharmos saberes, quero fornecer-lhe a definição de James Stanley Moore sobre culto. Ele afirma que: “cultuar é vivificar a consciência da santidade de Deus, nutrir a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, e dedicar à vontade ao propósito de Deus”.

A primeira manifestação de culto nas Escrituras foi individual, através da oferta de sacrifícios em altares, no tempo dos Patriarcas. Na seqüência, surgiu o tabernáculo, que se constituía num “centro de adoração”, meticulosamente construído, com cerimônias simbólicas, sacerdotes paramentados, elementos litúrgicos, rituais de sacrifícios e expiação.

Com a construção do Templo de Jerusalém, iniciou-se uma nova etapa na vida do povo de Israel. As celebrações continuaram com seus aspectos rituais, acrescidas da música como elemento de adoração a Deus. Com a queda de Jerusalém, destruída pelos Assírios, e o consecutivo período do cativeiro babilônico, a alternativa encontrada pelo povo de Israel para a celebração do culto foi à construção de sinagogas, lideradas pelos anciãos, onde funcionavam escolas que ensinavam a guardar os preceitos e rolos das Escrituras, mas ali não se faziam sacrifícios.

No período neo-testamentário, com a irrupção da era apostólica, as reuniões e cultos foram gradativamente passando das sinagogas e do Templo para as casas, sobretudo por causa da perseguição e do martírio dos fiéis. As reuniões eram realizadas aos domingos, em função de ser o dia da ressurreição do Senhor, sem instrumentos musicais, mas com cânticos em uníssono. Nelas havia a oportunidade de se partilhar a fé com outros irmãos e celebrar a Ceia.

Nos séculos que se seguiram, o culto tomou formas mais elaboradas, com leituras, orações e pregações cada vez mais litúrgicas. Iniciou-se a veneração dos mártires, o batismo de crianças, e o estabelecimento dos sacerdotes como intermediários entre Deus e os homens.

Com a “conversão” de Constantino, no século IV, o cristianismo passou a atingir as altas classes da sociedade Romana, o que acelerou seu processo de institucionalização como religião estatal, demandando assim a elaboração de uma liturgia mais esmerada e a realização de cerimônias mais pomposas, com a presença de elementos protocolares, como incenso, vestimentas, gestos e procissões.

Na Idade Média, as igrejas tornaram-se enormes e ricamente ornamentadas, servindo tanto para o culto como para cemitério. As cerimônias eram cada vez mais suntuosas, acompanhadas pelo canto gregoriano, e as formas litúrgicas acabaram substituindo os seus significados. A partir deste momento, o culto passou a perder, de forma acentuada, os elementos mais preciosos que possuía, tornando-se assim uma celebração oca, baseada em ritos tolos, banais, dessignificados, esvaziados de sentidos para Deus e, porque não dizer, até para os homens.

A Reforma Protestante, no século XVI, tentou trazer algumas mudanças na estrutura do Culto, sobretudo em termos da liturgia, que passou a ser mais simples e objetiva. A música voltou a ter um caráter mais significativo, com o retorno do cântico congregacional, e a pregação do Evangelho passou a ser a parte mais importante dos ofícios divinos. De fato, algumas coisas mudaram, mas, em minha opinião, mudou muito pouco, sobretudo, porque não continuou mudando...

Igrejas Cheias de Pessoas Vazias

Nos dias atuais, quando olho para algumas celebrações da igreja, tenho a impressão de que Deus não está nelas! Sendo verdadeiro, se eu pudesse, em muitas ocasiões, também não estaria, ou, dependendo do “andar da carruagem”, tentaria me retirar de maneira incólume. “Culto”, no século XXI, se tornou algo tão despropositado e esvaziado de conteúdos que não é de admirar que a grande maioria das pessoas sinta calafrios só de pensar em ter que ir a um de nossos encontros. Faça o teste! Pergunte aos seus amigos, que não freqüentem igrejas, o que eles acham de um “culto” de igreja?! Você verá que o que eu estou lhe dizendo é a mais pura verdade.

