É difícil, no meio profissional, você fazer amizades. E falo de amizade mesmo, cara brother, não apenas parceiro, por causa de oportunidades pois, como se sabe, colega, todo mundo tem... E quando o seu mercado é muito competitivo, a coisa fica ainda mais improvável. Não raro, é neguinho querendo lhe passar a perna, ocupar o espaço que nem se sabe se seria seu.
Nessa impossibilidade, sobram, no meu caso, os “amigos” de igreja. E aqui não vai uma crítica a ninguém e, por favor, se você conviveu comigo nestes últimos 30 anos, não se magoe nem tome o texto como uma indireta. Na verdade, a coisa é muito pessoal, acontece comigo, mas, tenho absoluta certeza, jamais acontecerá com você. A minha leitura dos fatos, em definitivo, não implica em eu ter razão, mas me dá o direito de sentir assim.
Amigo de igreja é foda... Não sei, mas tenho a impressão que esse tipo de relacionamento, que tem como pano de fundo a religião, parece que trava as pessoas. E no meu caso, que sou pastor, que vivo na “vitrine”, pregando, aconselhando, ensinando, visitando e assistindo pessoas, a coisa torna-se ainda mais artificial.
O “amigo” de igreja é um amigo temporal. Sim, a amizade nascida na ambiência do “sagrado” não resiste à mudança de lugar, de denominação, de convicções. Crente tem de pensar tudo igual, como se fosse produção em série. A divergência provoca um tipo de náusea existencial que, mais cedo ou mais tarde, expurga o indivíduo da confraria.
Outra coisa incômoda, no “amigo” de igreja, é que ele só quer falar sobre temas “espirituais”. Fica pior quando você carrega esse status de “guru-pastor”. Aí é ainda mais traumático. Crente, quando se junta, tende a só querer tratar de doutrina, até mesa de bar vira púlpito, e uma fala mansa logo se transforma em desfile de homiléticas toscas e exegeses de gaveta.
Para ser sincero, tem certos assuntos, em roda de “amigo” de igreja, que parecem ser proibidos. Eu penso que, no fundo, ninguém quer se expor. Quem vai falar intimidades, ou fraquezas, nesse meio? Mazelas, então, nem pensar! Em roda de crente, tem que se manter a “ordem e a decência” afinal, cada um quer preservar a sua postura incólume. Aí tudo fica pálido e plástico, você sufoca de tantas amenidades.
É curioso, mas existe certa dificuldade de encontrar um “amigo” de igreja que vá num bar, num campo de futebol ou numa boate. Crente gosta de encontro, de seminário, de acampamento e de reuniões, muitas reuniões... Além do mais, pela enorme bitolação, as falas são sempre dietéticas, será, então, improvável uma reflexão sobre política ou poesia.
O “amigo de igreja”, desgraçadamente, também é pouco sensível. Isso, me parece, está ligado às questões do platonismo cristão, que dissociou a vida espiritual da vida material. As pessoas choram no louvor, mas não conseguem se aperceber que, ao seu lado, há alguém deprimido. Triste, mas as coisas sensíveis ficaram todas no mundo das idéias, e aí, solidão, medo, ansiedade e dor, sentimentos do mundo real, de gente de carne e osso, e não apenas de mente e espírito, acabam passando despercebidos.
Eu fico pensando como seria uma igreja com gente boa de Deus, sem frescuras, sem intrigas, sem melindres. Um lugar de encontro humano, de carinho, de partilha, de abraço. Sim, um “Clube da Esquina”, numa esquina qualquer da vida, onde dois ou três se juntassem para celebrar, dar risada do trágico, citar poetas, discutir futebol, criticar político safado, coisas que bons amigos fazem quando se encontram.
Se você tem amigos "do mundo", sugiro preservá-los. Eles podem não ter pedigree espiritual, mas são ótimos em dias nublados e noites frias. Amizade, não implica religiosidade, um bom ateu, que lhe diga verdades agudas e seja solidário na dor, terá mais serventia que um "irmão" que lhe saúda com a paz no domingo e lhe dá as costas na saída do "culto".
