Desde tempos imemoráveis os soberanos ávidos por poder se fizeram confundir com os deuses e construíram obras gigantescas para se imortalizarem através delas e demonstrarem autoridade. As pirâmides do Egito e os zigurates da Babilônia, mais do que mostrar a grandeza dos deuses queriam expressar o poderio dos governantes que se diziam representantes das divindades.
O viajante abismado que olhava para o cume da pirâmide ou se admirava com as colunas do templo eram remetidos imediatamente aos seus construtores. Alturas indizíveis e pesados blocos de pedra sempre iludem os sentidos e engana os corações dos sugestionáveis.
Jesus Cristo nunca se deixou levar pela falsa suntuosidade das construções externas. Certa vez quando os seus discípulos maravilhados com a grandiosidade arquitetônica do templo de Jerusalém se mostraram fascinados por aquela colossal construção, ele simplesmente afirmou: “não ficará pedra sobre pedra”. Aquilo que o homem constrói fora dele mesmo sempre acaba e vem abaixo!
Em outra ocasião quando se encontrou com uma mulher da região de Samaria que o perguntou qual o lugar certo para cultuar a Deus se em Jerusalém (onde ficava o templo judeu) ou no Monte Gerezim (local do templo samaritano), o humilde carpinteiro lhe respondeu que em nenhum dos dois, pois Deus não estava interessado em freqüentadores de lugares religiosos, mas naqueles que o adoram em espírito e em verdade. Pedra, tijolo e cimento para o nazareno nada significavam.
A igreja universal e o voraz bispo Macedo anunciaram há poucos dias atrás a construção em São Paulo de uma réplica do templo judeu de Salomão que será construído com o dinheiro recolhido da oferta de milhares de fiéis que julgarão estar contribuindo com um fictício reino de deus que não passa, nas palavras do próprio Salomão, de pura vaidade.
A obra custará 350 milhões e terá proporções tão avantajadas que, segundo o próprio bispo Macedo, se tornará ponto turístico e superará até mesmo o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. A altura do templo será de um prédio de dezoito andares e a nave principal terá lugar para 10 000 pessoas sentadas. Haja cadeira...
O templo será totalmente climatizado, acho que para os demônios que o freqüentarão nas cerimônias do Descarrego não sentirem calor e nem os fiéis associarem o lugar com o inferno. Aliás, pelo tamanho da construção podemos deduzir que a conta de energia não será muito modesta. Bom, dinheiro é o que não falta. “A verba se fez carne!”.
O bispo Macedo, movido pelo mesmo sentimento do imperador romano Nero que tocou fogo em Roma para depois se imortalizar na sua reconstrução, quer com esse empreendimento faraônico perpetuar o seu nome cujos escândalos e exploração da fé já fizeram bastante conhecido em nosso país. Através de uma estupenda obra megalítica cujo cimento será o sangue do engano vertido pelos fiéis ignorantes e desavisados o referido “homem de deus” deseja perpetuar-se na memória do povo brasileiro.
Movidos pela fé (ainda que seja uma fé ilusória e fútil) os seres humanos são capazes dos mais absurdos e irracionais sacrifícios. Motivadas por uma pretensa espiritualidade e moldadas pelos apelos sórdidos de um homem inescrupuloso e imoral, milhares de pessoas serão capazes de contribuir até mesmo com a roupa do corpo com aquilo que erroneamente acreditam ser obra de deus. Entretanto, a verdadeira obra de Deus está dentro de cada um, e não fora!
Edir Macedo, seletivo que é na hora de escolher os trechos da Bíblia com os quais engana os incautos, não cansa de referir-se a glória do antigo templo judeu e compará-lo com o futuro templo da universal, lugar onde a shekiná (presença) do altíssimo se manifestará. Eis aí outro crime contra a espiritualidade humana, circunscrever as ações de um deus que os fiéis dizem ser livre e soberano à geografia do sagrado, a um único lugar que não passa de uma mera construção humana que por mais bela que seja é só concreto. O verdadeiro Deus odeia templos por que estes são prisões que tentam detê-lo!
Os templos sempre corrompem os homens por que despertam neles um orgulho que nada tem a ver com o deus a quem dizem seguir. No cimento e no tijolo há corrupção. As paredes de um templo são como os limites de um túmulo e o telhado da igreja como a tampa de um caixão. Queira o próprio Deus que se cumpra a profecia do Cristo e que venham abaixo estes símbolos de perversão!
André Pessoa via profandrepessoa.blogspot.com