Pensando sobre isso, lembrei do profeta Isaías: “não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene”. Quem está falando, não é o profeta não, mas o Deus do profeta! É a fala angustiada de alguém que está entediado com o culto que Lhe é prestado, pois ele se transformou numa reunião cansada, “mofada”, sem discernimento, entendimento, ou quebrantamento.

Não sei se você sabe, mas, durante 20 anos, servi a igreja como ministro de música. Uma das regras mais básicas para quem executa esta tarefa é estar sempre atento as reações das pessoas, pois o objetivo principal é conduzi-las a um momento de comunhão e adoração a Deus. Na teoria, essa “técnica” é maravilhosa. Na prática, entretanto, se tornou desastrosa...

A questão foi a seguinte: imagina você gastar tempo com Deus em seu quarto, orar, pegar seu instrumento, buscar se aperfeiçoar, ir ao ensaio, elaborar os arranjos, chegar mais cedo no culto, passar o som, motivar a banda e, na hora do “vamos ver”, encontrar uma igreja apática e sonolenta. Eu começava o louvor e 2/3 da congregação se quer havia chegado ao culto e, quando chegava, atrapalhava a mim, que estava dirigindo, e aos que estavam tentando adorar.

Mais trágico ainda é quando você está dando o melhor, e se depara com alguém a sua frente que, irreverentemente, está lendo o boletim, ou conversando com o vizinho, brincando com os filhos, ou, para a desgraça ser total, está dormindo! Por essas e outras, resolvi ministrar louvor de olhos totalmente fechados, pois, assim, nem via a “desgraceira” que estava acontecendo no meio do templo, e o povo ainda me achava super-espiritual!

Ora, tudo que não procede do interior do ser, não tem qualquer significado para Deus. É por isso que o “vinho novo”, ou seja, valores e verdade do Evangelho, não pode ser contido nos “odres velhos” da religião. Mais cedo ou mais tarde, arrebenta! Deus não está buscando freqüentadores de igreja, mas “adoradores que O adorem em espírito e verdade”. Não quer ouvir vãs repetições de credos, ou orações que mais se parecem com ladainhas, não deseja louvores mecânicos, nem ofertas materiais, que saíram do bolso, mas não procederam do coração.

Quebrando Paradigmas

Esses problemas não são novos; sempre existiram. Quando olhamos para algumas epístolas de Paulo, vemos claramente que o culto entre os cristãos primitivos também parecia estar perdendo o seu significado maior. No texto de Coríntios, por exemplo, existe forte ênfase do apóstolo quanto à disciplina necessária para se realizar os encontros. Na sua exortação, aparecem questões ligadas à irreverência, Ceia deturpada, maledicência, abusos, sectarismos, divisões, problemas morais, eclesiásticos e até doutrinários.

Na Idade Média, as questões eram outras, mas giravam em torno do mesmo eixo. O culto sofreu a adição de elementos do paganismo, surgiram doutrinas heréticas, como esmolas garantindo o perdão dos pecados, as ordenanças foram pervertidas, atribuiu-se poderes mágicos ao batismo, além de muitas outras distorções.

O resultado projetado de tudo isto foi o estabelecimento de uma religião adoecida, calcada numa espiritualidade totalmente desprovida de conseqüências para a vida. É por isso que o “Crente Bob Esponja”, herdeiro desta “fé”, acha que já faz muito freqüentando um culto de igreja. Ele entra pela porta, não raro atrasado, senta-se na cadeira, e prepara-se para “consumir” o que vier pela frente.

O “Crente Bob Esponja” não tem qualquer expectativa de participar ativamente de uma celebração. Na verdade, para ele, duas horas de culto são um verdadeiro tormento, por isso consulta tanto o relógio. Às vezes ele fica inquieto, sonolento, e se a pregação tiver mais do que 30 minutos, provavelmente, não voltará mais, pois isto lhe deixa profundamente entediado. Ele participa da Ceia do Senhor, mesmo sem compreender muito bem o que ela significa e, na confissão de pecados, pede displicentemente a Deus que o perdoe. Além disto, no momento do ofertório, que representa uma parte “crítica” da liturgia, sempre sai pela tangente, ou seja, ou vai beber água, ou se dirige ao toalete.

