Desde cedo envolvido com a navegação,
Cristóvão Colombo realizou suas primeiras viagens em Gênova, norte da Ítala.
Durante 10 anos estudou na biblioteca do sogro sobre rotas marítimas e
desenvolveu suas crenças na existência de novas terras. Convencido de que nosso
planeta era esférico, propôs aos reis da Espanha uma viagem inusitada e, em
1485, eles resolveram acreditar no seu projeto.
Naquela época, não só Portugal, mas
outras nações buscavam uma passagem marítima para o Oriente, com vistas a
poderem comercializar diretamente com a Índia. E foi assim, guiado por este
espírito empreendedor que Colombo, em 12 de outubro de 1492, descobriu a
América, aportou no “Novo Mundo”.
O que esta ilustração do navegador
genovês tem a nos dizer? Muito, sobretudo em tempos em que as pessoas deixaram
completamente as Escrituras – mapas – e passaram a “navegar” em mares revoltos,
levados por embarcações de “bandeira” duvidosa, sendo guiadas por “piratas”
roubadores.
“Lâmpada
para os meus pés é a tua Palavra; luz para os meus caminhos”. Sempre
acreditei que a Bíblia é uma bússola capaz de nos conduzir por todo tipo de
rota, mesmo as mais perigosas. Ela pode livrar-nos das tempestades, dos
rochedos, das correntes, bancos de areia e outras desventuras que levam muitas
“embarcações” as ruínas.
Francamente, só posso comparar o
tempo atual com a era das trevas da idade média. Nesta fase negra do cristianismo, os livros, e com eles as Sagradas Escrituras, eram de acesso
restrito ao clero, ficando guardados em conventos e monastérios. Isto
obviamente tinha um propósito: manter a população ignorante, pois assim era
mais fácil ela ser manipulada para crer em mitos, dogmas e outras superstições
sem qualquer questionamento. Melhor para a “igreja”, que dominava não só a
religião, mas também a política; mandava no “reino dos céus” e nos reinos da
Terra!
A “farra”, todavia, terminaria em
1517, com a Reforma Protestante. Marinho Lutero, o pioneiro “contraventor” e
proponente das principais mudanças, tinha como uma de suas principais
preocupações colocar a Bíblia nas “mãos do povo”. Assim, traduzida para o
vernáculo alemão e, impulsionada pela imprensa de Guttemberg, as Escrituras em
pouco tempo já podia ser lida em inglês, francês e espanhol.
Passados alguns séculos, com o que nos deparamos? Caos! O esforço de milhares de pessoas que deram suas vidas
para que exemplares da Bíblia pudessem chegar até nós é tratado com desdém e
desprezo pela grande maioria dos cristãos. Como pastor, já me acostumei a ver as
famílias chegando à igreja sem que nenhum de seus membros traga nas mãos um
único exemplar que seja das Escrituras.
Este afastamento, obviamente, trouxe
conseqüências. E quais são elas? Uma legião de incautos, de ignorantes
espirituais, bebês necessitados de leite, pessoas facilmente manipuladas e
levadas por qualquer “vento de doutrina”. Ora, não há cenário mais favorável
para florescer todo tipo de heresia e seitas as quais movem milhares de pessoas
em torno de seus interesses econômicos, off
course! Manipular o sagrado sempre foi um excelente negócio e os “piratas
do caribe” sabem muito bem do que estou falando...
“Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não
precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é
verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele
como ele os ensinou”. 1ª Jo. 2:27.
Este é um dos textos da
Bíblia mais mal interpretados que eu conheço. Sobre ele já vi todo tipo de
esquisitice: há os que afirmam que só pessoas batizadas no Espírito Santo
conseguem entender a Bíblia; outros dizem que agora já não precisam mais de
mestres nem de quem os ensine, pois são capazes de entender qualquer coisa. Eu,
todavia, afirmo como diria Aristóteles, “a sabedoria está no centro”...
Se você prestar atenção ao texto
todo, verá que o problema é facilmente resolvido. Veja o verso 24: “Quanto a vocês,
cuidem para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês...”. Ou seja, João está afirmando que ambas as coisas são
importantes: o ensino que é transmitido pelos “mestres” da igreja, e também a
unção do Espírito nos guiando a verdade através da revelação das Escrituras.
Mas o que temos hoje? Temos o show da
fé! Temos o banho de sal grosso! A água do Jordão! A sessão do descarrego! As
maldições hereditárias, “curas interiores”, rosa ungida, pseudo milagres,
catarse como manifestação de adoração, fanatismo como prática
institucionalizada, cegueira como meio de se perceber a “verdade”, consciências
cauterizadas, ouvidos tapados, olhos vendados. Chega de tudo isto! Não siga mapas. Faça mapas!
Na minha opinião há três fatores que
corroboram para o cenário atual: (1) a acomodação da grande maioria dos
cristãos, que delega aos seus líderes a condução de suas vidas e a atribuição
de toda a responsabilidade a eles por aquilo que devem ou não fazer; (2) o
eterno jogo de empurra, ou seja, a falta de disciplina para uma leitura
sistematizada e profunda das Escrituras, uma vez que isto leva tempo, exige
local adequado, material de apoio, etc.; (3) o retorno ao clericalismo
medieval, que nada mais é do que pastores e líderes acharem-se os únicos capazes
de ler e interpretar a Bíblia, passando para o povo aquilo que eles acreditam
ser a “verdade”.
Identificar as causas é fácil;
corrigir o problema não. Aliás, a solução passa por um conjunto de ações que
levam tempo e exigem esforço para ser implementadas. Deixar este tema para
depois é investir no total desaparelhamento da liderança leiga das igrejas, no
desmantelamento das EBD´s, no esvaziamento dos discipulados ou pequenos grupos,
e na falta de interesse dos crentes a freqüentar cultos de doutrina ou
atividades correlatas.
Não sei se você já notou, mas existem
muitos “navios piratas” navegando nos mares por aí. Sua bandeira não é a cruz,
mas a caveira, seus comandantes não são pastores, mas lobos vorazes, seu desejo
não é o de desvelar “tesouros” para a alma, dádivas para o coração, bênçãos
para o ser. Muito pelo contrário, eles estão atrás de ouro, prata e bronze! Por
isso, cuidado com a carteira! Quanto a mim, já tomei minha decisão: vou ficar
bem longe de tudo isto... Tenho medo de ser fotografado ao lado dessa gente, como
se fosse “papagaio de pirata”. Credo!
Carlos Moreira
Carlos Moreira