Quem sabe chegará um tempo onde a igreja terá a mesma devoção pelo humano que tem pelo divino. Sim, eu penso que isso não só é preciso, mas também possível, afinal, amar a Deus sobre todas as coisas só faz sentido quando se ama ao próximo como a si mesmo.
Carlos Moreira
Nessa impossibilidade, sobram, no meu caso, os “amigos” de igreja. E aqui não vai uma crítica a ninguém e, por favor, se você conviveu comigo nestes últimos 30 anos, não se magoe nem tome o texto como uma indireta. Na verdade, a coisa é muito pessoal, acontece comigo, mas, tenho absoluta certeza, jamais acontecerá com você. A minha leitura dos fatos, em definitivo, não implica em eu ter razão, mas me dá o direito de sentir assim.
Amigo de igreja é foda... Não sei, mas tenho a impressão que esse tipo de relacionamento, que tem como pano de fundo a religião, parece que trava as pessoas. E no meu caso, que sou pastor, que vivo na “vitrine”, pregando, aconselhando, ensinando, visitando e assistindo pessoas, a coisa torna-se ainda mais artificial.
O “amigo” de igreja é um amigo temporal. Sim, a amizade nascida na ambiência do “sagrado” não resiste à mudança de lugar, de denominação, de convicções. Crente tem de pensar tudo igual, como se fosse produção em série. A divergência provoca um tipo de náusea existencial que, mais cedo ou mais tarde, expurga o indivíduo da confraria.
Outra coisa incômoda, no “amigo” de igreja, é que ele só quer falar sobre temas “espirituais”. Fica pior quando você carrega esse status de “guru-pastor”. Aí é ainda mais traumático. Crente, quando se junta, tende a só querer tratar de doutrina, até mesa de bar vira púlpito, e uma fala mansa logo se transforma em desfile de homiléticas toscas e exegeses de gaveta.
Para ser sincero, tem certos assuntos, em roda de “amigo” de igreja, que parecem ser proibidos. Eu penso que, no fundo, ninguém quer se expor. Quem vai falar intimidades, ou fraquezas, nesse meio? Mazelas, então, nem pensar! Em roda de crente, tem que se manter a “ordem e a decência” afinal, cada um quer preservar a sua postura incólume. Aí tudo fica pálido e plástico, você sufoca de tantas amenidades.
É curioso, mas existe certa dificuldade de encontrar um “amigo” de igreja que vá num bar, num campo de futebol ou numa boate. Crente gosta de encontro, de seminário, de acampamento e de reuniões, muitas reuniões... Além do mais, pela enorme bitolação, as falas são sempre dietéticas, será, então, improvável uma reflexão sobre política ou poesia.
O “amigo de igreja”, desgraçadamente, também é pouco sensível. Isso, me parece, está ligado às questões do platonismo cristão, que dissociou a vida espiritual da vida material. As pessoas choram no louvor, mas não conseguem se aperceber que, ao seu lado, há alguém deprimido. Triste, mas as coisas sensíveis ficaram todas no mundo das idéias, e aí, solidão, medo, ansiedade e dor, sentimentos do mundo real, de gente de carne e osso, e não apenas de mente e espírito, acabam passando despercebidos.
Eu fico pensando como seria uma igreja com gente boa de Deus, sem frescuras, sem intrigas, sem melindres. Um lugar de encontro humano, de carinho, de partilha, de abraço. Sim, um “Clube da Esquina”, numa esquina qualquer da vida, onde dois ou três se juntassem para celebrar, dar risada do trágico, citar poetas, discutir futebol, criticar político safado, coisas que bons amigos fazem quando se encontram.
Se você tem amigos "do mundo", sugiro preservá-los. Eles podem não ter pedigree espiritual, mas são ótimos em dias nublados e noites frias. Amizade, não implica religiosidade, um bom ateu, que lhe diga verdades agudas e seja solidário na dor, terá mais serventia que um "irmão" que lhe saúda com a paz no domingo e lhe dá as costas na saída do "culto".
Quem sabe chegará um tempo onde a igreja terá a mesma devoção pelo humano que tem pelo divino. Sim, eu penso que isso não só é preciso, mas também possível, afinal, amar a Deus sobre todas as coisas só faz sentido quando se ama ao próximo como a si mesmo.
Carlos Moreira