Diante de tudo isso, ainda há algo que possa ser feito? Há. Mas tem que se ter coragem. O ponto de partida, no meu entendimento, está associado à necessidade de quebrarmos um perigoso e antigo paradigma: que culto é um momento feito apenas para se receber, e não, prioritariamente, para oferecer!

No meu entendimento, esta inversão de valores talvez esteja associada à impregnação de nossa consciência pela “bendita” mentalidade consumista. Acredito também que, para nos libertarmos do problema, precisamos passar por uma espécie de “quimioterapia doutrinária”, ou seja, uma overdose de verdades das Escrituras sendo inoculadas em nossa mente e coração para quebrar os conceitos e valores equivocados nos quais acreditamos.

Vejamos, então, o que diz as Escrituras: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”. 1ª Co. 14:26.

Paulo está falando sobre a celebração do culto. Não me parece ser um encontro onde tudo já está pronto, e os ouvintes vão para lá apenas para ser “atores” coadjuvantes, espectadores imparciais ou “consumidores” passivos. Não! Ele nos aconselha a fazer a celebração de forma participativa, para que cada membro do Corpo possa contribuir com aquilo que o Senhor tem lhe dado, na intimidade da oração, nos momentos devocionais, nas experiências de livramento, no aconchego frente à dor da perda, na gratidão pelo perdão imerecido, na alegria decorrente da certeza da vitória, na paz que conforta o coração quebrantado. Creio ser esta a dinâmica que Deus deseja se, de fato, pretendemos cultuá-lo!

Ora, isso é possível? É! Mesmo que sua igreja seja litúrgica, como a minha, isto pode ser feito! Sim, o culto não precisa ser realizado apenas pelos sacerdotes! O culto é o somatório da oferta de dons e talentos de todo o povo de Deus! E mais, o melhor momento do culto, é o culto, ou seja, cada parte é singular naquilo a que se propõe. Creio firmemente que é possível desenvolver uma liturgia livre, não obstante ordenada, espontânea, não obstante organizada, de tal forma a conceder ao Espírito de Deus a liberdade que Ele deseja para agir poderosamente em nosso meio.

Portanto, quebre os paradigmas! Vá ao culto querendo contribuir com algo! Peça para dar um testemunho, ou para fazer a leitura de um texto. Ore por quem está ao seu lado, bata palmas no louvor, ajude a receber os que estão chegando, ou, quem sabe, a arrumar o templo, operar o datashow, contribuir com a montagem do som, distribuir o boletim, etc. Há tanta coisa que você pode fazer! Então, por que não faz? Quer começar com algo importante? Que tal chegar na hora?

A Conversão do “Crente Bob Esponja”

Chegou à hora de voltar ao Bob Esponja! No episódio que estava vendo com a Gabi, o pobre coitado se encontrava à beira da morte, pois estava na terra e precisava, desesperadamente, voltar para o oceano. A questão é que a superfície epitelial esponjosa do Bob é capaz de captar toda a água que ele necessita para estar bem e confortável. Na terra seca, entretanto, isso não é possível. Assim, por conta do calor do sol, ele começou a ficar fraco, dispnéico, quase perdendo os sentidos. Não tivesse voltado para o mar, certamente teria morrido.

Quando o episódio acabou, em meio às gargalhadas da Gabi, saí pensando sobre a semelhança que há entre o Bob Esponja e o “crente de igreja”. É que ambos são bonachões, ingênuos, e precisam de sua “zona de conforto” para sobreviver. Se você tentar tirar o “crente de igreja” de seu habitat natural, que é o banco da igreja, ele começará a passar mal e ficará sem fôlego. Sua “rotina eclesiástica” já está definida e, por isso, você não deve dar-lhe qualquer atribuição ou desafio, pois isso pode, simplesmente, “matá-lo”!

Não pense que será possível, a não ser que o “Crente Bob Esponja” se converta, tirá-lo do seu “oceano” de confortos e regalias, para botar a “mão na massa”. É que, via de regra, é mais fácil ele morrer totalmente desidratado, ou seja, esvaziado de significados para viver a existência, sobretudo pela aridez de sua relação com Deus, que foi apenas capaz de produzir uma religiosidade esturricada, do que se lançar em fé e amor numa comunhão íntima e prazerosa com o Pai, fruto de uma disciplina constante baseada em oração e adoração, que é o “culto racional”.

Creio que se isso não acontecer, ou seja, uma transformação de dentro para fora, o “Crente Bob Esponja” continuará a viver nesse grande “abacaxi” que se tornou a sua vida, assim como o personagem do desenho também vive num. A conseqüência disto é que ele será eternamente criança, ingênuo, praticando uma fé desprovida de propósitos, uma espiritualidade esvaziada de sentidos, um cristianismo apenas de retórica. Poderá ir aos cultos, ou até freqüentar outras reuniões de igreja, porém, quanto mais fizer isso, mas “seco” se tornará!

Não se esqueça, todavia, que Deus é poderoso e pode, num momento de crise, quando o “Crente Bob Esponja” estiver “agonizando” em “terra seca”, se usufruir da situação para levá-lo a ter um encontro que mude, de forma definitiva, toda a sua vida, ressignificando assim os seus dias. Por isso, nunca desista dos “Bob Esponjas” de sua comunidade, pois amanhã, quem sabe, um deles poderá se tornar até o pastor da igreja! Comigo foi justamente assim...

Conclusão

Certa vez, conversando com um pastor amigo, alguém já calejado no ministério, ouvi o seguinte: “rapaz, às vezes eu me sinto como se fosse um animador de auditório, ou um palhaço de circo, tentando motivar as pessoas para que elas prestem um culto com o mínimo de significados para Deus. Me esforço, faço “malabarismos”, “pirotecnias” e tudo o mais, contudo, confesso: é difícil...”. Achei a afirmação curiosa, sobretudo, porque essa é a impressão que tenho, por vezes, quando estou celebrando cultos. Sinto-me como se estivesse com uma enorme mangueira, jogando água sobre uma multidão de “Bob Esponjas”. Dá para entender?!

Sonho em ver uma igreja transformada pelo Espírito Santo, com pessoas que entenderam o significa que há em oferecer um culto a Deus. Sonho com homens e mulheres que desejem ir além do banal, do corriqueiro, que professem uma fé que não seja apenas verborragia, que pertençam a uma comunidade que não seja uma sacola de membros esquartejados, que possuam uma consciência apaziguada em fé, sem julgamentos, presunções ou disfarces. Sim, como Martin Luther King, eu também tenho um sonho...

Contudo, sei que para chegar até este ponto, muita “borracha” ainda tem que ser queimada. Digo isso porque creio que o concerto na Casa de Deus começa pelos pastores e líderes, por aqueles que influenciam pessoas, tomam decisões, exercem autoridade e ensinam a Palavra. Chegou à hora de chamarmos para nós mesmos a responsabilidade de produzir, nesta geração, arrependimento e quebrantamento, enquanto ainda há tempo. Façamos como fez o profeta Amós, quando afirmou: “prepara-te ó Israel para te encontrares com o teu Deus”!

Quanto a mim, a impressão que tenho é que quanto mais rezo, mas assombração me aparece! Por isso, não ficarei assustado se, qualquer dia desses, quando estiver entrando na igreja para celebrar o culto, encontrar entre os presentes o Mickey Mouse, o Pato Donald, o Zé Colméia e o Pernalonga. É que eu já vi tanta esquisitice em igreja que, uma a mais, uma a menos, não vai fazer qualquer diferença...

Agora, medo mesmo vou ter se alguém da comunidade, querendo ser hospitaleiro e cordial com essa turma, se arriscar a perguntar a um deles o que estão fazendo ali. Sim, é que eu tenho a nítida impressão que a resposta será algo do tipo: “viemos hoje aqui porque nos disseram que o “Pateta” iria pregar!”. É, amigo, não se iluda não, por vezes, pastor parece mesmo é com pateta! Durma com um barulho desses...

Sola Gratia !

Carlos Moreira

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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